29 junho 2010

La sangre em mais uma noite de facas longas

Os palhaços das faenas perguntam por soluções para contrariar o jogo espanhol made in Barça e CR7 volta a alijar responsabilidades como já fez com Ferguson na final da Champions
Bem me parecia que aquela capa parola do Record poderia servir de mote, ou isco, para o pós-jogo do duelo ibérico no Mundial. Ainda que sem pôr em causa a união peninsular na candidatura ao Mundial-2018, com um jogo que até correu limpo e foi correcto à parte a estapafúrdia expulsão de Ricardo Costa e o teatro dispensável de Capdevila que antes viu perdoada pelo árbitro uma falta evidente e grosseira sobre Ronaldo, não deixa de sentir-se o cheiro a mofo e um sangue que andou escondido enquanto os touros tristemente enraivecidos não saltaram para a arena.
A faena saiu mesmo como se previra nos mais avisados comentários e apesar da concordância unânime do mérito e justeza da vitória espanhola, fácil e fatalmente prognosticável e sem miasmas nem fazer de conta que Portugal poderia jogar de outra forma e melhor para anular o máquina "roja", não há dúvida que o jogo vai dar que falar e já deu que falar. Há, como se sentia de resto pela ausência de retaguarda e de muitas explicações convincentes e transparência q.b. para o povo da bola perceber certas coisas dos bastidores que também interessam e importam a todos, cheiro a sangue.
Mas os palhaços que fazem certas capas de jornais não vão perguntar ao Cristiano Ronaldo porque não cumpriu a faena que lhe pediam ou não puxou do ketchup que há dois anos está ausente da sua parte na Selecção onde foi protegido, mimado e erguido ao patamar de capitão que alguns recusavam negar-lhe o mérito de merecer a braçadeira. Ouvi mesmo uma pergunta, capciosa, do controleiro do regime quanto ao seleccionador encontrar uma fórmula adequada para contrariar o que há anos se sabe do jogo espanhol de toca e vira, gira e dura, dura, dura...
Estava, ainda assim, o mundo e o Mundial posto em sossego com uma normal, lógica, prevista e cantada vitória espanhola, porque eles são melhores e até muito bons no que fazem, quando a barraca caiu de vez com a mensagem do capitão da Selecção para irem chatear outro e perguntar "ao Queiroz" pela eliminação.
Também houve unanimidade em condenar este comportamento indecente e insolente de CR7, que ainda se julga não dever dar provas do seu valor na Selecção. Pela primeira vez neste Mundial vi o pós-jogo e os diversos canais com comentadores e entrevistas. Sim, talvez por me cheirar a sangue, mas muito por pressentir que a paz podre, antes espoletada com a reacção inusitada de Deco a sair do jogo com a C. Marfim como aqui escrevi, ficaria às escâncaras. Ninguém poupou CR7 e certamente todos querem vê-lo pelo menos sem a braçadeira para a qual não tem estaleca.
Tudo isto num jogo normal, onde ganhou o melhor, mesmo com um golo irregular mas de difícil percepção a não ser para os tolinhos que advogam o recurso ao vídeo-árbitro. O toque de Xavi para trás deixa Villa em fora-de-jogo e o braço no ar de Ricardo Costa, que foi fechar Xavi no meio, inútil tanto quanto a defesa de Simão no flanco por onde rasgou o matador espanhol. E num jogo em que por uma hora Portugal deu boa réplica e pode sair, não com a missão cumprida, mas com o sentido do dever, orgulho no trabalho e confiante no futuro, obviamente de cabeça erguida no regresso a casa.
Estava tudo posto, por isso, em sossego, mesmo apesar de um pedir a entrada do Deco, outro a reclamar a falta de resposta de Pepe e o clássico Freitas Lobo a clamar que contra os 160 centímetros de Xavi e Iniesta não vale a pena os 185 do Pepe como se a função deste interferisse com a daqueles maestros do jogo espanhol made in Camp Nou, mais propriamente na cantera de La Masía.
