Na 3ª à noite, após o carimbo da qualificação na Champions obtido em/no Chipre, não desgrudei da tv porque logo a seguir havia uma entrevista com Carlos Queirós na RTP-N ("Trio de Ataque"). Há quantos anos um treinador não falava de futebol na televisão, comentando as suas opções, falando de jogadores não convocados ou excluídos por lesão, má forma ou simplesmente de ter sido relegado para suplente no seu clube, abordando opções tácticas e os sistemas de jogo para a selecção de Portugal.
Ou a sua comunicação passou ao lado, ignorada quase olimpicamente na blogosfera e reduzida a questões de pormenor em curtos espaços nos "desportivos" em papel, ou mereceu até alguma zombaria despropositada. Porque, além de uma excelente pessoa e bom comunicador, com português escorreito e ideias claras e denotando amadurecimento, Queirós falou do seu cargo específico e não se gosta de bacalhau. Falou de futebol como um "desígnio nacional" que vai muito além de pôr bandeiras à janela, apostando consciente e firmemente num dos produtos mais vendáveis do País. "Temos muito a fazer pelo futebol português e há muito para fazer no futebol português".
O professor foi como que à escola, tal como o professor do Dragão tem de dar noções básicas de futebol a jogadores jovens e jornalistas inexperientes quando não mesmo imbecis.
Queirós até falou de Scolari, para frisar uma das muitas (a última?) desconsiderações do bronco brasileiro com quem muitos tugas ansiaram mancomunar-se... Scolari que fez um manguito à colaboração de prestar auxílio e ceder documentação dos seus 5 anos de reinado a quem lhe sucedia no cargo. Scolari por quem muitos suspiram ainda, qual Salazar... O chefe era ele, lembram-se?
O seleccionador falou de Quim, de Beto, de Pepe, de Meira, de C. Ronaldo, de Nani - e há tanto parolo a discutir certas opções relativamente aos dois jogadores que orientou e levou para Manchester -, de 4x43x3, de 4x4x2, dos jogos com a Suécia, Albânia, Brasil (a "selva"), a relação com a Imprensa e a casta de maldizentes cegos ante os desmandos e as imbecilidades do ex-seleccionador brasileiro que chupou até ao tutano a boa teta que lhe deram para mamar e que de início ele desprezou. Podia evocar aqui alguns detalhes da entrevista e as costumeiras impertinências de tipos pouco lúcidos como APV na questão da saída de Quim que passou como o único que pagou pelo 2-6 no Brasil - uma derradeira indelicadeza da herança de Scolari com um amigável absurdo e com todos os ingredientes para dar em descalabro como sucedeu. Quim, frangueiro nesse jogo e que já antes tivera a saída em falso num canto pelo qual a Dinamarca fez 2-2 aos 88', que perdeu por causa de um frango com o Setúbal a titularidade na Luz...
Mas de Portugal teremos em breve tempo para falar, para o play-off com a Bósnia. A verdade é que, sem desviar-se do tema da selecção (e das selecções que foram esquecidas pelo então "o chefe sou eu"), Queirós acabou por ditar uma frase lapidar logo de início e que ia de encontro ao que voltamos a ver no FC Porto.
Quanto ao sistema de jogo, suas variações e intérpretes adequados, Queirós rematou com a frase acima descrita: nada supera um bom drible, um bom passe, um bom remate. Vimos o FC Porto fazer o pior jogo da Champions em quantidade de passes acertados, vimos Rodriguez não segurar uma bola, vimos Hulk a tabelar mal ou nem tabelar com um colega, vimos Hulk isolado sem fintar o guarda-redes, vimos Falcao isolado a rematar à figura do guarda-redes.
Vimos, por fim, Falcao fazer um bom movimento a fugir ao central e a rematar bem, cruzado e rasteiro, para um golo de belo efeito. E tudo pareceu esquecido com a vitória, variando o humor dos adeptos entre a fraca exibição pelas bolas (mal) perdidas e o triunfo sem mácula e apuramento antecipado que não deixam de nos trazer contentes.
