09 dezembro 2011

O que sentir?

"É vergonhoso estar na Liga Europa. Não estou preparado para isso. Queria a Liga dos Campeões ou nada.Na realidade tínhamos de ter acordado mais cedo. Não fomos profissionais desde o princípio da prova." - Patrice Evra, após a passagem do Man. United da Champions para a Liga Europa.

Pode um jogador, em nome próprio mas estendendo essa frustração à equipa ainda que não fale pelo colectivo, ter vergonha de jogar uma competição? Sabendo, antes do mais, que não fez o que devia para ter direito a disputar uma competição maior?

É este sentimento contrastante que nestas alturas, depois das indecisões do percurso anterior, deixa o habitual "tolo no meio da ponte", sem saber para que lado ir mas resignado a ter de ir para onde, aifnal, não queria.

Evra não é o primeiro a manifestar esse azedume. Desde 1995-96 que o United não joga a Taça UEFA, mas também ninguém lembra o que ali fez (0-0 e 2-2 eliminado por golos fora com o Rotor de Volgogrado!). E 10 anos depois aconteceu pior, conseguindo ser últimos num grupo tão fácil como este.

Na época passada, curiosamente outro francês, Ribéry dizia que "é impensável jogar na Liga Europa", estava o Bayern à rasca para obter pelo menos o 3º lugar da Bundesliga e ir ao play-off de acesso à Champions. Acabou por qualificar-se por essa via, eliminando o Zurique. Mas Evra vai ter de resignar-se a jogar na segunda competição da UEFA.

É natural estes jogadores sentirem o peso desta "despromoção". Jogam em clubes que têm aspirações de campeão europeu. Não são clubes de sonhar apenas em passar os oitavos, ou pelo menos chegar às meias-finais a partir das quais vêem e acreditam estar o jogo decisivo e a glória muito mais perto, à vista. Não precisam de manter os plantéis em Dezembro para triunfarem na Primavera. Fazem-no porque têm esse poder económico e uma tradição que não engana. Mas nem dinheiro nem tradição fazem sempre vitórias, nem em provas domésticas.

Ao "anunciar" o desinteresse na Liga Europa, o Man. United pode abdicar já de conquistar o único troféu que lhe falta na UEFA. Poderia ser uma aposta em renovar o título inglês. Mas está à vista que não tem força para tal. Vidic acabou de perder o resto da época, em mais um azar dos muitos que se empilharam em Basileia para trair o United. Aquilo, de facto, só visto e faz-nos lembrar muito da infelicidade na finalização do FC Porto a quem bastava um golito para seguir na Champions, mesmo que seja apenas para dar um salto de prestígio e sair a seguir, porque a equipa de Vítor Pereira não demonstra estofo para mais, sejamos justos.

Afinal, uma vez, Ribéry estava tão desinteressado da então Taça UEFA que o Bayern, com a final à vista, perdeu 4-0 com o Zenit em 2008 e viu os russos vencerem a competição. Quando se começa a sentir desprezo por uma competição, dificilmente se evita um "embaraço", como sente Evra, quando não uma "humilhação". Afinal, o United passava apenas com o 0-0 com que entrou em Basileia. Só precisava de não atacar e de não falhar na defesa como falhou.

Também vimos o FC Porto não ser "profissional" na 1ª parte da Champions. Teve o jogo na mão na Rússia e deitou tudo a perder e não foi capaz de justificar a vitória em casa com o APOEL, num jogo paupérrimo. Em Chipre conspiraram muitas maldades para ditar uma derrota com o cúmulo de um golo em cima da hora e em evidente irregularidade. Quando tudo corre mal...

Isto de pensar que são favas contadas dá... nisto. O United já empatou 3-3 aos 90' em casa com o Basileia... E se esse não era o grupo mais fácil, então não se consegue conceber outro tão fácil. O do FC Porto, ao invés, era bem mais difícil do que muitos proclamaram. E o facto de termos chegado a uma vitória do apuramento, inclusive do 1º lugar que se julgava impensável, só traduz a imprevisibilidade do futebol como a tentação das "facilidades" com que é encarado, por vezes.

O FC Porto, ou qualquer clube português, não pode pensar em ganhar a Champions, 2004 foi um acidente feliz que começou precisamente com o M. United. Cair para a Liga Europa é só uma benesse, de um regulamento injusto, a aproveitar, como outros no passado. Mas esta Liga Europa com tanto cheiro a Champions será o objectivo primordial?

Se antes de Donetsk questionei a "fome de títulos" que os jogadores portistas poderiam ter, vindo a demonstrá-la à saciedade um bocado tarde e sujeitos aos ares da desfortuna, a forma de reafirmá-la, sentindo a desilusão de 3ª feira, é ganhar em Aveiro ao Beira-Mar e vincar a liderança do campeonato que é sempre o principal objectivo.

Aveiro onde, com o 0-0 com o Feirense, se iniciou um ciclo inconstante roçando o medonho. E o facto de ser o Beira-Mar pode criar a ideia de "facilidades" das que saem caro menosprezar. Ao fim de 11 jornadas não pode ser por acaso que os auri-negros têm a defesa menos batida. O melhor ataque deve dar conta de si e a melhor equipa tem de estar em campo em todos os jogos.

Mais baldas podem dar resultados frustrantes como aquele que ainda sentimos. Não merecíamos seguir na Champions e, contudo, estivémos tão perto disso. Pelo que tem feito até agora, o FC Porto merece ser líder e só tem de reafirmá-lo para ganhar o campeonato. Se estiver bem no campeonato, a Liga Europa correrá melhor. Se claudicar em Portugal, não será a Europa a dar-lhe a mão.

A Liga Europa só vem lá para Fevereiro, quando campeonato e Taça da Liga já terão dado sinais do que vai ser o resto da época, a decisão com a meta à vista. E a Taça de Portugal perdida da forma indecente que se viu não pode estar nunca apagada da memória para se saber como é preciso competir e jogar para ganhar. Sempre.

Ora bem, este deve ser o caminho:
"a equipa tem consciência que, a jogar desta forma, estará muito mais habilitada a ganhar do que a empatar como foi o caso com o Zenit." - Vítor Pereira, hoje em conferência de Imprensa.

ADENDA: eis a típica notícia IDIOTA, referir uma discordância - que não é forçosamente uma "notícia", justificando apenas um comentário se a base de discussão for a mesma, que não é - inexistente. VP não acha injusto nem justo, diz apenas ser "legal" e contra isso nada, sabe-se que é mesmo assim. VP não deu opinião, não exprimiu o que AVB exprimiu e quem deu a opinião, deslocada e pateta, foi o jornalista. É o que há, quando não há nada. Uma tristeza.

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