26 setembro 2014

Clássico importa ou só diverte?

Mais uma vez, as vésperas e as víboras dos clássicos vieram à tona no chiqueiro lisbonense. No FC Porto, no Porto, na bluegosfera, pouca preocupação, é mais um jogo, mais um para tentar ganhar, mais uma etapa do calendário. Contudo, como já enfatizei, a visita a Alvalade costuma ser mais problemática do que na Luz. Ou porque o FC Porto há muito olha para o Benfica pelo menos a um nível, digamos, de igual para igual, se não mesmo superior; ou porque o Sporting, há muito ultrapassado pelo FC Porto, quer mostrar estar ao nível de um adversário superior. Normalmente, é isso que tem acontecido.
 
Em Lisboa a coisa fia mais fino. Para ajudar ao andor, a Imprensa: logo alertaram para o terreno minado em volta do Campo Grande. Que isto, que aquilo, o Sporting até sabe que se ganhar ultrapassa o FC Porto na tabela, contou o Carlinhos da Sé num solilóquio corriqueiro lá do alto do monte das pouco virgens versões e narrativas jornalísticas enfezadas, isto é, não com fé, mas cheias de fezes.
 
Entretanto, a lagartagem vai dando conta de o FC Porto não querer dar a mão a miúdos. Percebe-se, o Sporting tem a palma, a oliveira e o discurso laudatório de apostar na juventude, ter a equipa mais jovem, a Academia e por aí fora.
 
É verdade que, pelo segundo ano consecutivo, ou por já nem ser notícia para um relapso, a UEFA abriu um expediente por causa do fair-play leonino, desta feita nas finanças. O que surpreende, pois era suposto o grunho do carvalho já ter superavit nas contas. Mas isto é uma chatice que não preocupa nem merece retórica.
 
Da mesma forma que ainda batem no ceguinho Pífio Final que já foi dourado mas esmoreceu, desmaiou e tornou-se diáfano que nem se vê, também esquecem que há uma pendência sobre um dirigente que depositou dinheiro na conta de um árbitro. E não foi, o dirigente, do FC Porto. Se fosse, implicaria o FC Porto. Como PPC, que não é sigla de Palhaço Pinto da Costa, era dirigente do Sporting, com uma última incumbência de pintar postes em Alvalade depois de andar a espiolhar a vida íntima dos jogadores leoninos, parece que não implica o Sporting.
 
Abençoada presunção e água benta que de tantos males internos trata, concentrando energias na "destabilização" do FC Porto, que bem tentam. Até se queixam do Benquerença, aquele que lhes garantiu uma Taça de Portugal em 2008 ao poupar o caceteiro Grimi a expulsão por entradas sobre Quaresma em tudo iguais à que não poupou Maicon no domingo. Mas as cacetadas do Sporting são legítimas e não violentas, as do FC Porto levam a raiva do diabo nem que não seja de Gaia.
 
Imaginem o que o FC Porto não poderia dizer de Benquerença, aquele árbitro nomeado para o último clássico, aliás os dois últimos, que em Março ou Abril disse que lhe doía as costas e foi substituído pelo impoluto Proença. O que fez Proença? Não foi um "Brutus" traidor, porque deixou um penálti sobre Jackson por marcar (e expulsão de Cédric) em cima do intervalo e porque o golo de Slimani foi precedido de evidente fora-de-jogo. Mas os fora-de-jogo normalmente correm bem aos de Lisboa, o FC Porto também tem razões de queixa disso mas quem ouvir a laia lisbonense não dá conta disso.
 
O mesmo Benquerença que na Taça da treta, em Dezembro, expulsou o portista Carlos Eduardo sabe-se lá porquê, embora a culpa portista seja sempre óbvia só por ser portistas, veja-se a "confissão" de Jacinto Paixão que se denunciou com um vídeo promocional - sabendo-se que a autodenúncia de um crime não implica o autor do mesmo e não é considerado como prova porque ninguém se acusa a si mesmo e por livre vontade - em que a chatice é contradizer o que tinha sido carreado nos autos do FC Porto-E. Amadora que deu origem a uma acusação sem fundamento repetidamente desmontada e arrasadas em todas as instâncias fora da alçada da prolixa justiça dita desportiva. Mas até a isso os desesperados se agarram e convencem os meninos, aqueles 22 que devem equipar todos à Sporting como se os benfiquistas uma vez não tivessem tentado fazer o mesmo para ficarem remetidos ao túnel sempre pouco aconselhável na Luz.
 
E pronto, dormiram tranquilos, embora o jogo decerto vá trazer novidades. Mas do jogo ninguém falou, mais uma vez: foram os árbitros, o resultado conveniente só para uma equipa, os meninos, o historial e muita nobreza e carácter. Ainda bem que não há um presidente a prometer uma recepção com Chaimites (Dias da Cunha, em 2003), adeptos no varandim sobranceiro à 10A a cuspir, atirar pedras e caírem (morrendo dois!) ou árbitros associados ao FC Porto.

De qualquer modo, como na última época, o FC Porto encara o jogo na desportiva, sem pressão acrescentada, enquanto em Lisboa é de faca e alguidar. Há grunhos portistas que se queixam, mas continuam a não exigir nada do Torto Canal. Afinal, somos mui nobres, leais e invictos, mas alguma moleza tirou o tesão todo. E isso é um problema. Por exemplo, na última vitória em Alvalade, por 2-1, além de mais um penálti inventado pelo Lucílio Vigarista, entre os golos de Lisandro e Bruno Alves, Pinto da Costa arrefeceu a coisa dizendo que era "uma vitória normal". Eu lembro, porque critiquei tal amesquinhamento de uma vitória grande - a seguir a uma dramática e inesquecível em Kiev -, que foi menorizada como nunca pelo presidente. Pois, depois queixam-se da garra dos outros e do que fazem trinta por uma linha. Ou o futebol não tem dois lados?

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