17 novembro 2014

A rainha vai mesmo nua

A superficialidade tão observada em praticamente todos os actos comuns da vida quotidiana é uma marca da época. Confirma a versão do relativismo como maleita difundida por uma chamada intelectualidade que destrói, afinal, os princípios da razão e, em suma, da humanidade. Esse avanço gramsciano é tão desfasado no tempo quanto hoje era suposto haver mais informação e melhor formação mas parece funcionar ao contrário.
 
 
Uma bela moça leva as carnes melhores à mostra mas, como estão muito bem disfarçadas com camadas de tinta, parece passar despercebido. Não devia, mas percebe-se que é assim. Olhar atento detectaria o latejar das nádegas flagrantemente perceptível, como se estivesse em fato de banho - e, de facto, ela leva uma cueca fio dental. Bolas, aquilo são duas belas nádegas, como se diz na gíria, a dar a dar!
 
A notícia, contudo, suportada nas imagens - mas não temos TODAS as imagens! -, diz que as pessoas nem notam. No fim, alguém notou e tirou foto com o telemóvel. Ela, mesmo de costas, percebeu que foi "flagrada". De facto, se do outro lado da rua poderia passar o "engano", quem seguir atrás da moça, mais do que cruzar-se de frente com ela, não tem dificuldade em perceber a marosca.
 
Uma firma portuguesa diz que vai fazer uns jeans que siervirão para qualquer número, para magras e gordas, tal a sua elasticidade. Porreiro, pá. Este vídeo poderia ser promocional dessa marca (que não sei qual é, não sou de marcas e não compro publicidade nem de borla!). Bastava usar vários modelos de vários pesos e dimensões, pintá-los de igual modo e a marca de jeans teria uma promoção fantástica. Com a superficialidade que se retira da notícia acima e do vídeo que a enquadra, deveria ser assim. Depois, o relativismo com que se olha o desnudar crescente do mulherio hoje em dia fará o resto, mesmo com aplausos ou apupos de várias barricadas feministas e com as quais estou a marimbar-me.
 
Tivemos há dias um vídeo, norueguês soube-se depois, de um alegado pequeno herói sírio que, no meio de um tiroteio, entrou em acção e retirou uma criança mais pequena da zona de tiro. Os telejornais da treta embarcaram, TODOS, naquilo como se fosse verdade. Estamos a falar de gente, dos telejornais TODOS, habituada a lidar com imagens e que era suposto ser experiente nessa visualização. Mas alguém as vê com olhar crítico e experiente de digno "expert"? Ou não os há, afinal? Ou ninguém vê como deve ver e qualquer merda entra - é um facto! - nos telejornais TODOS?
 
Torci logo o nariz à veracidade daquilo; dias depois, após a confissão do engano deliberado do realizador norueguês, os telejornais TODOS reconheceram que foram ludibriados.

Temos diariamente nas tv's da parvalheira coisas que atentam contra a inteligência, logo a dignidade, de seres racionais, maduros, experientes e que são mesmo capazes de dizer que a rainha vai nua. Mas nas tv's da parvalheira nem os pacóvios pivots da treta - que ganham uns extras para comprar fatos e vestimentas catitas, que a maquilhagem vai por conta da casa para ficarem muito bonitos nas pantalhas - e muito menos os delinquentes editores avaliam as coias como deve ser - e sai uma mistela inacreditável de boçalidade e irrelevâncias da mais frioleira estupidez.
 
Mas alguém, a despeito de inúmeras queixas que chegam aos provedores que não são "provadores" de coisa alguma de tão insossos eles são também, vê alterações não só nos figurinos programáticos como nos figurões desses programas das pantalhas?
 
No sábado tivemos mais um exemplo e um calafrio da ignorância e aviltamento de um telejornal que decidi ver, abrindo uma excepção a uma regra minha de há anos: na SIC, perante uma parva jornaleira de serviço como outro colega qualquer pois ninguém faria diferente, Marques Mendes deu-se ao desplante de dizer que era sócio de uma empresa mas com a qual nada tinha a ver, nem sequer imaginando a sua actual existência!!! Não lhe foi avançada qualquer pergunta sobre a sua responsabilidade como sócio e implicações de, detendo uma quota (da qual não se desfez, porque não disse tê-lo feito), ser chamado não só a dividir lucros, se os houver, mas seguramente a partilhar despesas, que terá de haver.
 
