29 junho 2010

"União" manterá boa vizinhança na Ibéria?

A Língua Portuguesa pode ser muito traiçoeira
e a História de Portugal repositório de inúmeras
questiúnculas com o "lobo" ibérico que sempre nos "ameaçou", pelo que o confronto de hoje no Mundial, a acabar mal seguramente para uma das partes (eliminada), deixará no ar o adequado cheiro a pólvora quando no futebol se misturam merdides e ninharias.



Basta ver as capas de hoje e perceber o bom gosto num lado e a péssima imagem noutro: curiosamente aquele que mais tenta "copiar" o modelo gráfico e as sugestões de leitura, amiúde ilegíveis, os desportivos espanhóis, particularmente o As e a Marca, ambos de Madrid. O que Record inspira faz lembrar os velhos capacetes de guerra que os tablóides ingleses estampam quando há embates com os "fritz" da Alemanha, estando os britânicos favorecidos pelo desfecho da WWII e, como sempre, cheios de... "bife".
Vem isto, por acaso, a propósito de umas pequenas "desinteligências" criadas na má informação corriqueira de bimbos e diletantes a noticiar o Mundial. Se o Português é traiçoeiro, a tradução feita por gente imberbe pode dar cabo das melhores relações e de alguma forma o "incidente" foi criado para apimentar, involuntariamente decerto, o ambiente antes do jogo.
Se del Bosque, homem cordato e sensato à frente da selecção espanhola, disse que "Portugal é Cristiano e uma equipa atrás", não quer dizer o que se leu na generalidade. O homem, tão mal visto como seleccionador como qualquer um é mal visto em Espanha tal e qual como no Brasil e Dunga sabe-o como Don Vicente - este até bicampeão europeu pelo Real Madrid que foi o clube da sua vida e pouco o considerou na hora dos grandes triunfos em 1998 e em 2002 na Champions -, queria dizer que Cristiano Ronaldo tem uma equipa, entendida como bloco compacto, a actuar por detrás dele, dando-lhe apoio ao jogador mais emblemático de Portugal, e por supuesto, a mais alta figura do Real Madrid. A má interpretação dada para sugerir que Portugal é uma equipa de retranca fez as delícias dos que perfilham essa ideia e até alvitram que só a entrada de Tiago para o lugar de Deco, frente à Coreia do Norte, como foi assinalado no 442, era sinal de contenção e tal só poderia vir de um escriba precisamente do Record, o que não é negligenciável...
O recurso à gesta histórica de Portugal em defesa das suas fronteiras naturais e da partilha do mundo conhecido nos tempos de Tordesillas há mais de meio milénio, feito por Carlos Queiroz, só abona, mais uma vez, a prioridade de ter um português à frente da Selecção Nacional, de resto um homem culto e bom comunicador mas também sujeito a más interpretações dos que gostam de adulterar o curso da História e misturar realidade com mitos digna de pirómanos.
Pelo que, com o "entorno" mediático e as declarações na véspera do jogo, antevejo um despique árduo e com picardias suficientes para azedar a questão para além do aceitável. Já se viu no confronto com o que dizem ser os "irmãos" naturais do Brasil que as coisas nunca são amistosas nesta altura da epopeia e com os "nuestros hermanos" até poderão piorar dado o carácter "mata-mata" do despique e com Mata do lado espanhol, mesmo que no banco.
De resto, o blá-blá-blá dos árbitros sul-americanos nos jogos de Portugal é tão contraproducente como as aleivosias atiradas por Lord Triesman a falar da corrupção da arbitragem mundial para favorecer a Rússia na candidatura à prova de 2018. O velho inglês falou demais com uma ruiva que nunca é de fiar nestas histórias de tablóide press e caiu tanto no ridículo como fora da presidência da "England bid" para o Mundial depois do Brasil-2014.
É uma coincidência, de facto, essa de árbitros da América Latina nos jogos de Portugal, como é coincidente aludir a um caso sob a alçada do espanhol Angel Villar, presidente da RFEF e da Comissão de Árbitros da FIFA que estaria em causa na teoria do desbragado lorde inglês que pagou por ter "bife" a mais, precisamente...
Portugal até tem tido árbitros latino-americanos bastantes nos seus jogos, dois deles em três jogos de 2002, o equatoriano Moreno (frente aos EUA) e o argentino Sanchez que João Pinto socou no estômago. Correu mal, na Coreia, mas correu bem na Alemanha, pois Larrionda apitou o primeiro jogo com Angola e ainda a semifinal com a França em 2006, além de o argentino Elizondo ter dirimido o embate com a Inglaterra nos quartos-de-final, em Gelsenkirchen, antes da apitar a própria final de Munique entre a França e a Itália.
