26 agosto 2014

Competência em precisão e contundência

Não foi o jogo perfeito pedido por JL, mas andou próximo disso e, daí, comprovando-se a evolução da equipa à qual, repita-se, não se pode ainda exigir mundos e fundos. Mas confirmo que, claramente, esta equipa tem tudo para não só dar espectáculo em breve como para dominar o panorama interno e porventura ganhar tudo a nível doméstico, além de fazer boa figura na Champions para a qual se apurou com competência em dois domínios fundamentais: precisão e contundência.
 
Apesar da estratégia de jogo replicar as cautelas necessárias, como em Lille, para não deitar fora o bebé do apuramento nascido em bom momento com a água do banho que é o ambiente em que o novo FC Porto estava destinado a crescer, nas circunstâncias que se sabe e é redundante repetir embora se ande a repetir, por falta de ideias e preferência por bizantinices como a de Quaresma fazendo tempestade num copo de água, o FC Porto já mostrou uma face ainda mais madura do seu jogo, controlando a bola, manietando o adversário e assenhoreando-se do jogo. O Lille é incómodo, tem jogadores bons individualmente e perigosos no contra, mas voltou a preferir arriscar pouco, quiçá presumindo um FC Porto de ataque avassalador. Sai, amiúde, um FC Porto dominador da bola e senhor dos tempos de jogo, com uma capacidade técnica individual bem aflorada no contexto geral de um colectivo forte em posicionamento definido e sem cair nas asneiras de principiante que só um treinador imberbe como o Produções Fictícias não lograva perceber e, daí, corrigir.
 
Isto não vai ter nada a ver com o desastre futebolístico da época passada porque este Lopetegui, conquanto tenha ainda de provar ser de cepa superior, pode ser novo a este nível e neste contexto de máxima competitividade mas actua, é enérgico a corrigir e não o contemplativo que vai aplaudindo até as mais básicas asneiras: o FC Porto não dá erros defensivos nem nas bolas paradas e até Danilo já aprendeu a defender. E agrada-me até o discurso do treinador. Do que restava da época passada ainda se vêem alguns passes longos a cruzar o campo com probabilidades de erro (intercepção), mas são até mais as vezes em que Oliver e Casemiro metem a bola que é um primor. E tudo com a equipa em progressão, sempre mais jogadores à frente da linha da bola do que atrás dela e com posições bem ocupadas e não vazias por tontos que não sabiam o que fazer e por onde andar: a quem alvitrava que o 20 de Carlos Eduardo fazia lembrar o Deco eu dizia que Carlos Eduardo nunca andava onde era preciso.
 
Há já um trabalho de treinador notório e notável para o cimento aglutinador - já usei a expressão esta época e só tomei em conta a preparação desde o último jogo da pré-época não competitiva em West Bromwich - que é o modelo de jogo, essa entidade que não se diz em duas palavras mas para bom entendedor percebe-se em duas penadas. Acima disso, uma série de jogadores de um quilate muito acima desta Liga. Oliver encanta-me, Brahimi é uma gazua, Rúben Neves amadurece rapidamente embora tenha saída desgastado e já a acusar a pressão competitiva contínua, prevendo-se que descanse em breve, a defesa acertada, adoro o Martins Indi e Maicon voltou ao seu nível, os laterais defendem bem face ao que faziam, o meio-campo é diligente a defender e a soltar a equipa na frente e Jackson está mais animado que nunca, creio que mais entusiasmado mesmo em relação ao primeiro ano no Dragão em que foi um furacão. Está tudo bem? Não, prefiro o Oliver no meio, o Evandro marca pontos e o desembaraço para encaminhar rápido a jogada do 2-0 é de mestre a soltar na esquerda Brahimi.
 
Brahimi marcou um livre, esse sim, perfeito, como há muito não se via e até raramente se vê. Manuel Queiroz evocou Flávio, que eu lembro bem dos anos 70, mas não era preciso recuar tanto. António Sousa batia a "folha seca" como ninguém, sucessor de António Oliveira, mas contemporâneo de Sousa era Madjer que igualmente tinha um primor nos livres directos. Pois Brahimi já faz lembrar Madjer em pormenores técnicos deliciosos acrescidos de um poderio e pique físico invejável.
 
E ainda não vimos Adrián Lopez, já se vislumbrou Tello e esperamos por Quaresma, havendo muitos outros para revelar, a época será longa, preenchida, com vários títulos já na mira e decerto muito divertimento.
 
