Perdeu-se a vergonha

Há tempos escrevi um texto sobre o programa "Dia Seguinte" e a forma como o Benfica em concertação com esse programa e alguma comunicação social exercia a política de comunicação interna e externa que lhe convinha.

LFV há muito se apercebeu do poder da comunicação social e que era bom para além de ter lugares na liga, ter também influências e gente infiltrada no meio da comunicação social e aproveitar o facto dos grandes grupos de capital que controlam a imprensa em Portugal, verem com bons olhos uma aliança com o Benfica, no jeito de uma mão lava a outra...

Há umas semanas, num dos programas "Dia seguinte", Guilherme Aguiar criticou tal como todos os comentadores do programa as declarações do director de comunicação do Benfica que considerou normal e corrente no futebol moderno a cotovelada do Luisão a Sapunaru...

Eis que o jornalista João Gabriel decide colocar em linha o tal director de comunicação para corrigir as suas afirmações... Correcção essa ainda para pior... Afinal ele não tinha dito bem aquilo, tinha dito pior. Tinha dito que era um lance que se vê em muitos jogos e que era Luisão simplesmente a tentar ganhar posição e que não havia dolo....

Depois começou a interpelar directamente Guilherme Aguiar e a ataca-lo demonstrando alguma picardia por assuntos antigos... Dizendo que Guilherme Aguiar não devia gostar dele por ele o ter chamado de assessor do F. C. Porto e que era assim que ele uma vez se havia apresentado numa AG da liga como tal, e entrou numa série de acusações e ataques e interpelações directas com todos os comentadores totalmente embasbacados e com Guilherme Aguiar a ameaçar ir embora...

Nem se percebeu bem o que falava, mas dizia que não entendia como Guilherme Aguiar defendia no ano passado que o salto de Bruno Alves se devia à sua impulsão e que não era uma bárbara agressão e que agora aquele lance do Luisão já era grave...

Incrível... Surreal... O Guilherme Aguiar passou-se e com razão, disse e bem, que já lá tinham deixado entrar o LFV dentro do estúdio e até uma cadeira lhe arranjaram para se sentar e insultar tudo e todos...

Agora o director de comunicação do Benfica achava que Seara não estava a fazer bem o trabalho e a seguir a estratégia delineada pelo clube e decidiu ligar para lá e dar uma forcinha, tudo com a complacência e apoio do realizador do programa e do moderador...

Engraçado que estes eventos só acontecem com pessoas ligadas ao Benfica... O próprio Guilherme Aguiar destacou que um familiar de um árbitro que ele tinha ofendido tentou ligar para o programa e não o colocaram em linha para também poder participar do programa e defender a memória do seu familiar e esse até teria mais razões para intervir...

O Seara também não gostou e deu uma descasca no moderador, dizendo-lhe que para se ser líder e para se chegar longe mais do que dizer sempre sim é preciso saber dizer não mesmo quando é o menos apelativo de se fazer...

O moderador não se sabia onde meter e disse que estava de consciência tranquila e que sabia dizer não...

Um espectáculo digno de se ver. Espero que todos tenham visto o que é e como funciona o Benfica e a sua relação com a comunicação social e o poder que exerce sobre determinados espaços editoriais...

O problema é que Guilherme Aguiar se preocupa mais com a Liga que com o F. C. Porto... Parece mais o comentador da Liga que do F.C. Porto. E se de início parecia que ia dizer as verdades sobre o programa e quem o dirige... logo a seguir se deve ter lembrado que o cheque no final do programa sabe bem... e já estava a participar do programa como se nada houvesse passado.

O doutor Guilherme Aguiar depois do sucedido (e já com os antecedentes do mesmo programa, com invasão do presidente do benfica, com o benfica através do seu representante mandar dvds para passar no programa etc.) devia ter exigido um pedido oficial de desculpas do canal. Devia obriga-los a assumir o seu comportamento parcial e desigualdade de tratamento em relação aos comentadores e aos clubes e pedirem desculpas por isso. Caso contrário devia ter saído com dignidade e tê-los deixado a falar sozinhos dando-se assim ao respeito e tomando uma atitude com visibilidade.

Este foi apenas mais um episódio triste na história comunicação social portuguesa e principalmente motivo de vergonha para todos os jornalistas portugueses, um exemplo de como não se deve actuar... Acho que será dado nas faculdades de jornalismo como um exemplo do que não se deve fazer num programa de debate em que apenas se devem escutar a opinião de três personalidades convidadas. Mais um mau exemplo para a comunicação social portuguesa e a imparcialidade que supostamente deveria ter desde o 25 de Abril, num programa que depois dos Donos da Bola tem sido dos mais férteis nesses momentos...

