Alarmismo injustificado

“Os assuntos de tribunais são para ser tratados em tribunal”. Não é original, mas é uma sentença e foi dita, impenitentes amigos portistas, por Pinto da Costa, em Março de 1996. Ao folhear jornais antigos, dei de caras com um bate-boca próprio da época, de todas as épocas como agora se comprova.

O tópico da altura explicarei adiante. Vem, contudo, a propósito de muitos adeptos portistas deste blog terem comentado, a respeito de um texto respigado do Portal dos Dragões, a ausência de réplica do FC Porto às constantes malícias noticiadas sobre o Apito Dourado e às persistentes insinuações de que o FC Porto e o seu presidente são os principais arguidos do caso que se reporta a manigâncias diversas não só ligadas à Arbitragem, mas a promiscuidades entre futebol e política através de interesses autárquicos de que é tema central as relações da Câmara de Gondomar com empreiteiros e promotores imobiliários, é bom não esquecer.

LEMBRAR MAIS UMA VEZ…

Ora, pergunta-se como o FC Porto não reage, ninguém dá voz à indignação face às investidas – e atoardas – feitas contra o clube. É, da parte da SAD, o mesmo silêncio a respeito da propalada saída “iminente” de Quaresma para o Atlético de Madrid, que se repetiu agora relativamente a Adriano e até a Ricardo Costa. É certo que questões de mercado de transferências são resolvidas num abrir e fechar de olhos, às vezes precipitadamente, outras em cima da hora. E estas coisas devem ser levadas na devida conta. Às vezes até parecem “feitas” para logo serem desfeitas. E até final do mês nunca se sabe…

A Justiça fia mais fino. Houve hossanas à nomeação Maria José Morgado para titular um processo mediático mas banal; “ameaças de tentativas de acusações” multiplicaram-se; muitos “culpados” já encontrados e julgados sumariamente pela opinião publicada; alguma Opinião Pública envenenada e com azia de dezenas de anos; uma suposta prova num livro de chacha que não revela grande coisa; o agitar de um fantasma quanto a um possível segundo livro mais comprometedor. Mas nada de concreto. Então, porque se preocupam os adeptos? Pela falta de futebol jogado? Por, afinal, ninguém sair (para já…) da equipa? Por Mareque não dizer nada como ilustre desconhecido? Por o defeso natalício ter quase um mês? Por nada haver para dizer – e, neste momento, nada mais para inventar e manchetes para multiplicar com mancheias de coisa nenhuma e outras de absolutamente nada?

ANO DO PORCO

Pelo início do ano do porco, para os chineses, ao invés vieram as bacoradas e as porcarias do Benfica, as do costume: já foi ilibado de dívidas fiscais com acções sem cotação como garantia de pagamento; salvo de descer de divisão por incumprimento fiscal; poupado em decisões da Comissão Disciplinar; protegido “a fazer as coisas por outro lado” nos lugares-chave da Liga; favorecido pela Arbitragem; e agora queria passar impune num caso (mais um, no seu longo historial nesta matéria) de doping comprovado.

E Pinto da Costa, dez anos depois, poderia limitar-se a lembrar aos adeptos portistas que os assuntos de tribunal tratam-se nos locais próprios. Como o fez em relação a supostas acusações no livro insosso há pouco publicado: “Falamos no tribunal”, disse secamente.

Face aos agitadores de serviço, a algazarra foi grande. Mas quem se deu ao trabalho de ler e avaliar o conteúdo das informações, mais do género de contra-informação ou má informação para ser objectivo, que retirou daquilo tudo que emporcalhou o Natal?

CALHEIROS E BARATA

A tirada acima recuperada, de há 10 anos, passou-se, imagine-se, com… Carlos Calheiros. Ele próprio sempre acusado de favorecer o FC Porto e até de ter passado férias no Brasil à custa do clube, via Cosmos, no Verão anterior, saiu-se com esta: “Pinto da Costa manda na Arbitragem”. Não directamente, claro, mas com influência sobre o então presidente da Comissão de Arbitragem, Cruz Pereira. E que litígio se passou? Pois o Calheiros protegido portista queixou-se de “os dirigentes do FC Porto estarem zangados comigo, por ter anulado um golo ao FC Porto num jogo no Restelo que terminou empatado [1-1]. No final do jogo nem me cumprimentaram”, desabafou.

Estão a ver? Calheiros dirigia 1 ou 2 jogos do FC Porto numa época e, assumido portista, era facilmente conotado como favorecendo os dragões. O bastante para se considerar que era com Calheiros que o FC Porto ganhava títulos. Amiúde juntava-se o caso Guímaro, condenado por uma falcatrua num Leça-Ac. Viseu; volta e meia associava-se Francisco Silva, apanhado com dinheiro na mão num Penafiel-Belenenses.

Lembro isto, também, por denotar que muitos adeptos são algo jovens e não viveram peripécias de há 10 e 15 anos. Apercebo-me que nos blogues há malta jovem que “ouviu falar disto e daquilo” mas não conheceu a realidade. Eram as guerras de antigamente que se acirraram quando, após um período em que os rivais não se davam conta do ascendente portista paciente mas firme, aceitando que o FC Porto não sofria da irregularidade de antanho mas confiando que não passaria “das marcas”, a supremacia passou a hegemonia, todos foram ultrapassados e o medo instalou-se em Lisboa.

A era do penta tivera início e em 1996 Calheiros retirou-se da Arbitragem. O FC Porto, longe de ter os seus favores para ser campeão, teve um “caso” com Calheiros por ter sido anulado um golo, de forma discutível, aos campeões em Belém nessa época.

Por essa altura, o polémico Fernando Barata -- dirigente do Farense e do ramo hoteleiro no Algarve que uma vez alvitrou que o FC Porto “comprara” em 1984 o apito romeno Ioan Igna para eliminar o Aberdeen (nas Antas, faltava a 2ª mão que Vermelhinho decidiu de forma sublime) e teve de se retractar em Tribunal e pagar uma indemnização a Pinto da Costa por ser “desbocado” – disse que “pagava férias aos árbitros” disponibilizando os seus hotéis.

Pois, os outros é que são corruptos. Dez anos depois vemos o mesmo filme. Veremos, por fim, quem são os grandes protagonistas. A ligação entre factos, casos e personagens também pode ser feita assim. E tiram-se conclusões diferentes. Para bom entendedor…