31 março 2010

Argumentário para um título (XIII)

"Si no lo veo no lo creo".
Os ingleses estiveram a pontos de achar uma brincadeira os celebérrimos 6-3 da Hungria em Wembley em 1953, caso o Barcelona tivesse marcado 5 golos nos primeiros 6 remates (dois deles na mesma jogada) ao longo dos 20 minutos iniciais no Emirates, o que faria os 5-0 do Arsenal ao FC Porto outra coisa menor.
Mas não foi assim e o 0-0 ao intervalo fez-me lembrar, hoje, aquele título em bom castelhano da Marca há precisamente 4 anos, na 1ª mão dos 1/4 final da Champions. A Marca, note-se bem, a pôr assim um título de um jogo do Barcelona, então de Rijkaard...

O 2-0 nos primeiros 15 minutos da 2ª parte já falavam da eficácia do Barça após o intervalo, com o bis de Ibrahimovic e aquele tento inaugural logo aos 15 segundos no reatamento.
Mas o Barça relaxou, passou a tocar a bola para trás em vez de para a frente como antes, Wenger tirou Walcott da cartola e, a despeito de duas substituições por lesão (Arshavin e Gallas), reorganizou o Arsenal (fantástico Eboué a entrar) e chegou ao empate, de forma tão miraculosa como havia escapado a uma goleada estrondosa: Fàbregas, a sonhar com o regresso a Camp Nou, empatou de penálti para se lesionar também no remate de raiva e acabar a mancar mas já ausente da 2ª mão por um amarelo acumulado na prova.
E sem os centrais Piqué (acumulação de amarelos na prova) e Puyol (expulso no penálti sobre Fàbregas), o Barça pode vir a sentir dificuldades inesperadas, tal como há 4 anos, na 2ª mão em casa, a despeito de ter jogado talvez o melhor futebol que vi na vida e que me fez lembrar o Ajax de Cruijff a ganhar com um golo de calcanhar de Krol 1-0 em Chamartin ao Real Madrid em 1973, na semifinal.
Há 4 anos a Marca viu, sem exagero, o que eu vi e o Barcelona falhou, sem escândalo no número, 10 golos fáceis de marcar para acabar 0-0 na Luz, com o Benfica. Se não visse, de facto, também não teria acreditado, mas hoje voltei a ver um desperdício de golos de Ibrahimovic, Pedro Rodriguez, Messi e Xavi - com defesas inacreditáveis de Almunia, mas também uma parada "impossível" de Victor Valdez a cabeceamento de Bendtner -, como tinha visto de Ronaldinho Gaúcho, Eto'o e van Bommel na última visita ao Benfica.
Chegou a ser pavorosa a forma como o Barça dominou o Arsenal em toda a 1ª parte, mas o 2-2 final faz jus à tenacidade dos ingleses a quem não se pode perdoar nada. E os do Barça, mesmo que passem porque são mesmo muito melhores, pelo menos em Inglaterra podem ter deixado escapar o facto, além do histórico resultado, de serem considerados justamente os deuses do futebol, que porventura ainda por lá se lembrarão dos Mágicos Magiares de Puskas e Cª.

2 comentários:

  1. «caso o Barcelona tivesse marcado 5 golos nos primeiros 6 remates (dois deles na mesma jogada) ao longo dos 20 minutos iniciais no Emirates, o que faria os 5-0 do Arsenal ao FC Porto outra coisa menor». Pois eu acho, que a conclusão deve ser contrária; o Barcelona em 20 minutos podia ter pregado 5 ao Arsenal que deu 5 ao Porto! Ou seja a que distância .. é que está o Porto actual (e aí não há desculpas do Hulk...)

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  2. A distância é relativa, mas é evidente que é uma distância galáctica. No futebol conta mais a eficácia que a intenção. Há quem confunda tudo. Se lhe metermos a qualidade estética, então o jogo torna-se de uma beleza que confunde, ou bela ou agreste.

    Quem quiser ser honesto sabe que o Arsenal não jogou para dar 5-0 ao Porto. Quem viu ontem o Barça parecia que eles queriam "vingar" algo: mais do que "ripostar" aos 5-0, que não tem nada a ver com o Barça, os catalães mostraram desde o início que eram e são melhores do que o Arsenal. Isto atendendo à genérica consideração, de algum modo justa, de serem duas equipas com futebol atractivo. Mas o Barça até meteu medo. E jogou para dar 5-0, devia ter dado 5-0 aos 20' e só quem não viu não acreditará.

    Por fim, o futebol é como é e acabou 2-2.

    Convém haver termos de comparação e aferir certas qualidades obriga a ver jogos pela paixão do jogo e não pela cor das equipas.

    O Hulk não entra aqui para nada. Nem o Porto. Apenas serve de referencial o último resultado, e os resultados enganam como prova este de ontem. Que fará (enganar) o desenrolar dos jogos, pelo menos para certas mentalidades tacanhas que não vêem além do próprio nariz. For good.

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