02 dezembro 2010

Mundial, Mundial


A FIFA "entrega" hoje a organização para 2018 e 2022 do seu Mundial de futebol, às 3 da tarde.
O de 2018 interessa à Ibéria, unida 370 anos depois da Luta de Restauração da Independência de, como sempre, uns quantos tugas inconformados pela intromissão dos (três) Filipes.
Não vou, descansem, escarnecer da candidatura conjunta Espanha a 3/4-Portugal a 1/4, mais ou menos. É uma boa aposta, tem méritos e encantos, apresenta coisas boas e faz sentido, até para nós e especialmente para Portugal. Há quem ridicularize recebermos, em caso de vitória hoje, só um canto do Mundial, temos apenas 3 estádios e uns 20 ou 21 jogos (dos 64 do torneio). Mas, de facto, é muito mais bem aproveitado o que sobra do Euro-2004. Sim, faz sentido, tem jeito e favorece Portugal. Até acho que é pior para a Espanha, no investimento monstruoso que tem de fazer em novos estádios ou remodelar velhos que na verdade não servem para nada, como na Corunha aqui perto.
Agora, sobre o forróbódó que vai aí pela Imprensa do regime, aí parece-me reinar muito desconhecimento da coisa, vai daí saem as trivialidades dos pés-de-microfone que gostam de ver chegar o Figo e o Beckham, contar os jornalistas credenciados e deixar no ar o suspense enquanto se deslumbram com a sede da FIFA sobranceira a Zurique.
Vou arriscar no que me parece natural, confiando nalguns conhecimentos e sem qualquer inside information. Mas não vou, como li no Rascord, atrás do que "vaticinam" as apostas online que, como é óbvio, na véspera da decisão juntam" os candidatos para fazerem o seu negócio e porem as "odds" próximas e nada melhor do que três favoritos em vez de dois.
Sem estar por dentro e com contactos nestas coisas, sempre evito cair na asneira, replicada por aí, de uma série de patacoadas que só os ignorantes, mas distintos enviados-espaciais a um planeta que desconhecem, peroram:
- a asneira de que há 24 (ou 22, descontadas as suspensões de Adamu e Tamarii) votos no Comité Executivo da FIFA;
- a de que há quem tenha mais de um voto na mão (li aí um patego scolariano e merdailista assegurar que Warner da CONCACAF tem 2 votos);
- a de que a América do Sul (e contam oito votos) votará em peso na Ibéria.

Em vez de olharmos para as "odds" das casas de apostas, olhemos para a composição do colégio eleitoral. E, nele, descontados os que não podem votar por os seus países serem candidatos: o espanhol Villar, o belga D'Hooghe, o inglês Thompson e o russo Mutko, sobram 17 votos disponíveis (mais o presidente Blatter) que, por afinidades diplomáticas, políticas, de língua, de ancestralidade ou apenas por vizinhança geográfica que pressupõe ou ter um Mundial mais à porta ou abrir portas a outros negócios bilaterais, poderemos distribuir assim:
Espanha/Portugal (4)
Grondona (Argentina)
Teixeira (Brasil)
Leoz (Paraguai)
Salguero (Guatemala)

Inglaterra (5)
Warner (Trinidad e Tobago)
Blazer (EUA)
Makudi (Tailândia)
Lefkaritis (Chipre)
Anouma (C. Marfim)


Rússia (6)
Chung (Coreia do Sul)
Hayatou (Camarões)
Erzik (Turquia)
Ogura (Japão)
Abo Rida (Egipto)
Hammam (Qatar)

Indefinidos (3)
Sepp Blatter (presidente)
Platini (França)
Beckenbauer (Alemanha)

Os dois últimos poderão optar por um lado ou dividir-se entre Inglaterra e Rússia. O presidente da UEFA quer abrir o Leste europeu ao Mundo, apesar de apreciar a Inglaterra. O kaiser alemão pode querer "compensar" a Velha Albion que em 2006 perdeu por um voto o Mundial germânico.