Queiroz reconheceu a superioridade espanhola, tantas vezes vista em dezenas de jogos nos últimos dois anos coroados em Viena com um espectacular título europeu de salero e bom jogo. À maneira de escândalos inomináveis até com repercussões políticas, como se nos faltasse um "prêt a porter" da França e um corte a direito à moda italiana saídas do Mundial sob vergonha e com estrondo, bastou ouvir uma ou outra declaração, a quente ou a frio mas sempre sem a presença de algum assessor ali levado para a tarefa nos contactos com a Imprensa, mais uma vez sem se vislumbrar sombra desses vultos que arranjam cadeiras e ajeitam microfones, para o caldo se entornar.
Que CR7 use muito ou pouco molho de tomate importa-me tanto como as miúdas que dizem põe de escabeche do jantar ao pequeno-almoço seguinte. Lembro, só no que importa, que após a derrota do M. United com o Barça na Champions de 2009, afirmou "the tactics was no good", atirando as culpas para Alex Ferguson pelo desaire de Roma por 0-2.
Poderia recuar mais e recuperar o seguir em frente sem falar na zona mista quando o FC Porto empatou em Old Trafford, só para cantar vitória pelo golo fulminante caído do céu a Helton no Dragão. Aí a fanfarronice do menino mimado foi glosada pelos antiportistas tanto quanto o golaço foi eleito o golo do ano.
Com Portugal a jogar o que pode com os jogadores que tem, independentemente de quem joga a trinco ou a avançado centro, mas a terminar o Mundial com dignidade, falar a quente não se entende mesmo para um puto de 25 anos que é multimilionário, já ganhou muitos títulos mas tem sofrido revezes duros e todos com marca do Barcelona: a tal final de 2009 na Champions, a dupla derrota 0-1 e 0-2 na Liga espanhola e agora o tiki-taka catalão reposto na selecção espanhola.
Mas, neste cenário em que CR7 voltou a ser o centro das atenções e não pelo que joga nem sequer pelo que (alguns) esperam dele, discutir se Pepe estava desgastado ou Hugo Almeida aceitou a substituição, se CQ tinha plano B ou Danny fez alguma coisa neste Mundial, muito mais do que neste jogo, é negar as evidências sabidas à partida e outras vistas entretanto mas que o proteccionismo dado a certos jogadores omitiu agora.
Porque não foi Pepe que falhou no golo, foi Tiago sem fazer a cobertura e Simão sem fechar Villa. Ao ouvir as opiniões de JVP e LFL na RTP-N incidirem naquilo que pensavam à partida, com esse arquitecto de coisa nenhuma a falar de conceptualização como se tivesse posto alguma equipa a jogar na vida, a coisa ia além do ridículo, era teimosia pura e um hedonismo e vaidade que pedem meças a CR7 a olhar para a sua esbelta figura nos ecrãs dos estádios mundialistas.
A própria substituição de Hugo Almeida, quando o de novo ausente Simão e um muito estático Tiago provavam não terem continuidade em alta competição e fiabilidade para os maiores esforços e exigências de tomo com as responsabilidades que têm na equipa, pareceu ser o canto do cisne de Portugal. Não pela saída de Hugo Almeida, mas pela entrada de Danny que nada fez no Mundial inteiro digno de registo.
Não gosto de fazer prognósticos no final, mas Portugal fez 0-0 com a C. Marfim a jogar com 9,5 jogadores, sem meio Deco e zero de Danny; também com o Brasil CR7 não se mostrou à altura, enquanto o mando de CQ na equipa recusava o "estatuto especial" supostamente sobre Deco e Liedson; e com a Espanha, com Simão a zero e Tiago a meio por sua vez, seria possível ganhar com 9,5 jogadores em campo? E CR7 era avançado mas o central, adaptado a lateral sem problemas Sérgio Ramos dava cabo da cabeça a Coentrão porquê? Depois, com o zero Danny haveria alguma evolução? E sem Nani?... O drama, previsivelmente, era esse e CQ montou um biombo sem esconder que em 3 dos 4 jogos Portugal não marcou, não pela estrutura defensiva, mas por falta de soluções atacantes ou ausência dos seus mestres em campo nessa arte que requer mais do que golpes de marketing e ajudas de Imprensa para jogar A ou B e convocar C ou D. Só faltaria, agora, dizer que com João Moutinho ou Carlos Martins tudo seria diferente, quando deu barraca a chamada de emergência de Rúben Amorim, mal utilizado e logo lesionado a prova a "intensa preparação" preventiva ensaiadas nas férias entre o Dubai e uma escala em Lisboa para o Algarve...
