25 outubro 2011

«É tão fácil apoiar o Porto, mas é diferente ser do Porto»

Felicito o grande capitão Helton pela expressão, se não transcrita com todo o rigor pelo menos o entendimento dela feito de forma clara, na Gala dos Dragões de Ouro, no Coliseu, que ouvi em cima da hora quando sintonizei o PortoCanal.

Resume tudo e mais alguma coisa mas que, como é costume, muitos não entenderão até por se julgarem mais portistas que os outros sem saberem como tantos fizeram a travessia do deserto quando não havia títulos mas o apoio nas Antas não desfaleceu nunca e a mim, desde 1972, me fez portista para sempre.

Tudo rematado com a apoteose do abraço amigo, sincero, paternal de Pinto da Costa a André Villas-Boas, para desfeita dos talibãs sem distinguirem carreira profissional incontornável do amor ao clube inalienável, foi o suficiente para me deixar alegre. Com o "portismo sempre presente" como no ano de ouro 2010-2011.

Mas com AVB a fazer meia poesia com o exaltado discurso do seu coração de indefectível portista, daqueles a quem o Helton se refere de ser Porto e ter gravado na memória os ecos das Antas como André os citou (bilheteiras, torniquetes, arquibancada) sem ele mesmo ter sequer conhecido o antigo peão em vez da dupla tribuna nascente ou a pista de cinza onde Aurora Cunha se iniciou, a cerimónia ficou preenchida.

Vi poucos mais momentos para além desses: o reconhecimento eterno ao senhor Ilídio e ao Pôncio e o incentivo ao senhor Celestino que conheci há tantos anos, entre outros Dragões de Ouro. Não aprecio desfiles, passarelas e plateias chiques, sem cachecóis nem vontade de cantar pelo Porto, e a ver as antigas galerias (superiores) vazias (porquê?) no Coliseu de tantos filmes de antigamente, gentes que fazem muito lembrar o pessoal das pipocas e pizas no Dragão... Por isso, para não entrar por pormenores que pessoalmente nada me dizem como cantantes a caché e políticos do poder que está, que não têm nada a ver com o espírito da noite que Helton e AVB sintetizaram, fico como sempre com os melhores momentos.

E, com o cenário de fundo preenchido pelas mais belas e distintas taças que celebrámos imensamente, a ocasião de rever um André que sempre foi dos nossos e o Helton que tão bem defende a nossa baliza ou o Reinaldo Ventura a caminho do 11º título do hóquei... para mim basta. 

18 comentários:

  1. Parabéns pelo excelente artigo!
    Bem haja o "Porto Canal".
    Como dizia alguém: "Foi bonita a festa pá!..." apesar da surpreendente presença de políticos que nas horas menos boas tão arredados andavam! Mas fiquemos pelas coisas boas!
    Apenas um senão no artigo: o esquecimento do antigo peão, onde comecei a ver os jogos e da pista de ciclismo que mais tarde viria a ocupar o seu lugar e que tantas alegrias me deu!

    ResponderEliminar
  2. nasci num ano auspicioso: 1959.

    Fui Porto,na zona do Oeste, durante a meninice e adolescência, passando pela (única) idade de ouro benfiquista.

    Só vi o "meu" Porto ganhar em 1978, prestes a completar 19 anos de idade. Enfim, sem contar a Taça andava eu na Primária. Mas lembro-me que não faltou quem desvalorizasse desde logo essa Taça. O rasteirismo já vem de longe.

    Ainda hoje dou por mim a pensar que genética me transportou para os braços do Dragão, tão longe do Porto-Cidade e sem nunca ter visitado as Antas nessa época, ainda por cima num contexto de asfixiante hegemonia benfiquista.

    Ainda hoje me pergunto o que levou um puto, a ultrapassar incólume os anos sessenta de Eusébio e optar por ser fan de Cubillas, Murça, Gabriel, Lemos cujos nomes só conhecia dos relatos dos jogos pela telefonia. Confesso que a minha principal memória já é da decada de 70. Que nos anos sessenta era muito miúdo ainda. Em todas as turmas da Escola que frequentei eu era o único "do Porto". E levei porrada por isso. O rasteirismo já vem de longe.