Se alguém ainda tinha dúvidas da aposta do Benfica nesta área e em ter gente a influenciar os grandes canais de comunicação escritos e audiovisuais neste programa teve um exemplo claríssimo. Foi uma demonstração de terceiro-mundismo do nosso país, de fazer corar de vergonha até o próprio Fernando Seara que também achou aquilo demasiado e sentiu até a sua posição enfraquecida, uma vez que é ele que deve lá estar a defender os interesses do Benfica e por vezes ele próprio tem que fazer o possível e impossível para defender actos e palavras totalmente indefensáveis de gente ligada ao seu clube….

Pior é ver pessoas como Guilherme Aguiar que se sujeitam e depois não tomam posições fortes, alimentando ainda mais quem tem esse tipo de atitudes e deixando escândalos como o que se passou nesse programa caírem em saco roto... Pelo menos no trio de ataque fala-se de futebol... e não há surpresas… Não há invasões a estúdios ou telefonemas no ar sem aviso prévio... Quando alguém quer falar, é convidado e senta-se ao lado dos demais e as coisas processam-se com transparência. Digam o que disseram o Carlos Daniel é um jornalista com os seus defeitos mas, muito mais profissional e menos influenciável que este João Gabriel...

E deixo a pergunta... Porque o David Borges foi afastado do Dia Seguinte? Já repararam que ele próprio chegou à conclusão - e por ele ter visto de perto nos Donos da Bola - que existe de facto uma perseguição ao F.C. Porto no país através dos grandes meios de comunicação social? Repararam que ele no ”Dia Seguinte” se insurgiu contra algumas linhas editoriais algo parciais e que ele próprio interveio quando achou que se tinham ultrapassado todos os limites e defendeu que houvesse mais imparcialidade…? O que lhe aconteceu...? Desemprego.

Foi o melhor que lhe aconteceu, e hoje respeito-o mais do que alguma vez o respeitei porque hoje vejo-o o falar de forma imparcial e não limitado por “Donos da bola” ou “Dias seguintes” a que se sujeitou ao longo da sua vida, numa opção de carreira discutível e que se calhar ele próprio hoje em dia não se orgulha de ter tomado.

Agora como comentador imparcial e sabendo que ele nunca gostou do F.C. Porto, é o próprio que quando há debates com Jorges Batistas, etc. admite que existem dois pesos e duas medidas sempre para pior quando se analisa o F.C. Porto... Disse-o claramente no caso da participação ou não do F.C. Porto na Champions League… E disse que parecia que o país queria o F.C . Porto fora mesmo sabendo que seria mau para o futebol português só por não suportar a ideia de que o F.C. Porto tenha dominado com mérito o futebol em Portugal nos últimos 20 anos.

Foi o mesmo que na discussão sobre a barafunda no CJ da Fpf defendeu que uns parecia que queriam fazer de Gonçalves Pereira um vilão e que estava a beneficiar o F.C. Porto mas que depois não falavam dos restantes 5 que se reuniram clandestinamente só com o intuito de condenar o Pinto da Costa o mais depressa possível, e que esses eram chamados de heróis e de pessoas de princípios e não eram criticados por eles também com a sua conduta terem demonstrado falta de imparcialidade e isenção mas que só se falava de Gonçalves Pereira e que eles pareciam os 5 justiceiros…Tudo só porque queriam condenar Pinto da Costa que seria a vontade de mais de 6 milhões de portugueses fosse ele culpado ou não.

Até o Rui Santos que sempre foi anti-porto já no seu espaço de opinião falou que neste país parece proibido ou ser incomodo dizer-se que Vítor Baía foi o último grande guarda-redes português e talvez o melhor... E que depois de Vítor Baía, Portugal nunca conseguiu ter um grande guarda-redes.

Há uns programas atrás inclusive, foi mais claro ainda e falou para quem quisesse ouvir de apesar de ele não estar de acordo com muitas coisas do passado do F.C. Porto e do seu presidente que repudiava a campanha que muitos têm feito de tentar desvalorizar o mérito do F.C. Porto nas suas conquistas e tentam apagar o sucesso do clube nos últimos anos... E que ele próprio não queria ser confundido com esse tipo de pessoas, que quiseram-se aproveitar desta situação do apito dourado para minimizar as conquistas do F.C. Porto.

Isto está a atingir proporções tais, que até alguns que sempre foram críticos ao F. C. Porto já se sentem envergonhados com tal campanha organizada que já envergonha até mesmo aqueles que nem simpatizam com o clube ou o seu presidente... Já há muita gente que mesmo do outro lado da barricada durante anos, chegou á conclusão que chegou-se a um ponto de já se ter perdido toda vergonha.

Pinto da Costa recebe indemnização do Estado por detenção ilegal… Quando foi detido quantas 1ªas páginas tal facto mereceu? Quantas horas de discussão e quantas imagens da detenção foram difundidas na comunicação social? Agora quando saiu o acórdão que demonstra que afinal se tratou de uma detenção ilegal, pergunto… a notícia teve 10% do destaque que teve a da sua detenção…?