Os dados são estes, que porventura as "odds" retratarão com favoritismo ligeiro da Rússia, seguido da Inglaterra e da candidatura ibérica. Os Países Baixos dificilmente receberão um voto e serão eliminados na primeira ronda.
Se a Ibéria chegar à "final" (dois candidatos) com a Rússia deve perder. Se for a Inglaterra à final o Mundial pode vir para cá. E, isto, porque a campanha da Imprensa/TV britânica contra a compra de votos afasta alguns dos votantes que até terão mais influência noutros lados do que os sul-americanos, por exemplo, em favor de Portugal.
Cá acho que era bom. Palco ideal para mim é sempre a Inglaterra. Não me admiro se ganhar a Rússia. Madaíl diz estar "moderadamente optimista". Laurentino "Kim Jong-il" Dias, ouvi-o na RTP, teme "o poderio russo". E deve saber do que fala.
Primeiro, veja-se então quem vota. Depois, que inclinações pode ter (e trabalho diplomático por detrás). Por fim, Putin fica em casa e lá saberá porque acha que a escolha já "está decidida", dispensando-se de ir a Zurique "pressionar".
Quem quiser dar uma olhadela ao essencial da candidatura, um espectacular gráfico (acima) na Marca sintetiza tudo.
A Rússia promete investimento, boas receitas, poucos impostos (agrada à FIFA), dispensa vistos de entrada e dá viagens grátis a adeptos para viajarem entre cidades do Mundial. Inglaterra garante mais receitas. Ibéria tem cidades a mais (18), muitos estádios e instabilidade política nos dois países com Governos em vias de caírem... Tudo o oposto da Rússia putiniana onde até a Máfia dará uma trégua ao Mundial.
Vamos lá a ver, às 15h, se previ bem.
Para 2022, para o "resto do Mundo", apesar de tantos balanços negativos do Qatar, as "odds" favorecem os árabes. Mas não acredito, aquilo é pequeno demais para tanta coisa e tanta gente. Mas também só vejo os EUA... Se a WikiLeaks não funcionar pior ainda do que as revelações da Imprensa britânica...

18 comentários:

  1. Esperemos que não, nem se imaginam os custos que mais uma vez vamos pagar, as medidas de segurança idiotas, o provincionalismo bacoco, as bandeirinhas, etc etc.
    Deus nos livre.

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  2. Não há custos estruturais. Desta vez, é mesmo quase só lucro. Nisso acredito. Embora fique por saber que contrapartidas fiscais terá a FIFA, uma matéria importante nestas avaliações mas nunca revelada. É como incentivos fiscais a empresas e zonas francas. Uma nebulosa.

    Custos enormes, sim, terá a Espanha.

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  3. Olha que o ZParo disse que todas as cidades do mundial estariam ligadas por TGV, portanto...
    Vá lá que ganhou a Rússia, é menos um fardo que temos de pagar.

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  4. A FIFA continua a demonstrar que com a democracia dá-se muito mal e os ingleses, com a melhor proposta, nem da 1 ronda passam. O dinheiro do gás e do petroleo e os contractos para construir tudo do zero, mais os mercados novos, sao os unicos factores que hoje em dia contam para a FIFA. Organizar um Mundial no Qatar era o mesmo que fazer um no norte de Portugal ou na Galiza, mas sem os 40 graus de calor e a falta de condiçoes de treino e alojamento. Mas o senhor Blatter é da velha escola e já conseguiu no seu mandato mandar o Mundial para 4 cantos diferentes do Mundo, esquecendo-se que sem a Europa o futebol nao faz sentido, por muito publico que haja no resto do Mundo.

    um abraço

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  5. Zé Luís :

    ..."Vamos lá a ver, às 15h, se previ bem"...


    50%

    Nada mal !