    Não sei se este historial me dá o direito de ser Porto. Mas é exactamente assim que me sinto, que nestas coisas de alma cada um de nós emite o respectivo diploma.

    è por isso que por vezes deixo aqui um abraço aos portistas que por aqui passam: é que existe algo que nos une (e comove) para lá da equipa de futebol.

    ResponderEliminar
  3. Hulk, o antigo peão era mesmo e só a bancada de madeira (encimada pelo placard do totobola) no grande espaço aberto onde depois se ergueu a arquibancada, a chamada Maratona. Há uma coisa do género no Jamor, naquele espaço aberto para a praça exterior ao estádio e que leva uma pequenina bancada baixa de madeira.

    O peão de que falas acho que surgiu depois, e ocupava a pista de ciclismo que lembro bem porque assisti a algumas provas e desfiles. Mas esse sector ficava abaixo das superiores onde eu tinha lugar e quase não dava por esse espaço, daí eu tê-lo ignorado. Mas não deixas de ter razão e simplesmente fizeste-me lembrar disso.

    ResponderEliminar
  4. O ser Porto, carneiro, é ter vivido essas épocas de vacas magras e muitos outros antes de nós que penaram ainda mais. Tivemos a noção do crescimento e desenvolvimento, quer do espaço das Antas quer do clube, quer da existência do jornal do clube (desde 1949) e do qual o meu pai era assinante ou da passagem do antigo pavilhão PM ao novo Américo e Sá. E, sim, era estar muito em inferioridade na escola, sempre estive no Porto (nasci e cresci) e na minha turma não havia muitos portistas...

    ResponderEliminar
  5. Eu refiro 72 pela data do meu primeiro jogo lá, que em breve evocarei agora com a certeza da data rebuscada num novo livro que muito diz. Mas já antes sabia o que era o portismo e em Janeiro aqui evoquei os 40 anos dos 4 golos de Lemos ao Benfica, o Lemos que todos queríamos ser na escola onde rasgávamos os fracos sapatos atrás de uma bola de plástico em recreios cheios de areia e pedras aguçadas que nos aprimoravam a "técnica"...

    ResponderEliminar
  6. A festa foi bonita mas com demasiado exterior, para fora...
    Admiro André Villas-Boas como treinador, continuo a gostar que ele seja Portista, mas não me deixo ir no canto da sereia quanto à sua cantata. Não vou nas suas lágrimas de crocodilo. Para já, as frases com que ele adornou o seu discurso são do poema Aleluia, que Pedro Homem de Melo dedicou ao F. C. Porto na década de sessenta, do século XX (e não como parece que o jornal O Jogo afirma, pois tais versos nunca foram de Eugénio de Andrade, que nem gostava de desporto...) E não ficava nada mal ao V. B. referir a fonte... Bem como, se tudo fosse como ele agora quer deixar transparecer, nunca deveria ter tomado uma atitude tão à pressa e lesa-F. C. Porto... Mas, já diz o velho ditado, o F. C. Porto ama-se ou deixa-se.

    No mais gostei do que vi da festa, tal como refiro em

    http://longara.blogspot.com/2011/10/gala-dos-dragoes-de-ouro-numa-outra.html

    ResponderEliminar
  7. Acho que foi uma festa bonita e muito digna. Gostei no geral de tudo o que foi dito e como foi dito. O Presidente esteve igual a si próprio, mas o que mais me impressionou foi a exposição de taças internacionais conquistadas que serviram de cenário.

    De repente assaltou-me à imaginação a imagem de uma gala organizada pelos nossos rivais, com a tentativa de imitar o cenário: muitas taças... da liga.


    um abraço

    ResponderEliminar
  8. Tive a sorte de ter nascido em 1977 em plena época 'pedrotiana' e de só ter conhecido a era de platina do nosso clube.

