O Inter ganhou esta noite ao Barcelona e por 3-1, virando o resultado. Contundente nas subidas à área contrária, partindo de um sector recuado quase a pé fixo - só Maicon subia, para rivalizar com Dani Alves como melhor lateral direito do mundo e sorte a do Brasil ter dois face a Portugal sem Bosingwa na África do Sul, mesmo que este não se lhes compare sequer.
Tal como Hiddink com o Chelsea na semifinal de há um ano na 1ª mão em Camp Nou, Mourinho fez o jogo de guerrilha e saiu-lhe a lotaria. Não só porque limitou os danos atrás, tal como fez no 0-0 da abertura do jogo de grupos entre ambos na primeira fase da Champions. Mas porque aproveitou quase todas as oportunidades que teve, com insistência e fé, objectividade e pragmatismo. E porque, defendendo até à retranca absoluta no final, evitou os cantados golos barcelonistas que a péssima realização e enquadramento da câmara faziam desesperar ainda mais sem se saber se a bola entrou ou não: porque alguém cortava a bola sobre o risco (Lúcio) ou porque Júlio César impedia as ocasiões catalãs.
O jogo súcio, com faltas e dureza a meio-campo para neutralizar Messi e, especialmente, Xavi, vingou, tal como com Hiddink. Este, como Mourinho agora, não se compadeceu com floreados e a boa imagem, reconheceu ser impossível jogar de igual para igual com o Barça - como quis fazer o Real Madrid -, jogando defensivamente para surpreender ofensivamente. Jesualdo nunca faria isto e, por isso, sempre foi tão "naïve", ingenuidade partilhada pelos jogadores com que pretendia encarar, sem subterfúgios, os tubarões europeus.
O estilista Jesualdo era trucidado na passarela europeia em fases mais avançadas, a eliminar, da Champions. Hiddink e Mourinho mostram como é.
O que levanta a questão do "melhor futebol" ser ou não premiado e se isso interessa. Mourinho há muito joga pelos resultados. Hiddink procurou-os também e acabou traído no último minuto da 2ª mão em casa, com o golo de Iniesta que levou o Barça à final.
Os "puristas" que se levantem, agora? Bem, a avaliar pelos comentários da RTP-1, parece que o primado da beleza voltou a cair por terra. Com a agravante de não se perceber que, a par do posicionamento e a cultura táctica, os médios do Inter jogaram forte e feio. De resto, discordo também no alegado cansaço mental do Barça face à pressão estratégica do Inter. O Barça esteve sempre cómodo no jogo, se não furava entre tantos defesas não se incomodava, até marcou primeiro e na fase de maior pressão, em que era suposto jogar afogueado e "desesperado", só não empatou por milagres e acasos. Sempre no seu jogo de toque e em progressão, entrou na área, saiu dela, voltou a entrar e se aflição havia era na defesa italiana. Apesar da péssima transmissão televisiva - até nisto os transalpinos perdem para os outros grandes países do futebol europeu - foi o que vi claramente esta noite.
Pareceu-me, isso sim, que havia mesmo cansaço físico e o desgaste da viagem de autocarro fez-se sentir no Barça. Os jogadores estavam presos "muscularmente", não reagiam nos piques nem eram fortes nas divididas. Os arranques para a frente não eram demolidores nem aventureiros. O vulcão da Islândia deixou muita aviação em terra e a frescura e aragem do futebol perfumado em progressão ficou algures pelo sinuoso caminho até Milão, via Cannes. Vai ser interessante, já agora, ver como o Lyon, que se fez também à estrada, se comportará amanhã em Munique.
O Barça manteve a sua identidade e estilo, o Inter disfarçou-se de equipa grande, jogando na guerrilha e espreitando jogadas de quatro jogadores no máximo junto a Puyol e Cª. Mourinho e Hiddink ficaram-se pelas meias-finais com o Chelsea, mas o português aprendeu a lição e o holandês não pode repeti-la.
Curiosamente, já na eliminatória recente com o Chelsea o Inter jogou assim, na espera e com dureza que os adversários não costumam sentir: jogo súcio, à sul-americana, feito de faltas programadas, embrulhadas em concorrência leal, favorecidas pelo povoamento do meio-campo e proximidade dos jogadores cientes do seu papel. Depois soube punir os ingleses com golos de oportunidade, como agora repetiu com o Barça.
Parece, portanto, que o designado "melhor futebol", na altura crucial da época, não só deve ser mandado às malvas, com aceitação bovina dos "doutores do futebol", como é irrelevante face à primazia do resultado. E se este confirmar a aposta, melhor: foi o que também ouvi na tv. Mesmo na iminência do 2-3 e até de outro golo catalão, parece que vi outro jogo diferente dos tipos da RTP. Para não variar, achei bem a saída de Ibrahimovic, quando o Barça precisava, antes de olhar os seus avançados, de fazer levar a bola à frente e criou mais perigo depois do acerto de Pepe com Abidal à esquerda com Maxwell.
Isto para não falar dos princípios tão do agrado dos "doutores do futebol", capazes de elocubrações mirabolantes para dizer que é nerazzurro o que foi blaugrana.
Mas, enfim, o futebol não é... isto?
Não tenho dúvidas que uma derrota pela margem mínima seria revertível pelo Barça para a semana. Assim é mais difícil, mas alcançável. Vencedor mesmo, esta noite, pareceu-me a Roma - pelo "scudetto" de que o Inter abdicará provavelmente, confortado nesta ilusão de estar mais perto de Madrid...
nota: Mourinho já avançou para a 2ª mão:
E Pep Guardiola parece os do FC Porto, anteviam mas não anularam:
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