23 dezembro 2008

Saldos em época de crise crítica

Confundir o vencedor da 1ª volta, ainda a 3 jornadas da meta, com o efémero e pífio título de “campeão de Inverno” é trocar a prima do mestre de obras pela obra-prima do mestre. Está ao nível da valorização dos “1/8” da Champions, esquecendo-se que Porto e Boavista passaram também a fase de grupos em 2001

As coisas acabaram por ficar na mesma. Mais grito, menos barulho, mais desespero, menos acerto, os 4 da frente, jogando todos em casa, empataram e a distância relativa que os separa não se alterou. Cada um pode remoer as circunstâncias de não ter conseguido chegar a primeiro ou, quem o é, ter-se distanciado mais. Mas o fantasmagórico penálti do Xistrema que impediu o Leixões de vencer no único dos empates do topo da tabela com golos não será invulgar ser relegado para o esquecimento.

É normal, também, que uns alegados defensores da competitividade e de um desejado equilíbrio do futebol português, sempre politicamente correctos mas num modelo tão tripolarizado que renega qualquer outra candidatura ao Parlamento da bola como se vê pela representatividade dos pardaleiros televisivos e demais experts de trazer por casa, passem ao lado da grande evidência do campeonato: quem joga melhor e, com mais ou menos meios, mereceria estar mais acima?

Não, os ideólogos da bola, aqueles que se acham acima de suspeita, optam não pelo positivismo de um ou outro “outsider”, mas pelo eventual negativismo dos 3 grandes, cada qual com a sua leitura intrínseca, mas diferenciada, e que eu resumo assim:
- FC Porto melhor face à mudança da equipa em profundidade e com resultados gerais aceitáveis em todas as competições;

- Benfica instável e sem estofo apesar do reforço de meios numa segunda época de milhões sem retorno com ameaça de colapso financeiro iminente;

- Sporting pior porque era o único com a base intacta mas as “contratações cirúrgicas” são agora “cirurgia às cataratas”, com resultados razoáveis na Champions e fracos na Liga…
Para mim, o Leixões é que merecia, de forma clara, a liderança nesta altura do campeonato, não só pelos menores recursos que tem, mas pela garra, brio e categoria do seu futebol escorreito e convincente – para quem se interessar pela qualidade do jogo, conceito que ultrapassa o ardor de clubismo e não tem adeptos - por muito que se ponham em bicos de pés nas televisões - mais difíceis de encontrar que agulha num palheiro.

O Leixões, recordo, foi infeliz no golo fortuito sofrido no último minuto com a Naval, idem na derrota imerecida em Guimarães e que agora voltou a ser atraiçoado por uma decisão arbitral que, por si só, representa o pior do futebol português, precisamente a arbitrariedade dos árbitros. Considerar que Bruno China jogou a bola com a mão após um ressalto dela em Beto é demonstrar, mais uma vez, como os árbitros portugueses falseiam os jogos com uma coragem que normalmente não têm contra os 3 grandes: não acredito que algum árbitro marcasse aquele penálti na Luz, em Alvalade ou mesmo no Dragão, este de novo assolado pelo apito inquisitório dos árbitros que voltou a sentir-se nos últimos jogos com a Académica, no Estrela da Amadora e agora com o Marítimo.

Tasca da Liga
Este poderia ser o meu balanço até à pausa natalícia. Mas não é, nem creio que se deva fazer ainda, porque a pausa em si não marca nada, é aleatória quando devia marcar uma divisão, mas a bizantinice da Liga do tasqueiro Hermínio torna cada vez mais idiotas os calendários das suas competições. Será do Guaraná, perdão da Cerveja? Que esquizofrenia atacou uma Liga cada vez mais atascada em procedimentos e decisões que prejudicam o futebol?

Até há uns anos a FPF levava, naturalmente, com todas as críticas pelo que fazia, ou deixava de fazer e mesmo pela confusão permitida entre futebol amador e profissional pela sacrossanta presença idiossincrática das associações e seus interesses de capela.

Mas há uns anos a Liga organiza os campeonatos e quando vinha melhorando, piorou. O estado está enfermo. Por muito branqueamento em estações de lavagem que se arvoram como insuspeitas mas só a varrer o lixo para debaixo do tapete, a Liga tem gerido mal o futebol profissional e há mais descrença do que confiança nesta tasca mal frequentada cujo presidente nem para mera representatividade serve.

Continua por explicar a meritocracia da redução da I Liga para 16 clubes, algo suposto avalizar ao fim de duas épocas de experiência. Há uns meses, o taberneiro respondeu mal ao JN quando abordado sobre o assunto. Ficou no rol das boas intenções dos diabos modernos que vão a votos o balanço da experiência a 16 clubes. Fosse para ganhar, sem o dizerem, espaço para a Taça da Cerveja que continua a atraiçoar os princípios que lhe auguraram nos primórdios. Fosse para reduzir probabilidades de incumprimento salarial de clubes, o que era irrealizável por estes obterem menos receitas por menos jogos, mas os mesmos espaços temporais que obrigam a pagar… salários.

