27 junho 2010

Haja atenção e até "feeling"...



O Mundial, como é hábito, "começa" na fase eliminatória e ai está em cheio. Do monte de jogos dos grupos não acho que tenha havido grandes e especialmente muitas surpresas, ao contrário de outras opiniões. Alguns resultados imprevistos, afinal, de nada valeram por exemplo à Suíça (1-0 à Espanha) e Sérvia (1-0 à Alemanha). Surpresas, sim, os fracassos rotundos dos finalistas de 2006, muito por demérito próprio mais do que força e talento alheios. Salvo esses abalos nos grupos de França e Itália, passaram os previstos favoritos.


Até na fase de grupos alguns erros de arbitragem passaram despercebidos, até pela tónica geral e alargadas de boas arbitragens, aqui e ali excessivamente zelosas a cumprir as regras que "lá dentro" lhes indicaram e todos cumpriram quase a 100%. Eis, obviamente, que começam os choques a doer e hoje, pimba, polémica a dobrar. Golo de Lampard que não valeu e golo argentino que não devia contar.


olémica porque, também, o Mundial foi pouco interessante, ou melhor: pouco entusiasmante, porque interesse houve em jogos muitos equilibrados e evolução notória de selecções como a sul-coreana e norte-americana , japonesa e ganesa. Normalmente, quando crescem as equipas fora do eixo europeu-sul-americano, são as equipas europeias a pagar as favas, até por serem em maior número. Portanto, nada de extraordinário. E, daí, saltar-se agora para as polémicas.


Vou continuar a insistir e opinar em sentido contrário ao de muita gente que, reconheço, está em maioria esmagadora: não é preciso vídeo-árbitro. Se um dia houver vídeo-árbitro, a tarefa de arbitrar pode ser entregue a qualquer tipo, porque os erros serão corrigidos depois.


Nos lances de hoje ressaltam, claramente, duas situações: inacreditável desatenção no 1-0 argentino por Tevez. Pior: sendo um árbitro-auxiliar italiano, logo muito experimentado e também sob o ponto de vista mediático e com todos os lances escalpelizados no "calcio" por dezenas de televisões e milhares de comentaristas, custa mais um erro tão básico por nascer num tipo de gente preparada para isto. É, este, simplesmente inconcebível por resultar puramente de desatenção básica.


Já o golo de Lampard, com a bola dentro da baliza sem ser necessário ver repetições, resulta de ineptidão e falta de "feeling" do assistente uruguaio. O remate foi em jeito, não em força tal que impeça uma razoável percepção do ressalto da bola na trave e no solo. Há desatenção e, acima de tudo, falta de percepção do movimento da bola. Foi claríssimo, logo à primeira, que a bola caiu para lá da linha de baliza e subiu até à trave de dentro para fora, movimento que denuncia o impacto da bola no solo. Experiência precisa-se para estes detalhes.


Não é preciso vídeo, basta atenção e percepção para colmatar dois erros banais, o caso do fora-de-jogo já visto passar a favor da Eslováquia - má posicionamento do auxiliar - frente à Nova Zelândia (1-o momentâneo, acabou 1-1) e anulado indevidamente aos EUA (seria o 3-2 frente à Eslovénia, acabou 2-2).


Escusam de rasgar as vestes alguns puritanos que, na maior parte do ano, nem com vídeo conhecem a verdade desportiva, nomeadamente em competições nacionais... O clamor cresce, sim, porque há potências mediáticas em causa, desta vez a Inglaterra com razões de queixa. Fosse isto num anódino C. Sul-Nigéria ou mesmo num Sérvia-Gana e a coisa acabava no dia seguinte.


E, tal como os testes de doping continuam a ser negativos, no caso a 100%, nos Mundiais e Europeus, também os casos em que só o vídeo descortinaria uma boa decisão arbitral são raríssimos, muito menos de 0,1%, para justificar o vídeo-árbitro, de resto rejeitado pela FIFA e por mim, como adepto, porque não pode admitir-se um recurso a tecnologias numa competição internacional e não em provas domésticas. Os que advoguem dever existir sempre, não calculam os custos e não imaginam os problemas de regulamentação para definir lances-chave e momentos de paragem para consulta. Por fim, seria sempre uma ínfima parte de lances sujeitos ao vídeo-árbitro, para deixar a um mínimo os pressupostos para usar esse recurso.