    Um abraço

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  6. Azul Dragão,

    Nada mal? Porque "falhei" o Qatar? Nã, eu só não acreditei no Qatar porque já lá estive e custa-me acreditar que consigam erguer aquilo, apesar das garantias dos emires e príncipes. E a avaliação da Comissão respectiva da FIFA apontava, de facto, os aspectos mais negativos que quem conhece o País percebe perfeitamente o que quer dizer.

    Mas, como diz o Miguel Pereira muito bem, os petrodólares ainda mandam muito e o que importa é abrir sempre mais e novos mercados.

    Estas escolhas reflectem isso mesmo. Apenas isso. E eu fui influenciado pelo que sei e pelo que li, mas não estranho nada sobre 2022. E vi agora a declaração dos manda-chuva de lá e acredito que eles farão tudo para impressionar. Para os adeptos que lá forem é que não haverá muitas atracções. Mas, ao contrário de todos os outros concorrentes, com imensas distâncias (EUA e Austrália, nomeadamente), é certo que no Qatar fica tudo perto de tudo, não há muito para onde se esticar.

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  7. Agora, vou dizer porque fico muito satisfeito. Muito mesmo.

    É que a descrição que fiz está correcta quanto ao modo de votar e os votos em equação.

    Infelizmente, a ignorância dos enviados-espaciais ficou plasmada na Imprensa em geral, que só esta tarde tive oportunidade de consultar.

    Ignorantes profissionais.

    Ainda não li nada sobre o que se passou, só apanhei umas coisas pela rádio e agora à noite nas tv's. Mas se é verdade que a Rússia ganhou 13-7 a Portugal só confere com tudo o que escrevi. Tudo. Tudo. Tudo.

    Na votação final, com exclusão dos votos de Villar e Mutko, por causa das candidaturas respectivas, havia 20 votos. As tendências que eu adivinhei estão aí confirmadas e, como antevia, o risco de Platini votar pela abertura a Leste era grande e confirmou-se.

    A partir do momento que a Inglaterra ficou fora da final, os votos iriam todos para Leste. O bloco árabe-asiático tem mais peso e a "diplomacia" russa nessas áreas manifesta-se há muito tempo.

    É exactamente como escrevi. No final, os 7 votos de Portugal desmentem os 8 que a Imprensa anunciava, confirmam-se os da América do Sul e um ou outro europeu e africano.

    A Imprensa devia ter vergonha daquilo que descreveu. Talvez venha a escrever sobre isso, mas preciso de conhecer detalhes que só a Imprensa internacinal dará, porque conhece os meandros que os ignorantes portugueses encartados não sabem, limitando-se a declarações de fachada como é típico dos pés-de-microfone. Mais: pelo que já li por aí, os próprios escritos dos máximos responsáveis dos jornais deixam-me não perplexo, mas com a certeza que sempre tive. Não sabem nada e nem querem saber, daí a mediocridade dos trabalhos apresentados sem uma pista concreta conducente a uma antevisão rigorosa e aproximada do que se seguiria.

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  8. Espero que estas minhas explicações, que só agora pude alinhar por ter passado todo o dia fora, sirvam para dar resposta ao Miguel Pereira e às suas dúvidas sobre a democracia da FIFA.

    Miguel, cada homem um voto, cada voto um interesse e os interesses plasmados nesta votação eram os que previa. Como descrevo acima.

    Não tem nada de antidemocrático. Há uma máquina que a FIFA gere muito bem. Ao contrário do que muitos pensam, amiúde sem conhecerem todos os dados dos diversos problemas, a máquina de fazer dinheiro da FIFA serve a todos. De Portugal a Tuvalu. Da Patagónia à Sibéria. Todos lucram. O futebol desenvolveu-se como nunca nos últimos 20 anos. A organização da FIFA, a exploração da mina de ouro, os direitos tv e pub. é que inspiraram a Champions e não o contrário. Dá muito dinheiro, é passível de corrupção como se tem revelado aqui e ali. É verdade. Mas todos lucram. É como na Champions. E ninguém quer por-se de fora.