O que leva ao início e àquele outro momento negro e até de suspeição que foi a exclusão de Nani: como então frisei, era alguém como ele que poderia desviar as atenções e aliviar a tensão a que se sujeitava CR7 e o extremo do M.U. saberia romper pelos flancos, alternando com Ronaldo e esticando o jogo, afinal o que CQ queria agora mas Danny não pode fazê-lo porque a Espanha não é Moçambique.
Querer marcar o jogo pela saída de HA e o golo espanhol de imediato é uma falácia que falha por si na relação entre as duas coisas. Esquecendo tantas debilidades, sim, mais expostas neste desafio que muitos jogadores não superaram: é abissal a diferença de categoria individual ou não sabiam ainda? Não era Pepe, obrigado a proteger à frente dos centrais com a inserção do alto Llorente, a pagar a factura, eram os médios que não passavam a bola, de Tiago e Simão e mesmo Meireles, e na frente ninguém a segurava como Danny nunca segurou, aliás como Deco frente à C. Marfim.
Mas é disto que certas reflexões mais engendradas previamente do que pensadas no curso dos acontecimentos causam e se inseridas na ebulição do jovem CR7 então tornaram o caldo entornado, ainda que a reprovação passasse, quer na SIC-N quer no TVI24, a centrar-se nele. De JVP a Mozer não foram poupados adjectivos contra CR7, como não foram escamoteados que "isto" só acontece porque não há uma consciência colectiva e o "todos no mesmo barco" só dura enquanto se ganha.
Uma derrota justificada, digna mas normal faz isto, imagine-se, como sugeriu JVP, como foi em 2002 na Coreia. O problema são as sequelas internas, seja na função do seleccionador, discutido pelos jogadores e desautorizado apesar de mais dois anos de contrato, seja na convivência para o apuramento necessário para 2012, a partir de Setembro. Porque quanto a Madaíl, como há 8 anos ausente de novo, ele está de saída. E quanto ao vice "estatutário" ou "hereditário" Amândio de Carvalho, que já dura desde Saltillo-1986, imagine-se, o rame-rame continuará, consuetudinariamente. A estrutura da FPF volta a primar pela ausência? É preciso outra vassourada?...
O sangue está à vista. Porventura a noite das facas longas tem digno palco junto à mítica montanha, a Mesa, sobranceira à Cidade do Cabo, onde os Navegadores voltaram a sentir a Tormenta e um Adamastor que fará as delícias dos velhos do Restelo. Tudo porque uns putos não sabem de História e para quem a vida lhes corre fácil, com as costas tão quentes como um alívio de consciência num site de uma empresa de gestão de carreiras que tanto já fez falar de si nos andarilhos e sarilhos em que velhas porcarias da Selecção voltam sempre ao de cima...
ACTUALIZADO: 0.22. Afinal, saiu mais depressa do que da boca para fora o mata-borrão funciona outra vez: http://www.maisfutebol.iol.pt/seleccao/cristiano-ronaldo-comunicado-espanha-portugal-seleccao-carlos-queiroz-maisfutebol/1174092-1194.html, às 23.44. Isto sim, é profissionalismo, falta agora a entrevista no Público que lava mais branco.
JAPÃO MERECIA MAIS ATÉ DE NORTON DE MATOS. Não quero deixar passar sem um reparo, habitual, ao tendenciocismo nos comentários do Paraguai-Japão. Os nipónicos confirmaram-se como uma das boas, positivas e simpáticas equipas do Mundial e mereciam ganhar mas não tiveram sorte nem reconhecimento na transmissão da RTP-1, à tarde. Lamentavelmente, Norton de Matos chamado a comentar o jogo não só antecipou os golos de penálti do Paraguai no desempate final, como deu a entender não estar desligado da função de detector de talentos-empresário alegadamente director-desportivo nas horas vagas, torcendo pelo Paraguai onde decerto já recrutou grandes valores para várias equipas portuguesas em que teve responsabilidades, o Sporting que o diga. Acho bem que alguém assuma a preferência por uma equipa e não o deixe escondido, ainda que implícito.

