04 julho 2010

Tacanhez de espíritos



É oficial, http://www.ojogo.pt/Directo/NoticiaHora_futfcpmoutinhoficial_040710_273001.asp e João Moutinho no FC Porto permite-me deixar exactamente as coisas tal como as comentei no sábado. Bom para todas as partes, resta saber que lucro bancário terá o FC Porto no pressuposto de vender bem Raul Meireles e se o futebol do ex-leão compensará a dimensão que o médio ainda portista tinha.
Como antecipei ainda, as vistas curtas e o ressabiamento compulsivo, epidérmico, histriónico e histórico dos adeptos do "enterra" e da maledicência também são oficiais para a nova época.

Tantos adeptos, levados pelos comentadores ou estes expressando as vozes dos adeptos que também o são, opinam negativamente sobre aspectos do futebol português e só porque se faz uma transferência interna, de resto recordista em valores, entre rivais, parece que cai o Carmo e a Trindade.

Criticam-se os dirigentes por tudo e por nada e quando se concretiza um negócio destes há que deitar abaixo as bases do entendimento necessário para a sua conclusão e a bem de todas as partes. Afinal, adeptos e comentadores gostam da paz podre que criticam na vivência apontada aos próprios clubes e as relações entre eles. Espicaçam, estrebucham, rasgam vestes. Odeiam a normalidade que é a bitola de funcionamento em qualquer país, de uma transferência do Liverpool para o Chelsea (Benayoun é recente), do Barça para o Madrid e vice-versa que também se fizeram, do Inter para o Milan, da Roma para a Juventus, até do Celtic para o Rangers. Só em Portugal, onde os adeptos acirram as rivalidades sem as quais não podem viver nem admitem outro modo de vida, uma coisa destas não poderia concretizar-se. Depois, a culpa é dos dirigentes.

Até no exemplo de não se ver partir para o estrangeiro, como é a tónica dos lamentos se tal acontece sob pena de empobrecer o campeonato, esta transferência deveria ser louvada, independentemente do que resultar, desportivamente, para os dois clubes e as sortes do campeonato, conclusões a tirar daqui por um ano.

Mas esta noite passaram dois programas de debate desportivo-futebolístico em exclusivo a dizer mal, a levantar reservas, a pôr em jogo a moral e os bons costumes, a contar espingardas, a antever problemas, a suscitar polémicas porque em tempos Pinto da Costa confessou, tal o sacrilégio, gostar de João Moutinho, como antes confessou que na sua equipa ideal entraria não só Eusébio como o antigo central benfiquista Germano.

Habituados a viver em cirrose permanente, engendrando maquinações como princípes da intriga em desonra de Maquiavel, a opinião que se difunde nas tv's não cai em si de ridícula, repetitiva, sensaborona, previsível, gasta, depauperada e tonta, com tantos Prantos em socorro de velha tradição "se Pinto da Costa fez é porque não é boa coisa".

Dificilmente foram considerados todos os aspectos do problema, como enunciei da última vez, à luz dos quais esta mudança de João Moutinho para o Dragão é normal e natural para um jogador que há um ano insistia em sair e queria ir para o Everton, o que pelo visto não cairia mal nem a alguém com ambições de conquista como JM nem a certas opiniões bacocas que depois lamentariam mais uma perda no campeonato português.

O desgaste de JM em Alvalade, de resto, até nem mereceu a recuperação das fases mais críticas de uma relação com os adeptos que se deteriorara ao ponto de lhe devolverem a camisola quando ele a atirou para o público supostamente apoiante indefectível dos que dizem que não ficam em casa.

A inversão, prepretada por gente de maus fígados, de toda a lógica de negócio, consabido no futebol, e de enquadramento das coisas muito para além da visão estratégica limitativa das gentes de Lisboa continua a ofender a inteligência dos adeptos portugueses que rejeitem continuar encerrados naqulo que é sempre latente da "guerra norte-sul" em que, amiúde, são preconceitos primários e de primatas oriundos d Lisboa - de resto uma constante na história do futebol português bem mais truculenta e nada civilizada como alguns querem fazer crer do passado mais ou menos distante. E, neste aspecto, quem opina fá-lo com o fel de sempre e nunca com a urbanidade que reclamam, sem respeitarem, para o futebol de que dizem gostar.

