20 abril 2010

I. O Barça e Jesualdo






"Olhando para o Barcelona, o 4x3x3 não é assim uma coisa tão ultrapassada como alguns dourores do futebol quiseram fazer crer. Continuo a pensar que é o sistema do presente e do futuro, assim saibamos escolher os jogadores que o interpretem bem. Fiquei também a saber que é um sistema bastante ofensivo, assim o queiramos tornar. Também confirmei que permite nuances tácticas brilhantes, como sempre pensei antes, mas nunca tive equipas para o provar. Portanto, ainda bem que o Barcelona ganhou a Champions a jogar tão bem", Jesualdo, em entrevista O Jogo, 8/6/2009.

Guardo poucos recortes e (agora) muito menos jornais. Este já tinha o pressentimento de me ser útil. Eis a oportunidade.

O "problema" de Jesualdo foi, de facto, continuar iludido com o 4x3x3 que é da sua preferência estilística e de génese táctica. E, afinal, condensa o seu erro estratégico desta época, o de insistir num sistema eleito, escolástico e que lhe deu resultados. Mas não teve os tais intérpretes para o fazer. Não foi tanto querer, nem digo copiar, seguir o exemplo do Barcelona. Parecendo simples, só quem souber a partitura dita a música em campo. Hulk e Rodriguez, por exemplo, são falsos extremos, Varela foi-se tornando um, evoluindo de segundo (ou primeiro) ponta-de-lança de raiz. Mas era pouco. E qualquer um deles jogar como avançado, contando o homem de área, não faz um tridente de ataque como deve exigir o 4x3x3.

No contexto europeu, bem entendido. Porque a nível nacional, o FC Porto impôs-se, apesar de dificuldades pontuais com o losango de Paulo Bento - e na altura bem referi isso aqui, na primeira época de Jesualdo, apontando estas discrepâncias sem renegar a validade do sistema! - e que agora prosseguiram com o de Jorge Jesus.

Pegando, como deve adivinhar-se, no jogo desta noite e que me merecem reflexões sucessivas:

O 4x3x3 do Barça e o do Inter tem jogadores que, mais à frente (os catalães) ou mais atrás (os interistas), jogam abertos, soltos, flanqueadores ou interiores, combinando com o avançado-centro. Nem cultura táctica nem disponibilidade física e empenho defensivo Rodriguez ou Hulk têm para tornar praticável o 4x3x3 que Jesualdo sonhava. Tinha uma ideia. Faltava passar à prática. Então, na Europa, a diferença de qualidade era gritante. E esbarrava mais com sistemas de maior densidade populacional no meio-campo de adversários de mais valor: Arsenal, M. United, Chelsea, menos o Liverpool que por os ter em menores qualidade e quantidade não se impôs ao FC Porto como os carrascos ingleses de Jesualdo.

1 comentário:

  1. Lúcida análise, sintética e objectivamente esclarecedora do futebol praticado esta época pela nossa equipa. É um lugar comum mas também não é fácil fazer uma boa omeleta sem ter bons ovos.

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