Isto passou-se com um ex-candidato a PM, membro do Conselho de Estado, advogado e "parecerístico" que oferece os seus serviços de consultoria supostamente por ser experiente nesse campo e reforçado por múltiplas ramificações da sua actividade política. Fiz a pergunta a mim mesmo logo diante do televisor e deixei-a no Observador num comentário à notícia. Passaram vários dias e nenhum jornal, nenhum jornalista, pegou na questão. MM tremeu como varas verdes e o seu sorriso não era laranja, era amarelo, quase de diarreia, mas o disfarce mental perante uma jornalista "amiga", sensaborona, parcial, ignorante, desqualificada para a função e menorizada enquanto tal passou. No dia seguinte, MM passou a limpar-se daquela maneira nos telejornais TODOS!
 
Acho que o relativismo, a superficialidade e a sub-informação e pseudo-informação acabam demonstradas se eu lembrar a estrutura do tal jornal da noite da SIC, na sua habitual hora e meia de nada de relevante noticiado.
10'-12' com o tema dos Vistos Gold;
intervalo (demorado);
meia hora de não-notícias sobre nenhuns avanços na saúde da bebé do Dubai, na busca de um montanhista em Espanha e uma reportagem de rua sobre a publicidade a uma freguesia de VFX por causa da Legionella;
meia hora de vulgaridades realmente sic transit gloria mundi de canções, cantores, ex-misses de que ninguém lembra e, claro, uma pitada de cozinha, como é devido num telejornal da treta, sem o qual noticiário algum televisivo fica apimentado.
E uma hora depois do tema do dia, a passagem às explicações de Marques Mendes. Aquelas sem perguntas difíceis.
 
Isto é o mesmo, por sinal no mesmo canal, que passar a explicar um não-fora-de-jogo com simulação técnica de duas linhas paralelas - por definição linhas que no limite só se encontram NO INFINITO! - que, por artes do diabo, se encontram logo ali a 40 metros a meio de uma bancada para os telespectadores idiotas comerem o argumento da validade do fora-de-jogo assinalado a um gajo do Rio Ave que marcou um golo, invalidado, ao Benfica.
 
Na esteira de programas como "Isto só Vídeo, que creio serem da mesma estação televisiva há tempos, não há muito a acrescentar.
 
Nem pretendia perder tempo com estas tretas, nem os temas da bola indígena motivam a pausa sabática a que me propusera, deixando amadurecer o vídeo de Villaret, claramente, de outros tempos mas que se parecem tão actuais com a diferença de antes haver, além de a preto e branco, um SÓ CANAL e hoje tantos canais PARECEREM UM SÓ.
 
Não quis falar, nem o farei mais, das boutades do grunho do carvalho, das misérias da Liga e os beneméritos Porto e Benfica em seu socorro, das vitórias pífias da Selecção, das arbitragens, do Proença ou do vi-te ó Pereira. Considero-me bastante informado, como se tivesse tirado um curso. E, contudo, acho que as pessoas em geral vêem só o acessório e não o essencial, porque são tratadas como animais a formatar à falta de saberem aprender por si próprias.
 
I rest my case.

2 comentários:

  1. Sem ofensa... mas acho Portugal um país onde toda a gente é corrupta, mesmo os recém-nascidos! Até este meu comentário!

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  2. E sempre foi assim? Ou esse modo de ser e de estar é apenas recente?
    Mas eu não me preocupo com a corrupção, ela existe, como muitas outras coisas relacionadas com o Homem.
    Desde que a Justiça funcione... Os ladrões sempre existiram, tem é de haver polícias para apanhá-los.
    A corrupção de alto coturno no Estado existiu desde o 25/4! Só agora, sem as polícias estarem manietadas como em períodos de só cretinismo, sem os topos da Justiça estarem enfeudados a um partido republicano com a sua ética particular de proteger os seus, só agora se vê pelo menos o ESFORÇO de tentar apanhar alguém.
    Só agora.
    Nos intervalos convém refletir.

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