Esta tacanhez de espíritos não surpreende, pelo exposto e antecipado, por forma a arranjar motivo extra de polémica para, fora do campo, se incendiar os ânimos. Achar que 10ME é pouco entre clubes portugueses é não ter noção da realidade actual, da mesma forma que enquadrar isto numa aliança Porto-Sporting, quando não uma subjugação leonina aos dragões, reflecte a pobreza de mentalidade bem atrás da dimensão profissional em que as SAD se colocam, resolvendo as suas questões, também de compra e venda, para as quais é preciso, obviamente, relações cordiais. Nunca o antagonismo propiciaria algo do género, a não ser o Porto sacar o Futre de Alvalade só porque o Sporting deitou a mão a Pacheco e Sousa, ou Dito e Rui Águas moverem-se para as Antas e depois o Benfica namorar Geraldão e levar Paulo Pereira para a Luz. Mas talvez esse ambiente, que todos dizem querer esquecer, seja, afinal, do agrado de uns tantos e uns tontos, além de ignorantes quanto à realidade económica de cada clube.
Parece que o Sporting - numa realidade que muitos preferem esquecer - estaria destinado a seguir o exemplo da Luz de "vamos endividar-nos ainda mais", por tanto que já gastou sem vender alguém. E esquecendo que o FC Porto mete-se nesta compra recorde, pagando como se fosse por um Hulk que Moutinho não é, com a perspectiva de vender Raul Meireles, senão estaria também na senda de endividar-se e sem receitas da Champions.
Mas RM é todo do FC Porto, sem algum direito por aí perdido nalgum Fundo magnânimo que no fundo ganha mais como se provou com di Maria. E até aí a estratégia portista será de louvar, mas essa também escapa aos crónicos críticos deficitários de bom senso e percepção da realidade que os transcende.

Quanto a efeito JM no FC Porto, que também é um ângulo de visão encerrado a quem tem vistas curtas e não o discutiu nesses fóruns, isso só se verá maìs à frente. A perda colateral de Nuno André Coelho significa, até pela reintegração de Stepanov, que Bruno Alves não deverá sair. E, aí sim, é uma óptima notícia para o FC Porto, onde o barulho de propostas miríficas pelo capitão teve tanto eco como as antes havidas por JM mas que não convenceram o Sporting a vender, já no tempo de gerência de apostar na Academia, mas não dispensa os tantos tontos de crítica fácil e senso arredio de pensar que se houvesse hipótese de o vender melhor no estrangeiro tal seria, decerto, concretizado.
Os tantos tontos, como ouvi esta noite na tv, também gostam das manchetes dos jornais que anunciam essas vendas mirabolantes e interesses fabulosos de clube da mais alta estirpe, que raramente lhes aparece para honrar os brasões do regime. É que a verdade estraga sempre uma boa história. E a cláusula de rescisão já faz parte da história da carochinha...

4 comentários:

  1. Olá Zé,

    Excelente texto, uma vez mais, de uma realidade que espelha bem o podre que é este país e o futebol que lhe vem agarrado.

    Nao sou grande admirador de JM, mas é logico pensar que é o unico jogador de nivel médio-alto que pode substituir Meireles em final de carreira, com uma enorme margem de progressao (ainda), rentabilidade futura (tem mercado em Inglaterra e Espanha) e que, ainda por mais, vem sem o lastre de ter de ser capitao de uma caravela cheia de buracos. O negocio parece-me excelente, por todo o envolvente, incluindo NAC que, honestamente nao me pareceu um valor absoluto com problemas de adaptaçao (lembro-me do erro do R. Carvalho no seu primeiro jogo nas Antas contra o Salgueiros).