    É tudo "conduzido"? É. Tem um fio político? Tem. Mas também tem a ONU, a NATO, tudo por aí fora.

    Sei do que falo. Sei das muitas asneiras que são propagadas, explorando os factores negativos que, agora, se viraram contra quem os pronuncia.

    Está visto que quer a campanha da Imprensa inglesa, quer até o WikiLeaks em relação à diplomacia USA, viraram-se contra os próprios interesses. A barraca inglesa, derrotada logo à 1ª volta, é elucidativa.

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  9. Estou a aperceber-me, agora que consulto algumas informações na net, que algo de significativo se passou em relação ao colégio eleitoral quanto à questão das suspensões do nigeriano Adamu e do tahitiano Temarii. Deve ter havido alguma espécie de substituição desses membros excluídos, como preconizavam nomeadamente os ingleses e até por haver precedentes antigos do género.

    Mas é daquelas coisas de que preciso de mais informação, se é que haverá. OU, então, desta vez, puderam votar, o que não é normal nestas andanças, também os representantes das candidaturas presentes. Normalmente ficam excluídos de decidir em causa própria.

    Já percebi a razia nos votos ingleses. Pelo que se conta, Portugal começou com 7 votos e acabou com 7 votos. Portanto, nem tinha os 8 que achava garantidos, nem beneficiou de outros votos na "final", que se concentraram, como eu previa, todos na Rússia: o bloco árabe-asiático e certamente africano também.

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  10. Já daria para perceber o fracasso ibérico, agora que os seus representantes reflectem no que estava à vista: a falência económica e a instabilidade política e, sim, a parte espanhola, ao contrário do que por lá dizem, é um fiasco autêntico com aquelas despesas em estádios inúteis previstas de Santander a Vigo, de Gijon a Múrcia, de Saragoça a Badajoz.

    Sempre me pareceu que o risco da parte espanhola era muito grande, mas obviamente Portugal não podia concorrer sozinho, era inviável.

    Leio agora que os espanhóis até contavam com 9 votos certos à partida.

    Entretanto, os ingleses também contavam com 9. Começaram e acabaram com dois apenas.

    A Ibéria não saiu dos 7. Holanda/Bélgica ter mais votos do que a Inglaterra é totalmente inesperado. Uma loucura. Os ingleses estão doidos. É incompreensível.

    Mas, no final, tomado o bloco que votou no Qatar, é o mesmo que votou na Rússia. A diferença é apenas um voto.

    A Austrália só teve um voto. Que figura... Mas os 2 da Inglaterra é um insulto à sua proposta, que era a melhor técnica e comercialmente.

    Não dá para perceber, mas são os meandros das manobras.

    Lembro que antes das suspeitas de troca de votos Qatar/Ibéria, sem querer os ingleses começaram por denunciar a troca de votos entre Rússia e Espanha... A Rússia soube sempre manobrar por detrás, serenamente, arrebatando realmente os votos que contam, os que se percebe que foram a seu favor.

    O grande derrotado disto é Villar. Vicepresidente na FIFA, não arranjou mais do que os que podia garantir à partida e eram menos do que pensava. Está visto: os espanhóis contaram andar ali como se estivessem sozinhos, Portugal era de facto um parceiro menor, sem influência...

    Só de ver ali à volta de Madaíl o famoso JR (João Rodrigues) dá a dimensão cómica à tragédia que, além da Inglaterra, se revela para Portugal e Espanha principalmente.

    Revela-se que Portugal só estava mesmo pendurado em Espanha. Nem servíamos de muleta.

    A alegada aliança com Qatar era tanga.

    Percebe-se que a aliança foi entre Rússia e Qatar. São as tais ligações económicas e cooperação a vários níveis entre gente que tem dinheiro.