A precisão de Brahimi no 1-0 teve como complemento a contundência no ganha a bola-passa rápido-desmarca logo-chuta bem, entre o roubo de bola na divisória, o passe para o lado e a seta apontada à baliza com Jackson como farol da jogada e finalizador exímio. Um golo fatal, de compêndio a coroar uma jogada perfeita e ilustrando a maturidade nascida em poucas semanas de profícuo trabalho de um treinador ele também de eleição. Uma maturidade, dito acima, trazida por Evandro, em contraponto ao declínio natural do puto Neves. Temos homens para a rotação, falta peneirar o plantel a inscrever na Champions, mas todos farão falta.
 
Está garantida a Champions e o pote 1, mas os grupos serão difíceis e só há duas ou três favas a apanhar, tipo Ajax, Maribor e APOEL, faltando ainda os resultados de amanhã antes do sorteio de 5ª feira.
 
Mas, talvez a reforçar o nervosismo de Jesus e o desnorte do Benfica no mercado para mais sem financiamento, como na vindima, de "bica aberta", digo já que o nível deste FC Porto é já, e será mais, muito superior ao do Benfica da época passada, para não falar do Sporting que acredita no seu Messias ou Nanias ao jeito do filho pródigo para fazer alguma diferença.
 
Os adversários antes tão preocupados com a "aposta arriscada" no treinador sem currículo e "um plantel de espanhóis que o treinador escolhe invertendo a política da SAD", além do "desastre financeiro se a Champions correr mal", podem tirar o cavalinho da chuva e orar já a Santa Bárbara antes que troveje. Este FC Porto não terá rival em Portugal esta época, assim as coisas se encaminhem bem com vitórias para dar confiança e fazer a equipa perder ainda algumas amarras, naturais, que revelou num contexto difícil num momento sempre delicado de início de época, Champions para entrar, campeonato para pontuar e equipa para formar. Esquecer isto é pensar que Roma e Pavia se fizeram num dia.
 
Se os palradores do costume, como voltei a ouvir na TSF enquanto procurava uma farmácia e não era pelo Kompensan, ainda se deleitarem a falar de Quaresma - "um jogador mais" - sem perceberem a direcção e a dimensão do crescimento nítido deste FC Porto tanto melhor. Comem da mesma palha que dão a quem aceita bovinamente ouvi-los. Bom proveito.
 
NOTA - Antes de ver na net os resumos da noite, confiando já no desastre do Celtic que, como há três anos o Rangers, teve a sua noite de Mariborrível, vi como o M. United levou 4-0 do MK Dons. Podia refletir-se, mas a manada continuará a leste de tudo. O declínio, fast and clear, do que foi uma força sem igual além-Mancha não é facilmente revertível só com di Maria e van Gaal já tirou o cavalinho da chuva quanto ao título: "Vamos pensar em não descer de divisão". Brincalhão, como Jorge Jesus sobre o fico ou saio do Besfica. A degenerescência do M. U. podia tê-la seguido o FC Porto se não mudasse completamente o rumo desportivo com a catastrófica época passada e um somatório inacreditável de erros de casting. O FC Porto, entretanto, iguala as 19 presenças de United na Champions, que era o recordista e nem à Europa vai. Vale a pena pensar nisso. Mas, who cares?

2 comentários:


  1. caríssimo Zé Luís,

    não há como escapar a este facto, porventura incómodo para alguns: (pelo menos) 10.7M€ encaixados (2.1M€ pela participação no 'play-off' e 8.6M€ pela passagem à fase de grupos).

    é certo que foi "no risco", e espera-se que "a graça" não se repita tão cedo, mas assim ainda soube melhor a vitória.

    abr@ços
    Miguel | Tomo II

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  2. Caro Miguel, é importante para "o resto", equilíbrio-económico financeiro e gestão tout court, mas nesta fase só me foco no que a equipa mostra e é capaz de fazer a progredir. Uma coisa traz a outra, sem a equipa jogar e melhorar não há dinheiro em caixa, em princípio há investimento (nem digo despesa...) e depois espera-se o retorno.

    Princípios básicos de Economia que, a nível micro (empresas) e macro (edilidades) refletem o estado mais geral do País e a incapacidade de as pessoas lerem para lá dos números e mesmo de preferência antes dos números.

    De momento, importa o futebol. De resto, o mercado nem fechou. À tarde vou aflorar uma troca potencial: Jackson vendido e Samaras contratado. Para mim não era mau, mas o mercado o ditará.

    Sem futebol não há receitas, melhorando o futebol potenciam-se as receitas. Tudo ao contrário do que foi feito na época passada.

    São lições para (não mais) se repetir porque há quem esqueça facilmente e as vitórias adormecem muita gente.

    Abraço

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