    Embora não me considere o melhor adepto do Porto, também não penso que possa haver alguém que sinta o clube de forma mais intensa.

    Não podemos limitar o verdadeiro portismo aos que sofreram (como o meu pai) durante décadas e viram a sua equipa jogar noutros estádios que não o das Antas.

    Saudações 'azulibrancas'

    P.S. De referir que fui primeiro registado no FC Porto do que no Registo Civil. Antes de ser cidadão português, já era associado daquele que, para mim, será sempre o melhor clube de todo o planeta.

    ResponderEliminar
  9. Pedro, antes do mais fico feliz por aparecer mais alguém a estrear-se nos comentários. Depois, não há qualquer intenção, nem minha nem, creio, do Helton, de falar mais de portismo para uns ou outros.

    Pelo meu entendimento do que disse o Helton, e ele está cá há meia dúzia de anos, é brasileiro e obviamente não conhece nem a História nem o sentir à Porto há muitos anos, o nosso capitão apenas referiu que é fácil apoiar uma equipa que vence, ver a multidão na hora das vitórias, o crescimento da massa adepta junto com a conquista dos troféus mais apetecidos. É, obviamente, fácil ser adepto do FC Porto.

    Ser Porto é algo mais íntimo, como AVB é exemplo e o próprio Helton já interiorizou mesmo sem ser desde pequenino como muitos de nós. Ser Porto é ter sentimento, e ter sentimento é sofrer e estar com a equipa e o clube nas horas boas e más.

    Não creio que Helton quisesse fazer o reparo a alguém, daí eu evitar dar uma conotação negativa ou "ofensiva" às suas palavras. Mas ele resumiu bem, até pelo antagonismo que o FCP ainda suscita em Portugal, não obstante a sua hegemonia interna (ou até por causa disso, essencialmente), e a projecção internacional que também não tem igual e faz do FC Porto o melhor clube do País, até pela dimensão eclética e os triunfos nas outras principais modalidades.

    E resumiu bem porque ser Porto é sentir o Porto, que começa por quem é do Porto sem menosprezo pelos que, de longe, aprenderam a gostar do Porto e a sofrer com o Porto. Mas isto é bem mais difícil e está muito para além do "apoiar" que é mais fácil nesta fase áurea do clube.

    Basta ver o rol de críticas, agora como ainda há tempos com Jesualdo, em que se punha tudo em causa e tantos adeptos - alguns deles que só assomaram à janela desde os anos 90, porque dantes não se ouvia falar destes que ocupam lugares na CS... - a desprestigiar o clube e a desonrar quem pensa a sério no Porto. Não que deve evitar-se a crítica, porque nem eu recuso fazê-lo, mas porque deve-se ser crítico com justiça e bom senso, algo que em gente que é fácil apoiar quando se ganha vai faltando. Mas é só ver por aí...

    ResponderEliminar
  10. Rui, essa das taças da treta acho-lhe piada...

    Eu também destaco a exibição das taças, de tantas taças com tanto significado. É a vantagem de dar na tv, ao contrário do elitismo das galas no casino da Póvoa que passavam ao lado de toda a gente...

    ResponderEliminar
  11. Caríssimo e venerado Armando Pinto,

    pode-se gostar ou não da saída do André e eu não gostei, não preferia e não queria. Não deixei de ficar chocado, mas nada disso me impele a julgá-lo mal pela opção profissional que tomou. Nada belisca o que sempre senti por ele e ele tanto despertou em tantos de nós que nunca vimos exemplo assim, a não ser de Pedroto!

    Contudo, sabemos quantas vezes Pedroto entrou e saiu; quantas vezes Oliveira entrou e saiu (muitos não sabem que, apesar de ter saído uma vez como jogador para não mais voltar, a não ser como treinador, Oliveira desertava, desaparecia da vista de todos e da equipa); quando saiu o bibota Gomes e por tantos anos foi ostracizado, ainda me lembro a reacção colérica do Tribunal quando quis oferecer à malta uma camisola do... Sporting.