    É claro que a estabilidade política e o dinheiro desses candidatos ia pesar. Souberam fazer as coisas.

    Nenhuma surpresa, portanto.

    Quando se queria argumentar, como vi escrito, que pesava contra a Rússia ter 11 fusos horários, como se houvessem jogos em Vladivostok, no Extremo Oriente, ou Khabarov que é a penúltima paragem do Transsiberiano, é não olhar para o essencial.

    O Mundial chegar a Ekaterimburgo, nos Urais, dá a mesma diferença horária para o Qatar, em relação à Europa Ocidental.

    Estabilidade política, garantias financeiras, mercados sem crise.

    O desenho é nítido.

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  11. Zé Luis,

    A FIFA é o que é como todas as organizações e os meus desabafos são mais como adepto eurocentrista, habituado a um mundial no velho continente de 8 em 8 anos sabendo que aqui está e estará sempre, por muito dinheiro que haja, o eixo central do jogo. Essa postura da FIFA que outros orgaos como a FIA relativamente à F1 há muito vem defendendo pode encher as arcas da FIFA e das federaçoes pelo mundo fora, mas aí fica o dinheiro. Depois há quem o use positivamente e quem fique com ele. Mas o ciclo é interno e fechado.

    Quanto à votaçao, o caso ingles é paradigmatico. Inglaterra e a FIFA nunca se deram bem e o proprio Mundial de 66 só foi para lá porque o presidente era Stanley Rous determinado em trazer os britanicos de volta à FIFA depois de anos de ausencia. Mas desde entao em 3 candidaturas, 3 derrotas e sempre a melhor proposta técnica. Está claro que a FIFA quer afirmar-se e nao colar-se a candidaturas com identidade propria, num país onde a democracia ultrapassa o saloismo provinciano e onde a imprensa tem os colhões necessários para revelar a podridao que existe na sua classe politica (salarios dos deputados), na sua familia real, na vida dos seus idolos desportivos e na sua propria candidatura. Serao sempre isso, vencedores morais porque duvido que em vida veja algum Mundial por lá.

    Quanto à votaçao propriamente dita, Villar é, como dizes bem, o grande derrotado. Pensou que o compadrio servia, que as amizades valiam e que ser de um país que está desportivamente na moda fazia o resto. Portugal e os votos do Brasil davam jeito, as tours da selecçao por esse mundo fora nao serviram de nada porque estava claro que era uma candidatura surreal e hipotecada financeiramente. Por muito que desportivamente fosse interessante.

    O dinheiro ganhou, Platini e Beckenbauer devem ter votado nos Paises Baixos à primeira volta e depois mudaram os votos para a Rússia, juntamente com aqueles que votaram na Inglaterra, conseguindo essa maioria que já se previa, tanto que até Putin já dispensava fazer o lobbying. Quanto ao Qatar, será um Mundial a equacionar porque quem me diz a mim que em 2022 os petrodolares ainda dao para sustentar as megalomanias dos pastores dos desertos.

    um abraço

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  12. Miguel, quando dizes que o dinheiro fica em circuito fechado não podes pretender que a FIFA seja a sopa dos pobres. Mesmo assim, há muito dinheiro que a FIFA atribui a instituições diversas de solidariedade social. Há dinheiro dado aos pobres e, sim, a FIFA distribui por todas as federações, são 204 salvo erro, mais do que tem a ONU, todos recebem, há relvados, naturais ou sintéticos, de que beneficiaram mais de uma centena de federações de países pobres no mundo.

    O desenvolvimento do futebol à escala mundial passou pela exploração comercial do negócio e pela estruturação de múltiplas competições jovens e agora até de mulheres mesmo em escalões etários.

    É um desenvolvimento extraordinário de que a maioria das pessoas não se dão conta, porque nem sabem quem é a campeã mundial feminina de sub-17, algo impensável há 20 anos.