5 comentários:

  1. Excelente texto... apenas uma correcção; nesta época, o duplo confronto Barça-Real, teve 1-0 na Catalunha e 2-0 em Madrid; não foi duplo 2-0.

    Abraço e Saúde.

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  2. Ah, que dizem da escolha de Aveiro, para dia 7 de Agosto, Sábado?

    E Sábado 7, ou Domingo 8: qual a v/ opinião, qual o dia melhor? Horário?

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  3. Óptimo post - o mais lúcido e esclarecido de todos os muitos que tenho lido! O que temos que aceitar é que Portugal não tem exactamente uma grande quantidade de jogadores de qualidade - e ficou sem algumas excelentes alternativas : Varela e Nani, p.ex, - e, resultou, que sempre que foi necessário tirar um coelho da cartola ele não estava lá!... e, claro depois culpa-se o mágico!...
    Gostei mais deste Portugal , mais objectivo, mais rápido, do que de qualquer Portugal do Scolari, apesar da diferença de recursos...

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  4. Zé Luis,

    Excelente analise, como sempre, a tocar nos pontos fulcrais. A questao de Ronaldo é recorrente, sem esquecer que o menino se desculpou do pessimo Europeu pela dor no pézinho (que nao o impediu de marcar na final da CL e falhar o penalty), e de várias derrotas pelo M. Utd e pelo R. Madrid, dizendo bem de Mourinho e Capello quando Pellegrini ainda lutava pelo titulo.

    Queiroz nao é um genio da tactica nem da tecnica, mas sem ovos nao se fazem omeletes. Portugal fez bem em querer defender de forma organizada e esta tactica, com 3 jogadores de qualidade à frente, para os desiquilibrios, foi o que levou o FCP a ser campeao europeu. Mas com outros jogadores (ou alguns destes, mais anos mais novos), isso seria possivel.

    Assim é ver Simao arrastar-se (funcionaria melhor entrando os ultimos 20 mts), Tiago a falhar passes e a nao fechar as dobras, R. Costa sem saber parar Villa quando havia Miguel, que o conhece muito bem, no banco e a prima-dona a ajeitar as meias no chao enquanto todos suam para tapar o jogo de toque espanhol. Só Eduardo, Coentrao, Meireles e o eixo defensivo se salvam com nota alta, fugindo a essa mediania que pauta o jogo portugues a partir daí.

    Vergonhoso, no meio disto tudo, é o mutismo da FPF, sempre preparada para a venia a Villar, nas escolhas de arbitros e na arbitragem caseira (leia-se espanhola) do deixa jogar, do offside, dos cartoes guardados até já depois do 1-0 e da ridicula expulsao. O importante é organizar mundiais ibéricos com 3 estádios contra 12, reforçando o ridiculo que é ser portugues nesta peninsula.

    A estranha ausencia de Nani, o ego de CR e a ausencia de claras opçoes para o ataque nao deixa esperar nada de novo para 2012, sabendo que o apuramento é acessivel mas que o nivel de Portugal está na 2 divisao europeia enquanto o ataque nao corresponder ao optimo trabalho da defesa.

    um abraço

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  5. O grande puto (que desconfio que nunca vai deixar de ser) acertou uns 5 passes em todo o mundial e perdeu umas 50 bolas, sem falar em remates disparatados e livres para a bancada.
    Se calhar nem com 9,5 jogamos...

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