A verdade é que não há treinador "a salvo" com maus passes, maus dribles e maus remates. Jesualdo praguejou em Chipre, Queirós deitou as mãos à cabeça face aos golos falhados de Simão ante a Dinamarca em Alvalade e em Copenhaga. Falcao acabou a marcar, Simão foi crucial nos dois jogos finais do apuramento ao ponto de ser apontado como salvador.
O futebol é isto. Sem dúvida.
Touché,
ResponderEliminarGostava de ter tido a oportunidade de ter visto a entrevista, tenho o CQ como dos poucos técnicos portugueses que realmente percebe de futebol. E nao apenas na sua dimensao no relvado mas como fenomeno em todo o seu esplendor. É vergonhosa a forma como tentaram apagar o seu nome como raiz de todo o sucesso do futebol portugues a nivel de selecçoes pelas criticas que disparou à FPF que antes dele deixava passar a vergonhosa imagem de Portugal que se viu no Euro84 e em Saltillo.
Efectivamente o problema de Portugal - que já o era ha muito com o brasileiro que muitos clubes anseiam para treinador, como sempre se diz - como deste FCP nao é tanto o tecnico. Este pode ter as suas limitaçoes, ter as suas manias, os seus esquemas e os seus metodos. Tem legitimidade para tal. O problema está na atitude e na envolvencia do proprio jogador. Quando o "Simaozinho" falha um livre, um centro, um remate ou o que seja, que culpa tem CQ? O adepto habitual dirá que foi ele quem o pôs a jogar, mas realmente isso é justificaçao? Da mesma forma que os falhanços escandalosos em Chipre - e como já aqui foi dito é impressionante que o FCP tenha tantos remates como o SLB e o nivel de eficácia esteja tao por baixo - nao podem ser culpa do JF. Esse ganhou o jogo ao colocar o Farias em campo. O Falcao limitou-se a fazer num lance o que nao conseguiu em todas as tentativas prévias. Se o tivesse feito, ele e outros, em Chipre ou na liga, hoje o FCP seria lider e teria um apuramento europeu bem mais tranquilo. Tal como Portugal.
Apesar da qualidade de jogo.
"O adepto habitual dirá que foi ele quem o pôs a jogar, mas realmente isso é justificaçao".
ResponderEliminarMiguel, CQ é uma pessoa com formação superior e formação humana. Por isso, é um treinador que, sozinho, quer ter o sucesso que teve como adjunto de Ferguson. Um sucesso que não podia ter na transição dos sub-20 para os A de Portugal, ele e os jogadores "elevados" de categoria muito novos. Não pôde triunfar no Sporting porque o FC Porto era muito forte e ainda é hoje. Não triunfou no Real Madrid por causa dos galácticos que escondem poeira cósmica a que as pessoas nem ligam mas pode destruir o trabalho de toda uma época - para quem não saiba ou queira esquecer detalhes, foi com CQ que o RM começou a fazer a preparação em turismo asiático!!!
CQ é um comunicador. Um estudioso. Um metódico trabalhador. É um bem imprescindível, como foi ele quem alavancou o processo do jogador português capaz de se afirmar a nível internacional. Dessa geração de ouro tirou partido o Scolari. CQ não a tem, não sobra nenhum.
E face a esses "piores" jogadores, permita-se a expressão, ele sabe o que é, o que tem e como prepará.los. Os adeptos não sabem nada. No final verão os resultados.
Nesta entrevista, CQ chegou ao pormenor de dizer que hoje não falta a nenhuma das várias selecções um autocarro ou uma refeição. Pressupõe que aquilo andou ao Deus-dará.
Mas ainda quanto aos jogadores e pegando na tua expressão, CQ foi pragmático quando confrontado com os assobios na Luz antes do jogo com a Hungria.
"Aqueles que me assobiaram ou assobiaram o meu nome foram os que aplaudiram os jogadores quando entraram em campo. Estavam, afinal, a aplaudir as escolhas que eu tinha feito".