    É evidente que a era moderna não tem a ver com meados do século passado, nem sequer com os anos 80, quando a Espanha fez e melhorou estádios que hoje são uma miséria, como deves conhecer aí perto.

    E é evidente que as organizações mundiais mudaram muito na sua constituição, recebendo nos seus órgãos de cúpula muitos representantes que hã 20/30 anos nem sonhavam lá chegar. Logo, a ascensão do Terceiro Mundo, em todas as organizações, tornou tudo mais democrático, mesmo que recusemos vê-lo por esse prisma. Muitos países passaram a ter voto na matéria e as decisões tendem a ser esgrimidas por esses vectores.

    A Rússia soube explorar o filão, sempre se deu bem com esses meandros e o Terceiro Mundo.

    Villar e a Ibéria pecaram por pensar curto e provam não ter influência para mais nada.

    Acho que Platini terá votado logo na Rússia, ele tem a visão das coisas, na UEFA, que tem a FIFA. Blatter terá votado na Rússia. Beckenbauer não sei, mas decerto não votou em Inglaterra.

    Inglaterra teve apenas o voto do seu Geoff Thompson e o do USA Chuck Blazer. Cada candidatura teve o voto do seu representante, que normalmente não vota quando os seus países estão em causa numa decisão deste tipo. Mas como era cada um pela sua candidatura, e havia um para cada uma, a coisa tornou-se irrelevante nesse aspecto. Era um voto certo mas que não desequilibrava.

    Daí eu achar que a Ibéria quis redescobrir a América, de novo, e o resto do mundo alinhou-se pela Rússia e o Qatar e estes entre si.

    É evidente agora ao perceber as votações. E estava na cara, quem pudesse ter estudado isto com alguma profundidade, que ía ser assim.

    Para 2022 mesmo assim eu pus a disputa entre Qatar e EUA. Pensei que, no final, os States levariam a melhor, porque é todo um outro mundo e eu felizmente conheço ambos.

    A questão nem é só, embora seja em parte, o descobrir novos mundos para o futebol.

    A questão é que, com a democratização estendida a nível de representatividade mundial nos grandes organismos internacionais, o risco de o resto do mundo levar a melhor é grande. Só em circuitos fechados e estanques praticamente, como o Conselho de Segurança da ONU e os direitos de veto (basta um) é que as grandes potências ditam as leis. Mas isso sim, é antidemocrtático.

    É esta a minha visão das coisas, pelo pouco que sei mas claramente muito acima do que quem escreve sobre estas matérias sabe.

    Ainda hoje acredito que muitos nem sabem porque aconteceu.

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  13. Zé Luis,

    Naturalmente que a FIFA não é nem será nunca uma ONG e o seu labor em áreas menos mediáticas é de louvar. Mas isso não exclui que a FIFA é também a principal responsável pelo progressivo afastamento das grandes competições dos principais adeptos das mesmas, o público europeu.

    Para os direitos e as multidões está o resto do Mundo é não é sério questionar que todos tenham direito à sua parte mas a rotação continental não faz sentido porque não há no Mundo uma concentração tão grande de opções para estes eventos como na Europa. Basta ver que 8 anos depois já a Coreia do Sul e o Japao se preparavam para outro Mundial. O mesmo com os States e quando se fala num novo Mundial de África já se fala numa rematch entre Egipto e África do Sul, isto sem contar que a na América do Norte States e México dividirão sempre o seu turno. Aproveitar uma ocasião de ouro para pausar esse ritmo frenético devolvendo o Mundial a um palco de excelência a todos niveis é uma oportunidade de ouro perdida, provavelmente até 2030 o que diz muito da natureza do conceito de Mundial de Futebol que tem Blatter.

    Quanto à votação, nenhum reparo, sempre pensei o mesmo e apesar de torcer pela candidatura britanica percebi que nao teriam opçoes, apesar de me supreender a razia total, especialmente do senhor Warner, o grande artista desta debacle que tinha prometido os votos da América Central aos ingleses para os oferecer em bandeja aos russos. Até o Teixeira acho que votou nos russos porque no fundo o dinheiro dos BRIC vale mais que a lusofonia.

