Os campeões virtuais são aqueles muito iguais

Onde vale mais sê-lo do que parecê-lo e Hulk promete um Natal mais animado com o 1º lugar de facto… Um ano se fez da trivela do Quaresma na Luz; o Benfica preferiu oferecer dois pontos e dois perus para a quadra

A proclamação de um novo líder, ao fim de 104 jornadas e 3 anos e meio de competição dominada quase ininterruptamente pelo mais competente FC Porto, foi traída pelo sortilégio do futebol – e não só um, mas dois frangos de Quim! - que também teria tirado ao Leixões a liderança da Liga, pelo golo fortuito e imerecido sofrido nos descontos com a Naval, na sexta-feira.

Por cerca de 30 minutos, entre o 2-1 de Suazo e o 2-2 fantasmagórico de Anderson do “Ó para ela a entrar de bicicleta de fora da área”, o Benfica foi comandante do campeonato. E um pobre adepto dos que se contentam com pouco e a quem oferecem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, era apanhado na tv com um cartaz na bancada: “Vimo-nos gregos, mas somos líderes da Liga”.

Um comandante virtual e, por isso, que nunca chegou a sê-lo só próprio da fanfarronice de quem, em cada altura, publicitou que o Sporting era líder ao fim de não sei quantos anos-luz, apesar de ter um jogo a mais do que o Nacional e ser, portanto, líder à condição que acabou por perder no dia seguinte - mas deu para os pasquins do costume venderem mais uma data de banha da cobra.

Mais vale sê-lo do que parecê-lo e no FC Porto, onde jogar mal também já dá para ganhar à Académica, Fucile diz que “vamos andando devagar, caladinhos, sem falarem muito de nós” e Hulk garante a liderança dos Dragões na interrupção do Natal.

É possível, o FC Porto está em crescendo sem ter eliminado as dores de crescimento de uma equipa a precisar de carinho e alimento de pontos para os quais as exibições devem ajudar mas a prevista irregularidade, de uma equipa nova à procura da sua identidade, nunca iria ajudar a estabelecer-se como dominador – mas já se vai dando conta que é uma questão de dias a chegada à liderança bem ocupada pelo Leixões.

Este pode ser outro momento de viragem no campeonato, tal como há um ano, quando o 1 de Dezembro levou a trivela de Quaresma à Luz e praticamente sentenciou o campeonato com uma afirmação de categoria indesmentível de uma equipa então rodada e afinada, amadurecida e compacta, não em tirocínio como agora, mas em tese de doutoramento que teve 20 valores de vantagem no final, apesar dos descontos de secretaria de avaliadores sem juízo nem Direito.

O 1º de Dezembro em que se atirou, em 1640, certos condes e penachos pela janela, poderia ser lembrado, ainda em noite da trivela de 2007, como o do atentado ao bar “Avião” que fez o seu dono ir pelos ares. Mas a inteligentsia lisbonense ainda não viu a mãe do padeiro quanto a eventual criminoso. Ao invés, prefere volta e meia mostrar serviço e atormentar o País com o terror das noites do Porto, a que chamaram Brancas sem porem tudo a claro sobre uma onda de crimes que dá jeito focalizar numa área, qual Apito Dourado da Segurança Nacional, até descobrirmos que rapazes sem nome, e alguns do Norte, armazenam droga e guardam arsenais de armas num barracão da Luz, só para motivar mais uma manobra de diversão (sem piada) a querer negar a realidade e a não associar o predicado com o sujeito.

É destas pequenas grandezas e grandes misérias que se vai fazendo a história contemporânea do País e o seu futebol onde a Lusa continua impedida de entrar na Luz, ao arrepio da Lei, por ter feito uma notícia factualmente indesmentível; o 24 Horas já tem um processo a caminho do tribunal pelo desplante de decalcar a Lusa; e O Jogo um processo de intenções pelos inefáveis serviços de vigilância do novo escrutinador de opiniões do regime: o esgazeado director de comunicação do Benfica, ex-assessor de Jorge Sampaio e inverosímil denunciador de conversas privadas do então PR com Luís Figo.

Só assim se destacam. E os medíocres dão-lhe relevo. O hábito faz o monge.