05 agosto 2014

A vírgula é uma chatice

Sabemos que pode mudar integralmente o sentido de uma frase e alterar da casa de dezenas para coma e mesmo para baixo um simples número. Errar por uma vírgula pode originar uma conta mal feita ou deturpar uma ideia escrita. A vírgula não é um ponto, de resto é uma curva pequena em que muitos podem espatifar-se conduzindo mal a escrita ou a álgebra.
 
Isto a propósito de tudo estar bem quando acaba bem, seja o caso feliz do BES - apesar das reticências da esquerdalhada insana que é uma permanente vírgula com zeros à esquerda além de uma jacobinice relegada para a sepultura da História - ou até do desenlace Cardozo.
 
Inclusive a afamada prova de professores em que alguns reprovaram e em que uma maioria cometeu erros de ortografia e até de sintaxe, decerto com vírgulas mal colocadas. Não admira que os novos sejam sujeitos a provas e os velhos, no velho Portugal, se sintam sempre acomodados. Contei no ano passado um "teste de Português" num concurso público para vagas no consulado de Portugal em Zurique. Uma prova infame pela qual ninguém pagou e a mim me fez gastar mais de 500 euros, o concurso acabou anulado mas ainda não fui ressarcido apesar de me reconhecerem razão. Como numa vírgula mal colocada, não olharam para a minha prova em concreto mas preferiram ver o abstracto de um concurso absurdo que é igual a tantos outros que vi ao mesmo tempo. Agora, nem o MNE que tutela consulados e embaixadas, nem sequer a Provedoria de Justiça que fez anular tudo sem que o MNE assumisse responsabilidades e me respondesse como prometera, ninguém paga pelo sucedido. E houve muitas vírgulas mal colocadas numa revisão de prova criminosa mas impune.
 
Ainda de vírgulas, a venda de Cardozo é um paradigma. Lembremos que chegou a ter uma cláusula de 60ME! Ainda há um ano e picos o Benfica recusou ceder o paraguaio ao Fenerbahce por 12 ou 15ME. Agora, leio, entre 4,5 ou 5,6ME chegam para evitar mais encontrões com a verdade, a seriedade e a hombridade. Passa à História talvez como o maior desconto alguma vez feito numa transferência de um jogador. Não sei em que patamar fica a venda, que tudo isto é muito nebuloso e nem a CMVM se preocupa com a credibilidade da informação, seja na ordem dos 4 ou dos 5ME, vá lá perguntar-se como poderia ser melhor a supervisionar coisas da ordem dos milhares de milhões de euros. O que resta, para além das palavras de circunstância que se aplicam a qualquer féretro apesar dos desmandos feitos em vida pelo defunto, é um negócio fantástico deste Verão acalorado das contas do campeão que corre o risco de desintegrar até o treinador profeta que já sacode a água do capote. Depois do empurrão do Jamor, isto nem é nada, é só mais uma coisa e ponto e vírgula.
 
A redução do valor de Cardozo quase chegou ao ponto do BES: quase tudo para o banco mau e uns trocos para o banco bom que o Benfica contenta-se com qualquer migalha. E faz lembrar a história do bêbedo que queria discursar e deleitar os convivas:
- Setecentos monos...
- Setenta monos...
- Sete monos...
- Sentemo-nos...
 
Com vírgula mas apenas a marcar uma pausa numa frase que tem promessa de continuar num período feliz, o FC Porto vai fazendo o seu caminho. Não vi o jogo com o Everton, mas pelo resumo as ocasiões criadas indiciam que há ali pontos para concluir mas uma aventura por acabar. O enredo mal começou. O epílogo pode ser o que mais desejamos: viver felizes para sempre.

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