25 fevereiro 2011

A factura Amadora de não denunciar as ilegalidades, 10 anos depois



Parece uma notícia quase não-notícia, a do desaparecimento do Estrela da Amadora, tal a frequência com que os clubes caem em incumprimento fiscal e são liquidados por dívidas a meio mundo ou ao mundo todo...


http://www.jn.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=1792888 lê-se aqui que o clube da Reboleira está para fechar portas mas os carolas, que na origem deram corpo e alma a um projecto local que chegou a ganhar a Taça de Portugal (1990) e a jogar na Europa, como antes clubes como Farense e Salgueiros, continuam a alimentar o espírito pelo amor à camisola como era dantes apanágio de todos os clubes antes do domínio absoluto do dinheiro, os projectos financeiros invariavelmente ruinosos e a megalomania que deita a perder todo o trabalho edificado, material e desportivo, como é testemunho o estádio que passou a levar o nome de José Gomes, artífice da evolução do modesto parque desportivo da que ao tempo passou a ser de maior freguesia do País à cidade-dormitório de Lisboa na margem norte do Tejo.


É sempre triste ver tal suceder e mais ainda quando, há 10 anos (ou nove), Estrela da Amadora prometia denunciar um grave incumprimento fiscal de um clube concorrente e que, à data, impunha a despromoção do prevaricador. Estava nos regulamentos, era verídico mas nem a Liga, então do hoje comentador José Guilherme Aguiar como secretário-geral do organismo cuja regulamentação geral e específica tinha o seu cunho como se gaba, nem os clubes prejudicados denunciaram a situação.


Os denunciantes coniventes com as falcatruas acabam por pagar a factura. O Estrela da Amadora, num certo dia de 2001-2002, visitou o Desportivo das Aves. Ambos acabaram despromovidos mas ao tempo prometiam denunciar o incumprimento do Benfica que devia ditar a sua descida de divisão. Era o tempo do regabofe de Vale e Azevedo, em vias de perder para o Vilavinho que depois co-optou Filipe Vieira, era o tempo da gloriosa equipa que seria espinha-dorsal da Selecção Nacional mas nem se apurava para as competições europeias nem, depois, alimentava a equipa portuguesa ao mais alto nível. O Benfica que, para mais, confessara a sua conduta imprópria, antes ou depois de salva, mais uma vez, da despromoção com uma ilegal validade de uns papéis que Manuela Ferreira Leite legalizou à martelada aceitando como pagamento ao Fisco, de que era a super-intendente enquanto ministra das Finanças, alegadas acções sem cotação mas estimadas a 5 euros por unidade de forma a cobrar os impostos em dívida como no "conto do vigário" em que sabia aceitar papéis sem valor como se valessem dinheiro. O processo de incumprimento fiscal do Benfica vinha de 2001 e foi "legalizado" pelo novo Governo do PSD, que os vigaristas da Luz passaram a apoiar prometendo apoio eleitoral com jantaradas na Luz para os hoje demagógicos dirigentes e paineleiros encartados...


E. Amadora e D. Aves desceram, o Benfica falhou as competições europeias mas não avançaram as ameaças de tentativa de accionar os mecanismos legais, no âmbito penal-desportivo, contra o incumprimento que ditava a descida de divisão dos encarnados. Não houve rasgar de vestes pela verdade desportiva, não se condenou ser o futebol um estado dentro do Estado, não se pediu a intervenção destemperada do poder político para pôr ordem na casa, não se constatou que um clube tinha benesses do Governo capaz de punir, amiúde exemplarmente, o anónimo incumpridor individual ou colectivo.


Dez anos depois, o E. Amadora desaparece, porventura para reaparecer com outro nome e de forma quase informal nos escalões amadores, e a História não ensina nada e muito menos corrige os abortos jurídico-desportivos que marcam o futebol português. Vai-se falar disto e daquilo, mas esquecer o essencial. Na indiferença que é devida aos que pactuam com ilegalidades, até serem apanhados na primeira curva dos acidentes da História.

1 comentário:

  1. Boas

    excelente post, como é habitual.

    Eu cá estou mais preocupado com os encornados. É oficial, vem na Bola de hoje, o Saviola não teve caganeira, mas gastroenterite. Sentiu-se mal, com vómitos, relata um dos enviados da Bola à Alemanha.

    Barbas: Atenção ao picante na comida

    Um abraço

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