A situação inenarrável do Estrela da Amadora, mas também de outros clubes e também na Liga de Honra, provam que de boas intenções está o inferno cheio. Portanto, mudaram as moscas na Liga e se apalparam a filha do dono da festa ele não se importa desde que siga a festa…

Prenda de Natal
Chegamos, agora, ao ponto morto da calendarização, com os idiotas do costume a bramirem por um título, mais odorífico que honorífico, de “campeão de Inverno”. É certo que a estação chegou, domingo, pelas 12.04 horas, mas os astrónomos são mais rigorosos que os astrólogos e ofícios correlativos, de tarólogas a parolos e ventríloquos…

Proclamar “campeão de Inverno” quando ainda não jogaram todos contra todos uma vez, cumprindo-se o “torneio de abertura” ou primeira volta, por exemplo sem o Braga e o Trofense cumprirem, como os outros, a dupla jornada contra Benfica e FC Porto que está na ordem de mais uma originalidade dos calendários cá da parvónia, não lembrava ao diabo. Nem a cachaço da Luz, nem a cachaça anti-frio…

Só faz sentido a paranóia de se pôr nome a tudo, antecipar metas, recolher frutos verdes, fazer vinho de azeitonas e azeite de uvas por ser Natal. Magia? Fantasia? Idolatria?

Numa invulgar época dos saldos já anunciados tal é a crise, absurda mas real, que grassa de forma crítica, há tanta coisa que abunda na mediocridade sem sentido em que Portugal se atola, sem respeito nem vergonha: os muitos anúncios de medidas a litro, ao quilo e por quilómetro que este rebanho, rodeado de pastores, oráculos e simples homens de fé, aceita, servil e resignado, pronto para mais um sacrifício com a matança, anunciada, ao virar do ano.

Parece ninguém dar por isso, esta idiotice do “campeão de Inverno” que é suposto coincidir com a 1ª volta completa antes do Natal, mas é Natal e, como no Carnaval, que se mistura o cristão com o pagão, ninguém leva a mal.

Tal como se desvalorizou o facto de em 2001-02 FC Porto e Boavista terem superado a fase de grupos da Liga dos Campeões. FC Porto e Sporting fizeram-no agora, rumo aos “oitavos” como se fosse a primeira vez. Sê-lo-á no novo formato, mas é tão meritório agora passar a fase de grupos como antes fizeram os dois emblemas portuenses, passando a uma segunda fase de grupos porque o figurino a isso obrigava mas não fizeram menos do que agora cantam as musas de entretenimento em que tantos basbaques se revêem.

Indulto disciplinar?
Se 2009 será tão mau como dizem, já sem a protecção da Senhora do Caravaggio que parece valer de pouco ao Chelsea (outro 0-0 na jornada de empatas também em Inglaterra), é difícil acreditar que no futebol continue para pior. Porque parece difícil engrossar o rol de idiotices deste 2008 sem rei na Liga e só o roque e a amiga na Comissão Disciplinar para as minudências jurídicas que salvam o regime, mas não limpam a face conspurcada indelével no futebol português tão vangloriado como vilipendiado.

E, a propósito, o já entronizado, e credibilizado pelos louvaminheiros do regime, CA da FPF já impôs como meta, tal qual o homólogo da Liga quanto ao Apito Dourado, decidir até final da época que castigo aplicar a Paulo Bento pelas declarações após o Sporting-Porto da Taça?

Ou sai, como mais um expediente de Natal, um indulto presidencial?

É a época do vale tudo. Porque não?

6 comentários:

  1. Excelente análise.
    Nada a acrescentar, ou melhor: o CD da Liga e o Taberneiro-mor afirmaram, a propósito do processo TU LUIS, em que EXISTEM PROVAS CONCRETAS sobre corrupção e tráfico de influências, bem como de substâncias esquisitas, que aquela investigação ESTAVA CONGELADA!
    Até quando, pergunto eu?!

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  2. Muito bem visto,

    Mas há mais, o capitão das papoilas foi expulso após o jogo de ontem. Ao que parece está a seguir o exemplo do maestro oleoso. Os responsáveis encornados ponderam, agora, proceder criminalmente contra o árbitro. As declarações do grego que lesionaou o anderson também não são meigas.

    Voltamos ao tempo do "vale tudo" ?

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  3. Aproveito para deixar um FELIZ NATAL e um BOM ANO ANOVO com muita saúde para todos (e muitas vitórias para o nosso F. C. PORTO).

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  4. Até quando?
    Até sempre.

    Ou nao se lembram que para além de agredir assistentes em pleno campo com "caldos" e visitas ao balneario do arbitro em pleno intervalo de jogo, estes tipos até jogadores podem inscrever ilegalmente (Ricardo Rocha)?

    O recreativo galinaceo esta acima da lei. Sempre esteve.

    Nao fosse terem dirigentes tao incompetentes e a coisa tornar-se-ia muito complicada.

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  5. E agora a Liga vai actuar disciplinarmente?
    Reparem nesta pérola:

    http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=155154

    Que républica das bananas. Estes gajos sao patéticos.

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  6. Ya, Soren podes crer. Esse gajo merecia um exerto de porrada monumental! Cada vez mais acho os lampiões uma raça desprezível!

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