    Quanto aos States vs Qatar também pensava que seria nos EUA mas é evidente que o poder dos americanos está a ver-se prejudicado também no desporto depois da humilhaçao de Chicago. Organizar um Mundial em Qatar é tão ridiculo que basta imaginar uma distancia entre Penafiel, Guimaraes, Vila do Conde, Gaia e Porto para ter-mos uma noçao de quão pequeno é aquilo que só Doha pode ser chamada de cidade. E isso de doar os estádios seria uma boa opçao para os edis de leiria, aveiro e faro/loulé se livrarem dos seus mastodontes.

    um abraço

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  14. Miguel, essa de reduzir o Qatar ao Grande Porto tem piada, mas eu sei como é porque já lá estive 3 semanas e ainda tenho o mapa de Doha e as suas rotundas, a cidade com mais rotundas no Mundo.

    O Qatar é a grande surpresa, também o confesso. Mas a Rússia não e quanto à Inglaterra, que eu também preferiria sobre qualquer outra candidatura, paga pelos erros de promoção e as picardias incessantes de alguns que se julgam iluminados e querem fazer esquecer o que era a FIFA quando eles, pátria do futebol e com metade dos assentos no International Board, a dominavam com Stanley Rous, como bem observas.

    A FIFA não afasta os adeptos. Pode afastar os adeptos que conhecemos, mas aproxima muitos outros.

    Essa é uma perspectiva errada da realidade mas, acima de tudo, da História. Não podemos ter o pribilégio de o Mundial se desenrolar sempre à nossa porta.

    Os Europeus cansam-se de futebol. Lembra-te que a partir de 2016, em França, o Euro terá 24 equipas, é quase um Mundial. Se tivermos um Mundial por cá é quase sempre uma grande competição de 2 em 2 anos.

    Não pode ser. E a representatividade mundial no CE da FIFA assegura essa internacionalização. Tem inconvenientes, claro, mas tê-los-á sempre noutros continentes. Sempre houve condicionantes e esquecer isso é querer só o Mundial aqui à beira e contrariar a univcersalização do futebol que é imparável graças à rotação dos Mundiais que eu acho correcta, até porque não é bem respeitada.

    Não podes olhar para Coreia e Japoão há 8 anos, tens de notar a diferença de 2002 para 2018, 16 anos, e não para 2010.

    Mas precisamente pelos problemas horários é que dificilmente o Extremo Oriente voltará a ter um Mundial. Resultado: o Médio Oriente, muito mais próximo da Europa.

    Sobre isto há tanto a dizer e a contar, elencando vantagens e desvantagens, que dá um trabalho de fundo.

    Um trabalho que a Imprensa não se dá ao trabalho de ter e algo que me custa encetar, porque acho não valer a pena ainda que pense abordar este assunto por estes dias.

    Evitemos olhar o Mundial pelo nosso umbigo.

    É ridículo aquilo que tenho lido, na tosca Imprensa lusitana e nos parvos e cabotinos espanhóis.

    Não dá para acreditar em tanta mediocridade e a atitude de julgar ter o rei na barriga.

    A Europa vive em dificuldades sérias. A Espanha é um bom exemplo e já nem falo de Portugal, pois para nós concentrávamos as coisas no essencial dos 3 estádios e dava garantias.

    Repito: éramos a muleta de Espanha, mas andávamos às suas costas e fomos penalizados pelo que ela não poderia cumprir.

    Enfrentemos a realidade.

    O universo da FIFA é totalmente diferente e escapou à percepção do próprio Villar.

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  15. Zé Luis,

    Obviamente que a minha analise é muito eurocentrista, mais como o adepto desiludido de quem gosta de ver este tipo de competições em estádios como Anfield, Velodrome, Welfastadion, Camp Nou ou San Paolo do que nos recintos à la NBA que vao fazendo por esse Mundo fora. Concedido.