    AVB seguiu a sua vida, seguramente com sacrifício da sua cadeira de sonho e ciente de pagar pelo que demonstrava de amor que continuo a achar sincero ao FC Porto. Ainda bem que, depois do destempero lamentável de PdC, caiu tudo na real e passou-se uma esponja sobre o assunto.

    Dói-nos não ver AVB connosco, mas a ferida tem de sarar rapidamente para quem não a deixa fechar e prefere o pus da acrimónia que infecta uma certa mentalidade.

    Eu acredito que, ao contrário de Mourinho, AVB um dia voltará a treinar o FC Porto. O presidente deixou isso em aberto, só faltou dizê-lo mas para mim deixou isso bem claro.

    ResponderEliminar
  12. Sobre o discurso, muito bonito e só digno de quem sente o que sente genuinamente, o tal ser Porto de que fala o Helton.

    AVB citou a passagem do poema de Homem de Mello sobre a luz e realidade. Citou Eugénio na parte final sobre a parte de do Porto ter nascido Portugal. São passagens diferentes. Também li a reportagem de O Jogo, mas nada como ler o discurso na íntegra no JN para perceber o contexto em que AVB inseriu as duas referências (que dispensava catalogar, qualquer portista sabe o que representam e quem as disse).

    ResponderEliminar
  13. Meu Caro Zé Luís
    Agradeço lhe do fundo do meu Coração e Alma Portista o seu texto!
    Numa resposta diz que Mourinho não treinara o Porto no futuro mas ao contrário do Zé penso que ele vai regressar ao Nosso Clube com outras funções e quem sabe trabalhar juntamente com o André Villas-Boas.
    Saudações Portistas!
    Forte Abraço
    Duck(Paulo Nuno Pato)Portista desde 6 Janeiro de 1972.

    ResponderEliminar
  14. dj, essa desarmou-me, até podia ser tentado acreditar na dupla, mas não sinto nada parecido, não que me desgoste, mas por não ver sinais nisso. Nenhuns.

    ResponderEliminar
  15. Já agora, por notar que muita gente se sensibilizou e mostra o portismo à flor da pele, gostava de dier:
    1) escrevo este ou outros textos com o mesmo portismo, sem deixar ou evitar ser racional e objectivo, o que não me parece fácil;
    2) acho que o ser portista deve manifestar-se na apreciação aos jogos, com sentido crítico mas sem ferir o bom senso, mas não vejo isso nos comentários aos jogos, ou porque rareiem ou por serem amiúde vazios de bom senso e sentido de realismo, notando-se muita exaltação como se, fora do estádio, não seja possível ser rigoroso e objectivo ainda que sem prescindir de ser apaixonadxo.

    ResponderEliminar
  16. Meu Caro Zé Luís,
    O dossier Mourinho/André Villas-Boas está na mente e nas mãos ddo Antero Henriques.
    Não é da opinião que apartir da próxima edição os Nossos Dragões de Ouro deviam ser abertos pelo menos à massa associativa?
    Saudações Portistas!
    Abraço
    Duck

    ResponderEliminar
  17. Mostro no texto a minha perplexidade por as galerias (superiores) do Coliseu estarem vazias. Não o fiz por acaso. Conheço o Coliseu desde miúdo (aludo aos filmes). Podiam estar preenchidas com adeptos, perfeitamente.

    Mas creio que no FC Porto os adeptos são apenas carne para canhão e não propriamente respeitados ou lembrados em cerimónias mais formais.

    ResponderEliminar
  18. Meu Caro Zé Luís
    Estou totalmente de acordo.Nunca fomos ouvidos se queriamos os jogos para o Campeonato Nacional todos transmitidos pela Sporttv ou outro canal.Voltaremos a vêr um jogo do Campeonato Nacional às 15 ou 16 no máximo às 17 em hora de Verão?E podia dar mais exemplos...
    Para que servem actualmente as Assembleias gerais?
    Saudações Portistas!
    Abraço
    Duck

    ResponderEliminar