    O problema é que este país é como uma viuva de uma aldeia do interior, sempre de preto, sempre de luto, sempre de palas nos olhos, incapaz de olhar para os lados. A movimentaçao de jogadores dentro do mercado luso é precisamente o que falta para dar dinamismo a uma prova que já é menos respietada que a liga ucraniana e romena. Que um jogador só possa sair de Portugal para o estrangeiro para depois jogar por outro grande (simao, quaresma,maniche...) é a prova viva de que a galeria nao pode ver dois dirigentes maturos apertar as maos num negocio que interessa a todos, porque o que importa é manter a espada desembainhada numa falsa guerra que só serve para vender jornais, apagar frustaçoes e alimentar conversas de café.

    um abraço

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  2. Perfeitamente de acordo, Zé Luís.

    Também não compreendo a histeria, embora aceite que perder um símbolo de um clube para um rival não é agradável, ainda que num status de 'mal amado'.

    O negócio, em linhas gerais, parece-me ser bom para ambas as partes e, como qualquer negócio na vida, tem um factor de risco quer para o FC Porto quer para o Sporting.

    Mas a maior fonte de críticas e desdém até vem da corja lampiónica que habita na imprensa o que, à partida, só vem provar que nas suas cabecinhas o que os preocupa não é o que o Sporting perde ou os riscos do FCP mas que, na verdade, talvez vejam o FCP ainda mais forte. O que eles querem é dividir para reinar e enquanto houver plataformas de entendimento entre o SCP e o FCP vão continuar a envenenar os espíritos dos incautos.

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  3. Estou perplexo em como se pode oferecer 11M€ + metade do passe de um central ainda promissor por um médio sem estatura, que vem de 2 épocas medianas, quando ainda há bem pouco tempo se deixou sair um jogador com o valor do Lucho.

    Pelo valor desta transferência, o Porto tinha 10 alternativas em carteira, desde logo Pastore, podendo inclusive tentar incluir Rodriguez no negocio.

    Com 11 M€ apenas ajudamos duplamente o scp, que se viu livre de um jogador vulgar, preste a perder o lugar para o Maniche, e enche os bolsos à nossa custa.

    Mas alguém acredita que este 1,70m vale todo este dinheiro? Incrivel.

    Pouco me interessa se ele é do scp ou seja de onde for, interessa-me é que não joga a ponta de um corno, e pior, é benfiquista!

    Não chegou a aventura Rodriguez para tirar conclusões sobre estas facadinhas nos rivais?

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  4. Não me parece que Pastore seja alternativa a Moutinho, não pela qualidade (que não discuto pois os parcos minutos que o vi jogar no mundial não deu para avaliar grande coisa) mas porque não jogam na mesma posição.

    Como referi, todas as aquisições têm riscos associados e timings que só o próprio jogador pode dar resposta. Tivémos cá jogadores que apesar das oportunidades não fizeram grande coisa e depois lá fora jogaram melhor. O inverso também já aconteceu...
    Este negócio só faz sentido com a saída de Meireles. Sem isso, temos gente a mais (Ruben, Bellushi, Meireles e Moutinho).

    Não sou propriamente adepto do Moutinho. Sempre detestei as birras e as simulações com dores agoniantes, mas para ter o currículo que tem, algum potencial terá.. Acho-o acima da média, mas nada de extraordinário. Fico, no entanto, com a curiosidade de saber se no FCPorto provará que o problema é dele ou era do Sporting. E a perspeciva da possibilidade de ele fazer uma boa época aguça-me o apetite. E é isso que a mim me parece também assustar os sportinguistas... e se ele joga bem?.. Não há facadinha nenhuma, na minha opinião.

    Miguel Sousa Tavares também se contorce e critica mas o que eu gostava era que houvesse alguma latitude dos adeptos. Bater primeiro e perguntar depois não me parece a melhor política nem ajuda o clube.
    Mais preplexo me deixa é preferirem ir buscar supostas promessas que dão como craques e que cuja única informação são meia dúzia de vídeos no Youtube que não mostra nada de coisa nenhuma. Depois levamos com Prediguers, Valeris e afins que na esmagadora maioria dos casos me parecem perfeitamente banais. Depois vêm as desculpas dos problemas de adaptação e tais.
    Ao menos este já conhece com que linhas se cose. Se quer ser alguém, tem de fazer pela vida. Se o SCP achasse que ele é uma maçã assim tão podre, porque é que fez questão de querer 25% de eventuais mais valias? Pois, estão verdes...

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