Foi, é e sempre será este o meu ponto de vista.


Outra perspectiva é que, como agora é a doer, e admitindo que golos assim custem a "engolir" a jogadores e adeptos que têm razões para sentirem decepção e até raiva, tem-se visto agora futebol de primeira água e 4 jogos fantásticos de futebol, sacrifício, agonia pura, grandes jogadas, belíssimos golos e toda a gente presa à cadeira por prazer.


A Inglaterra, apesar de tudo, foi dominada e recebeu uma lição de jogo da Alemanha: e logo no começo do Mundial notei a diferença de uma para outra e mudei o meu vaticínio, apostando claramente nos germânicos. Mas os ingleses deviam ter ganho o grupo se tivessem marcado mais do que um mísero golo à Eslovénia, ainda que Rooney tenha estado muito em baixo para ser letal no ataque que Capello não soube definir claramente. Já a Mannschaft, um gozo a cumprir funções simples e eficácia modelar que é do seu gene natural de vida.
O México, apesar da réplica, sucumbiu a uma Argentina que encanta e para a qual já não se pode menosprezar o facto "apesar de" Maradona... De resto, Messi está a superar a prova do "10" com nota 20, apesar de lhe faltar o golo que não o deixa obcecado, forjando jogadas para dar a marcar, mas por pouco ainda não alcançou e, aí, fatalmente fazer explodir a "comparação", odiosa, com... Maradona.


Era de futebol, ao mais alto nível, que devia falar-se mais, embora faltem os mágicos "10" à excepção de Messi que Maradona quer recriar à imagem que foi a sua de jogador extraordinário e que me levantava suspeitas se Leo iria aguentar, a) por não descansar, b) por jogar em profundidade pegando jogo muito atrás para maior desfaste físico e sujeito a mais cargas e até lesões; c) a ideia de estarmos perante o novo Maradona à viva força, com desgaste psíquico penalizante. Mas o puto resiste a tudo e teve "golos feitos" que, caso fossem mesmo golos, já seria impossível negar o destino de ser o predestinado designado sucessor do maior génio da História do futebol moderno.


Gana confirma a evolução e único sinal positivo que já aqui elogiei entre os africanos, podendo bater o disciplinado mas só esforçado Uruguai nos quartos. EUA e Coreia do Sul mereciam algo mais mas mostraram já muito futebol com, realce-se, treinadores locais...


De Portugal, tudo nos conformes: recorde de invencibilidade para desfazer de novo o mito scolariano, muita azia dos críticos encartados, defesa sem sofrer golos e a prova de que é/era importante não perder o primeiro jogo, especialmente se for contra um adversário directo. Há que jogar com o calendário e às vezes só com o momento. A Suíça ganhou à Espanha - num golo que parece ter sido eu o único a notar a irregularidade - e foi incapaz de marcar a Chile e Honduras, com quem arriscou perder. O "safety first" penalizou algumas equipas que mostraram depois carências atacantes. A Nova Zelândia não jogou como os Camarões a surpreenderem em 1982, mas empataram 3 jogos. A Austrália lá ganhou um e também fez história nos antípodas de várias equipas europeias: esforçada Eslovénia e pobre Dinamarca que superou Portugal no apuramento mas levou banho de bola do Japão.
Portugal ia beneficiar do jogo da véspera de defrontar a C. Norte, entre C. Marfim e Brasil, sabendo gerir as situações perfeitamente. O emparelhamento com a Espanha, também previsível, deixa-nos na via de acabar com dignidade ou superar-se a um nível de grandeza que a Selecção Nacional ainda não terá mas que, se alcançar, vencendo, será uma proeza de alcance mundial, isso sim, legitimando todas as perspectivas futuras.


O que deixa alguns verrinosos ainda com esperanças de malharem mais no que não gostam e tenho dúvidas que abundassem por estes dias na Imprensa incomensuráveis registos de recordes já alcançados pela equipa de Carlos Queiroz, para mal dos velhos do Restelo que são os mesmos há semanas a anunciar vendas milionárias ainda por concretizar.