Chega?
Zé Luis,
ResponderEliminarDevo ter-me explicado mal porque defendemos os dois exactamente o mesmo neste caso.
A minha expressão foi precisamente irónica (falta-te o ? no final para nao sair de contexto) e reportava-me à habitual expressao do adepto que, quando nao tem onde pegar contra um técnico, escolhe um jogador e diz que a culpa de ele ser mau é do técnico que o coloca a jogar. O que é ridiculo, já sabemos todos.
Já escrevi vários artigos a defender o CQ e continuarei a faze-lo porque acredito que é o homem fulcral para regenerar a selecçao, demasiado podre com a dupla Madail-Scolari e cuja consequencia se está a pagar agora, nao só com os A, mas principalmente com a formaçao. Ninguem conhece tao bem o futebol portugues como ele e ninguem tem a preparaçao tecnica e humana para fazer o que tem de ser realmente feito.
Nao é por acaso que uma velha raposa como o Ferguson o quis sempre ao seu lado. E nao é de surpreender que o CQ queira afirmar-se por si mesmo. Como dizes bem o FCP foi demasiado forte para o seu Sporting - e a instabilidade em Alvalade também nao ajudou, como é habitual. No RM foi crucificado por F. Perez e pela tropa galactica como sempre sucede a qualquer tecnico competente que por lá passe e os obrigue a trabalhar a sério.
Concordamos a 100% que a vaca foi toda exprimida pelo brasileiro e hoje sobre o orgulho proprio do CR e de alguns jogadores que fazem a "transiçao". CQ não tem matéria prima porque Scolari secou a árvore. É preciso voltar ao principio e defendo que, passe o que passe, CQ deveria ser seleccionador até 2014 como minimo. Para ter tempo de planear, com a tranquilidade que nao lhe querem dar em Lisboa, uma nova geraçao de nível.
A frase final é, como sempre, puro ouro.
cumprimentos
Deixo o link da entrevista para quem nao pôde ver
ResponderEliminarhttp://www.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=17798&e_id=&c_id=7&dif=tv
Obrigado pela dica Pedro.
ResponderEliminarum abraço
Mais estatísticas:
ResponderEliminarChampions: F.C. Porto é o que mais remata e menos acerta
Dragões têm 76 pontapés em quatro jogos (média de 19)
À atenção de Jesualdo Ferreira: o F.C. Porto é, de longe, a equipa com a pontaria menos afinada na Liga dos Campeões. Os dragões são aqueles que mais tentam o remate, o que é um dado muito positivo, mas também os que mais atiram ao lado.
Os dados oficiais são esclarecedores: em quatro jogos, o F.C. Porto rematou 42 vezes sem atingir as balizas adversárias, num total de 76 pontapés. Pede-se mais tranquilidade, mais serenidade, aos azuis e brancos na hora destas decisões.
Todos os resultados e classificações da Liga dos Campeões
Em contraponto, Jesualdo deve estar satisfeito pela forma como a equipa vem defendendo. Helton sofreu apenas dois golos. Melhor apenas a Juventus, que apenas permitiu um golo aos adversários.
Ex-dragão é o que mais faltas sofre
Números oficiais
Golos marcados:
Fiorentina e Real Madrid, 11
Arsenal e Sevilha, 10
Chelsea, Lyon e Marselha, 8
...
F.C. Porto, 5
Golos sofridos:
Juventus, 1
F.C. Porto, Lyon, Chelsea, Bordéus e Barcelona, 2
Remates para a baliza:
Manchester United, 38
Arsenal, 37
Real Madrid, 35
F.C. Porto, 34
Zé Luís :
ResponderEliminarRealmente não estará ao alcance de todos raciocinar com a clareza que o fazes !
Carlos Queirós merece o nosso reconhecimento e respeito
(pela pessoa que é e pela obra
realizada em prol do futebol português ) !
Um abraço