    Quanto aos ingleses, acho que nao voltarao a ter um Mundial. Têm a Premier, o seu sentio de superioridade moral e o afastamento com FIFA e UEFA é progressivo. Além do mais internacionalmente a selecçao inglesa começa a incomodar depois de tanta debacle e nao atrai tanto como "organizador".

    Quanto à perspectiva, entendo isso do ser em 2022 e 2018, mas mesmo assim o que quero dizer é que o leque de candidatos é sempre muito mais reduzido. India, China, Coreia, Japao será sempre aquilo que a Ásia pode oferecer. Argentina, Brasil, Mexico e EUA os que na América podem organizar uma prova destas. Juntamos Africa do Sul, Egipto, a ostracizada Australia e uma Arabia Saudita e é esse o resto do Mundo para a FIFA. Tantos países (12) como os europeus que podem organizar esse tipo de torneio e que concentram, ainda hoje, as principais provas mundiais.

    Quanto ao Europeu, a decisao do Platini, muito acertado nas provas europeias, parece-me um erro porque faz de um torneio altamente dificil de ganhar numa prova muito mais acessivel com metade dos paises europeus presentes, com dois terceiros apurados com contas sobre o joelho e isto apenas por mais quatro dias de prova no total. Esperarei para ver o impacto do Euro16.

    Agora, como bem apontas, querer organizar uma prova que vive dos milhoes que se gastam e se geram em paises endividados ou com altos problemas económicos é onirico. Villar devia ter entendido isso pelos anos que leva. Mas é tao saloio como Madail e, à espanhola, apenas se acha superior aos demais, com um discurso de apresentaçao mais engraxador que a postura de um Assis a fazer birrinha.

    um abraço

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  16. Tem piada, a propósito de edemocracia lembrei-me também do exemplo do Assis a fazxer birrinha.


    É sintomático.

    Villar? Nem piou. OUviste-lhe algo? Nada. E o fracasso é dele, que não congregou tropas. O Madaíl, e o inefável JR, era um atrelado, velho, ronceiro, mais enigmático que a Rússia e, obviamente, inoperacional.

    Sobre os palcos possíveis ou disponíveis, é evidente que uma coisa desta magnitude ou é num país grande ou num país rico. Temos a Rússia e o Qatar, precisamente.

    Nenhuma surpresa, apesar do Qatar ser surpreendente, mas são provas dos tempos que passam e uma adequação realistíca do querer e do poder.

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  17. Zé Luís :

    Sei que sabes do que falas !
    E quem iria pensar no Qatar?


    Um abraço

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  18. Pois, o Qatar, mas desde que construa estádios e faça o metro entre eles o Mundial jogar-se-à sem problemas.

    Há muitos fantasmas que precisam de ser espantados, embora reconheça ser difícil, numa visão mais superficial, encaixar a coisa.

    Mas eu também antevi que, se não fosse o Qatar, só poderia ser os EUA. Precisamente os finalistas. Os outros de facto não contavam.

    E quem votou na Rússia foi o mesmo bloco.

    Como tenho dito atrás, é a ascensão do antigo Terceiro Mundo ao poder, seja pelo petróleo ou banca.

    E esta percepção é que ainda ninguém alcançou. Daí a admiração pelos resultados. E o mau perder que só espelha a ignorância e o "ter o rei na barriga". Depois culpam a FIFA, mesmo que o Villar tenha discursado para dizer que é tudo limpo. O Madaíl, bacoco, acaba a dizer que há muitas coisas que têm de ser mudadas - e não se está a referir à FPF.

    Isto não é cómico, é uma tragédia.

    Pode ser que resuma tudo isto que digo num post para vincar a saloiice que pegou na Imprensa em geral, de ignorantes encartados. É horrível o panorama.

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