3 comentários:

  1. Viva Zé Luis,

    Realmente para que é preciso video, chips ou o que quer que seja quando qualquer adepto com os olhos abertos pode descortinar a esmagadora maioria de erros garrafais dos arbitros neste Mundial. Incluidos os de ontem, está claro.

    A FIFA consegue dar uma no cravo e outra na ferradura. Monta um espectáuclo como um Mundial e depois dá aos jogadores uma bola sofrivel, digna das regionais, e coloca em campo arbitros sem prepraçao e com a inevitavel escolha desafortunada de lançar para duelos entre europeus arbitros de outras federaçoes. Sem sentido nenhum.

    Portugal terá de ter cuidado, nao se esqueça que o amigo da candidatura iberica é tambem presidente dos arbitros da FIFA e que joga muito na campanha da Roja que está bem por debaixo do que se esperava, da mesma forma que a eficácia defensiva portuguesa (unica a zero golos sofridos) terá o seu grande duelo contra o ataque espanhol.

    Esperemos, pelo menos, que, por uma vez, CR7 se solte desse problema pessoal de se jogar com um espelho em frente e que Queiroz abdique de Danny por um homem fixo no ataque, abrindo as alas, pressionando o meio-campo espanhol, exausto, e aguentando a primeira carga para dar o golpe de misericórdia.

    Um abraço

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  2. Olá Miguel Pereira,

    não tenho andado por aqui com frequência e acompanho as coisas muito à distância.

    Essa questão dos árbitros e a "política" universal da FIFA é questionável e a estas horas costuma dar maus resultados. Vamos ver se há mais barracas, mas as de ontem têm clara explicação humana, ainda que nada profissional.

    Eu acredito, até pelos bons exemplos da 1ª fase, que são dadas todas as instruções e condições para os árbitros fazerem bem o seu trabalho. E, de qualquer modo, no melhor pano cai a nódoa. Não ouvi mais nada, entretanto, do Olarápio por lá, mas creio que já foi recambiado.

    Acaba por ser injusto, pois seguem na prova árbitros que fizeram algumas pequenas asneiras na 1ª fase e o Olarápio não comprometeu.

    Sobre o derby ibérico, pase lo que pase, é uma glória para Portugal. Para a Espanha, vamos a ver...

    Não tenho ilusões quanto à capacidade de cada equipa e mantenho o meu vaticínio que aponta(va) para uma final europeia, talvez Espanha-Holanda ou até a Alemanha, ainda que a Argentina me agrade muito mas confio no que é sempre fiável a impressionante Mannschaft.

    Já li, de relance, algumas considerações tuas e menos abonatórias para as equipas europeias, mas não tenho tempo para comentar.

    Vamos lá comer e ver a Holanda que me agrada também.

    Sobre o CR7 e o espelho a que aludes, presumo que é o ecrã gigante de cada estádio para onde ele está sempre a olhar. Se for essa a tua observação, partilho complatamente e acho que, além da vaidade espelhada em cada olhar do CR para os topos dos estádios, há uma distracção que não cai bem para o seu rendimento.

    Bem observado e não sei se alguém o terá feito entretanto. Sigamos atentos.

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  3. Viva Zé Luis,

    Espero também uma final europeia mas acho que este Mundial tem sabor sul-americano. O que é uma má noticia para a FIFA que se muda de armas e bagagens para o Brasil. Alguém imagina o país dos cinco mundiais (de momento) voltar a perder em casa? Precisamente.

    As equipas europeias que cairam foram as que tinham de cair, por motivos já conhecidos antes do torneio. Que podiam ter sido escamoteados num cenario europeu, do seu agrado, mas que, como em 2002, deixaram a nu os reais problemas de muitas selecçoes. A nossa, com uma mentalidade de competiçao (primeiro defender, depois atacar), aguenta-se bem e pode sonhar. Ganhou esse direito.

    Quanto a Ronaldo, precisamente, é esse o "espelho" e apesar de ser um admirador do seu estilo de jogo, nao gosto da forma como olha para cada jogo importante como a sua coroaçao pessoal. Esses MVPs anedocticos ja lhe subiram à cabeça e a tentativa de marcar o golo do mundial tambem. Acaba por ser um lastre em vez de ser, como devia, o desiquilibrador que uma equipa organizada mas sem chispa precisa.

    Um abraço

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