Se os mesmos dirigentes federativos, ainda hoje na comitiva, não se incomodaram nos dois anteriores mundiais com vários sul-americanos presentes, Carlos Queiroz poderia lembrar-se que no Mundial-89, de sub-19 na Arábia Saudita, Portugal teve o mesmo brasileiro, Ramiz Wright, em dois dos seus três jogos do grupo inicial...
Angel Villar, alvo cimeiro da disputa Barça-Madrid por causa das arbitragens na Liga espanhola, não decide sozinho nem na Ibéria nem na FIFA mas é pouco cortês aludir-se-lhe mesmo que indirectamente por causa dos árbitros latino-americanos. De resto, com 2/3 da candidatura ao Mundial-2018, puxando por Portugal, veremos se o cozinhado de que se fala não transforma em esturro o que até há pouco tempo Saramago defendia como União Ibérica e os dois países mantêm como candidatos ao próximo Mundial cuja sede a FIFA vai decidir.
Se o "sangre" ferver como alguns forcados amadores de gosto duvidoso escolhem talvez o frio sul-africano que Portugal experimentará pela primeira vez num jogo à noite possa arrefecer quezílias que não perturbem, senão a "União" que o Nobel preconizava e menos ainda a idiotia compartida de Zapatero e Sócrates ineptos por igual nas suas governanças, o desejado Mundial-2018.
E que Ronaldo continue a unir de alguma forma os dois países. Mas depois do romance que os garanhões lusitanos favoreceram face aos avanços sobre uma espanhola de peitos avantajados, a faena pedida ao artista português deve ser contida nas quatro linhas e não numa arena circular.
Confundir as coisas é acirrar os ânimos e uma qualificação para o lote dos oito melhores do mundo dispensa más intepretações e imagens parvas que ilustram só a pequenice de (algum) ser português.
É claro que os maus exemplos são mais depressa e mais amplamente difundidos: nos jornais desportivos espanhóis destaca-se uma capa de um jornal português e não custa adivinhar qual. E a propósito de más interpretações, a declaração de Guus Hiddink, hoje seleccionador turco, de que Mesut Ozil teria "passaporte falso", como saiu no "Bild" tablóide alemão, na realidade foi de ter "passaporte errado", pois poderia ser utilizado pela Turquia o jovem médio nascido na Alemanha.
ACTUALIZADO: Eu acho que Queiroz revela coragem com este onze para logo:
Portugal joga com Eduardo; Ricardo Costa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves e Fábio Coentrão; Pepe, Raul Meireles e Tiago; Simão, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo. Mantem Pepe a trinco, troca Danny por Simão que me parece bem e mete Hugo Almeida em vez de Liedson. No fim do jogo os prognósticos são fáceis, mas este onze revela cuidado atrás e contundência no último terço do campo. No papel é assim; no campo vê-se daqui a pouco. Mas voltou a ser difícil prever o onze e este decerto escapou aos vaticínios.

2 comentários:

  1. Permita-me que venha aqui ao seu excelente post colocar uma questão que, desde há muito tempo, tenho vindo a levantar no meu círculo social.
    Refiro-me a atribuição da palavra "mata mata" aos jogos a eliminar que, desde a passagem de Scolari por Portugal, tem vindo a ser a preferida por alguma comunicação social e pessoas em geral, com o sentido de classificar esses jogos como decisivos para um dos contendores.
    Ora, pondo de lado o tratamento linguístico que melhor pode ser dado por quem de direito eu, por mim, desde as minhas partidas de futebol de rua do tipo vira-aos-dez-acaba-aos-vinte, aprendi a classificar tais jogos de "bota-fora".
    Para mim, soa melhor, é mais apropriada à expressão popular "botar fora da carroça", não entrou no acordo ortográfico luso-brasileiro mas foi lançada no léxico por um brasileiro e, fui comprovar, está no Dicionário da Língua Portuguesa. "Last but not least", no futebol não há touros de morte...

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  2. Caro amigo, tem toda a razão e o bota-fora é legítimo e bem português, de resto nunca fui adepto do Scolari e só aproveitei a deixa para a questão, também, do Juan Manuel Mata, do Valência, no banco espanhol.

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