A vitória do Chelsea na Champions carrega toda a ironia do futebol, na medida em que uma equipa que pouco à bola joga (corrigido: faz o que modernamente se chama jogar "futebol") ganha por força dos seus jogadores de qualidade indiscutível. Depois de ter miraculosamente sobrevivido ao Barcelona, a melhor equipa do mundo mesmo, o Chelsea aguentou a parada em casa do Bayern, uma parada que teve perdida por mais de uma vez. E pode ter sido a última vez que ganhou algo por muitos e muitos anos, num raríssimo momento de conjugação astral que fez justiça a uma equipa e jogadores fabulosos a quem o futebol não fez justiça nos momentos do seu máximo esplendor.
E foi em circunstâncias de novo particulares que o Chelsea chegou ao ceptro desejado por Abramovich. Por um penálti falhado por Terry em 2008, quando mais mereceu vencer a final de Moscovo ao chorão Ronaldo, por vários penáltis falhados dos adversários (Messi na semifinal, Robben na final, depois Schweinsteiger a quem eu encarregaria da marcação do penálti no prolongamento...), a história escreveu-de de forma tortuosa para o Chelsea e arrisco dizer que tão cedo não ganhará algo de jeito depois de juntar a FA Cup à Champions da forma mais improvável e com muita sorte à mistura - mas pela acção de jogadores extraordinários, do inacreditável Cech ao inoxidável Drogba, um e outro a defenderem e a marcarem os momentos decisivos de Wembley, com o Liverpool, e em Munique, frente ao Bayern.
Uma conjugação, talvez improvável de repetir-se, de vários factores fez triunfar o mau futebol só ao nível do Inter de Mourinho em 2010. Mas ao menos oa Chelsea não pode falar-se de erros de arbitragem a favor, até porque Pedro Proença negou um penálti sobre Torres "igual" ao que marcou sobre Ribéry e Robben falhou.
À boa maneira tuga, elogiou-se tanto Mourinho pelo triunfo de 2010 como já vi por aí elogios à arbitragem de Proença em Munique. Falhou claramente no penálti sobre Torres, para mais caindo na alçada também de um seu auxiliar.
À boa maneira tuga, o futebol-maravilha do Sporting, obviamente depois do futebol-maravilha do Benfica toda a época, foi incensado nos últimos tempos mas via-se que quando toca a jogar para ganhar há ali pouca coisa, como já referi, para além de entusiasmo talvez estimulado por Sá Pinto.
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Parece que o Sporting que garbosa e pomposamente se dizia "de Sá Pinto" desiludiu. Lá vão as tiragens de 150 mil pó etecetera... E, afinal, tudo bate certo. Quando toca a jogar para ganhar, o futebol "de Sá Pinto" empanca. Ah, o do Barça e até do Bayern também, com o Chelsea. Pois, mas o Chelsea tem pedigree e um lote de jogadores do melhor que há, correndo menos do que já correram, chutando e indo menos à baliza contrária, mas quando lá vão... O mau futebol também ganha quando se tem Drogba, Cech e Lampard, apesar de Mourinho não ter sequer chegado à final da Champions e o seu substituto Grant sim... Também se ganha com Eto'o, Maicon, Sneijder, mas di Matteo provou que não é preciso ser Mourinho, nem o seu adjunto AVB, para ser campeão europeu. O futebol prega-nos destas partidas.
O di Matteo do Sporting também pegou numa equipa em situação difícil e gizou uma estratégia. Enganou-se com aquele triunfo em que, por uma vez, os astros se conjugaram para a eliminação do M. City. Teve sorte com os polacos, com os ucranianos e de algum modo com os bascos. Ah, tomara jogarmos sempre com o City... Os resultados repetir-se-iam?
O balão esvaziou. Tanto que, sim, fui surpreendido ao ouvir um excerto de Sá Pinto: "O Sporting não pode perder uma final com a Académica". Perdeu. O City, deslumbrado a despachar o Porto com menos problemas do que previa, deve ter dito o mesmo na ronda seguinte. "Ganhámos ao Porto e não passamos o Sporting?". Bah...
Bem, o futebol restitui-nos a magia inesgotável do seu reportório e o imponderável luminoso mesmo que encoberto pela Mancha Negra dos prognósticos em dia de festa. Em fim de festa "dos outros" não convém fazer reportagem por perto. Que o diga a repórter da SIC mimoseada por um adepto leonino ao ponto de ter de interromper a emissão. As sardinhadas são bonitas antes do jogo, mas já sabemos como é (1994) derrotar o Sporting numa final do Jamor...
Até Lineker saiu a perder: não, nem sempre os alemães, especialmente com ingleses, jogam 11 contra 11 e ganham. E nem mesmo um Müller, Thomas, pelo Bayern e o futebol ofensivo dos tempos de Heynckes jogador levaram os bávaros ao triunfo: faltou um Müller, Gerd?
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Ao Sporting fica de novo a dúvida quando já se vaticinava, também, um futuro risonho em 2012-2013. Porque nem sequer é com o "futebol de Sá Pinto" que se ganha alguma coisa. Felizmente.
Ironicamente, Paulo Sérgio ganhou a Taça da Escócia com o Hearts, que pegou igualmente em situação difícil e venceu o derbi de Edimburgo na final com 5-1 ao Hibs. Mas mais vale cair em graça do que ser engraçado.
A Académica começará a nova época na Supertaça talvez em Aveiro e seis jogos garantidos na Liga Europa, tantos quantos já disputou no seu passado uefeiro.
O Nápoles, que joga ao ataque e também sucumbiu ao Chelsea, acaba também a ganhar a Taça de Itália à campeã Juventus sem derrotas na Série A.
Falta ver o Barça-Bilbau na Taça do Rei, dia 25.
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