Quem diz o nosso presidente, diz a decisão do TAS... Vejam a 1ª página da Bola que dizia que o Porto estaria fora da champions e vejam se a decisão do TAS que arrasou com a Uefa, a Liga de Clubes, a FPF, o Guimarães e o Benfica mereceu 1ª página da Bola, do Record, do Correio da Manhã, etc...

Por isso mesmo acho que o Direito e o Jornalismo dariam uma boa base para uma tese de doutoramento ou mestrado… Claramente a classe jornalística está a fazer mal e a prejudicar algumas figuras decorrentes do fenómeno jurídico que são criadas com uma intenção e que posteriormente são desmontadas, desvirtuadas e destruídas pela classe jornalística devido a muita ignorância e acima de tudo a ânsia de sangue e de vender em detrimento do saber informar.

A nossa classe jornalística sabe que tem um poder enorme na forma como apresenta a informação ao publico geral, principalmente em áreas específicas como o Direito que requer uma formação específica e em que as coisas não são tão lineares e claras aos olhos de qualquer leigo que pega num código e lê sem saber interpretar juridicamente o que lê.

Assim fez-se por exemplo da figura do arguido que foi criada no direito mais como meio de proteger uma pessoa suspeita da prática de um crime de se poder defender melhor e saber com mais exactidão do que é acusado e ter assim mais meios de defesa, de uma posição que devia ser para proteger, a comunicação social trata a figura do arguido como uma quase-condenação ou em muitas coisas faz pior, comete aquilo que eu chama na gíria de autênticos assassinatos jurídicos de erros grosseiros que cometem em certos comentários… Passam informações totalmente erradas e que favorecem o julgamento em praça pública e são os primeiros que adoram desrespeitar leis da república como o segredo de justiça e de promover o seu desrespeito, mas que “aqui del rei” se alguém ousa obriga-los a citar as suas fontes… Não têm pejo em desrespeitar as leis gerais, mas ai de quem ousar obriga-los a desrespeitar o seu código deontológico que legalmente está abaixo das leis comuns como é óbvio.

Resultado, a imagem de Paulo Pedroso e Pinto da Costa nas suas detenções de tantas vezes repetidas será a que fica na memória de todos e por mais que em sede própria, que é nos tribunais, demonstrem a sua inocência, por uma vez terem sido arguidos já foram julgados e condenados para sempre por uma série de pessoas que foi intoxicada até mais não por aquelas imagens…

Quem diz Pinto da Costa, diz o Engenheiro Nuno Cardoso que foi assassinado politicamente devido ao caso do plano pormenor das Antas que mereceu 1ªas páginas e que depois quando em tribunal se provou a sua inocência mereceu apenas nota de rodapé na última página dos mesmos jornais que fizeram 1ªas páginas com a sua constituição como arguido… Com isso assassinaram-no politicamente e abriram as portas a Rui Rio na Câmara do Porto…

A classe jornalística está a ganhar um peso enorme o que faz com que facilmente seja alvo de cobiça de grandes magnatas que assim podem controlar os mecanismos de poder seja local ou nacional. A classe jornalística chegou ao cúmulo de se substituir ao MP na arte de recolher provas e de as qualificar e de se substituir ao poder jurisdicional na função de julgar emitindo sentenças em praça pública sem direito de defesa por quem é julgado em julgamentos a fazer lembrar mais os tempos da inquisição.

Isto é uma discussão que dava pano para mangas e não os pretendo maçar… Numa conferência em que se discutia Direito e Jornalismo interpelei o bastonário da ordem dos jornalistas com essa questão e se não seria justo exigir seja por lei seja mesmo no código deontológico dos jornalistas que o mesmo jornal que dá 1ªpagina acusando alguém deva dar pelo menos igual destaque quando essa pessoa é absolvida no final como forma a pelo menos ajudar a minorar os danos na imagem dessa pessoa que esse jornal causou? Tendo consciência que o carimbo que ela levará da sociedade esse nunca desaparecerá, mas que era o mínimo que a classe jornalística séria e isenta deveria fazer… Na altura o senhor bastonário disse que era uma boa solução… Pena que nunca a vi discutida…

Vejo os jornalistas mais preocupados com o próprio umbigo e que não se coíbem na hora de atacar em nome do seu trabalho e da sua conduta enquanto profissionais, mas que depois não têm a humildade de aceitar quando erram e que não são nada dados a aceitar críticas nem admitem que alguém questione a sua seriedade ou isenção ou que achem que eles devem revelar as suas fontes quando estas tenham de forma inequívoca violado princípios basilares como o segredo de justiça ou quando tenham de forma caluniosa destruído a reputação de uma pessoa.