03 setembro 2014

Como Scolari escapou outra vez ao veredicto

Na semana da Selecção, que de novo não tenho interesse em ver, um ponto da situação num tópico mal enquadrado e praticamente inexplorado depois da afirmação peremptória do presidente da FPF de que "nos últimos 8 anos não houve renovação" da equipa principal de Portugal.
 
Como logo afirmei no Twitter, apanhando por acaso uma diarreia mental do Rui Prantos, se ninguém se pôs a fazer contas - é mais difícil contar para trás?... -, o Ruizinho dos caracolitos e caracoletas logo afirmou, ufano, que o período crucificava também António Oliveira. Ora, sem querer fazer a defesa do ex-seleccionador, basta ter bom senso e fazer uma pequena conta de subtrair e perceber, lembrando que Oliveira deixou a selecção após o mau Mundial-2002, que não podia ter nada a ver com aquilo. Podia ainda enveredar, por sinceridade e honestidade intelectual, que no momento em que a "Geração de Ouro" estava madura como nunca, Oliveira foi introduzindo jogadores novos na selecção, alguns até deram polémica mas para o caso presente não interessa.
 
Certo é que se recuarmos, neste ano da graça de 2014 com um Mundial de merda como em 2002 mas pelo qual nem o seleccionador nem o responsável pelas selecções pagou (Boronha demitiu-se, sem deixar de fazer o seu relatório), sendo que em 2002, como em 2014, a selecção vinha de um 3º lugar no Europeu imediatamente anterior (em 2000 na Bélgica/Holanda, em 2012 na Ucrânia-Polónia), os tais 8 anos com uma lacuna séria e grave para o presidente da FPF a sublinhar enfaticamente, vamos até 2006. O que sucedeu então?
 
Então era seleccionador o burro do Scolari. Scolari que pegou na equipa amadurecida do início do século e abandalhou tudo por ódio ao FC Porto mas do qual teve de se aproveitar como base de trabalho que ele não sustentou em um ano e meio, pois chegou em Fevereiro de 2003. Foi preciso dar uma volta de 180º para levantar voo no Europeu da casa, sem deixar de perder duas vezes com a Grécia em 15 dias, um marco histórico. E depois?
 
Depois, tivemos o Mundial-2006, coincidindo um pouco com o Europeu de sub-21 em Portugal. A renovação de Scolari era só mudar a teta onde mamava na vaca leiteira posta à disposição. Em 2006 o FC Porto, outra vez o FC Porto no caminho do parolo brasileiro endeusado pelos basbaques tugas, ganhou a dobradinha, Quaresma foi dos melhores do campeonato e fez um cruzamento de sonho para Adriano decidir a final da Taça com o V. Setúbal, com Scolari a ver no Jamor. Quaresma, no auge do seu talento, foi remetido para os sub-21, como outros valores a despontar então. Dispenso-me de remexer nas convocatórias provocatórias em torno do 3º g.r. para as fases finais, do Bruno Vale ao Paulo Santos, e o ostracismo a que Vítor Baía foi votado.
 
Portugal, com mais sorte do que futebol (empate imerecido com a Inglaterra mesmo a jogar contra 10 por uma hora, incluindo o prolongamento), foi 3º na Alemanha-2006. A Selecção renovou? Sim, Figo tinha recusado as eliminatórias e quando viu a coisa mal parada no Real Madrid dirigido por Wanderlei Luxemburgo bateu à porta e foi à fase final para se despedir depois do brilharete na Alemanha. Quaresma apareceu, e bem, no Euro-2008, mais foi penosa a travessia do deserto em que se tornou a inexistente renovação da selecção já então tida como necessária, para não dizer imperiosa da forma como se tornou, aí sim, depois de mais um fiasco na Suíça/Áustria.
 
Os basbaques que viam no banco de Portugal não um trauliteiro malcriado mas um génio da táctica que nada arriscava nem a jogar contra 10 (cena repetiu-se na Rússia, por toda a 2ª parte), não perceberam que a vaca iria ficar sem leite e que não lhe punham erva saudável para amamentar futuros craques. Entretanto, apesar do foguetório e bandeiras nas janelas, Portugal foi descendo de 2º em 2004, 4º em 2006 a 8º em 2008 e sempre com a qualificação para cada fase final em tom menor. Foi penoso o meio por meio de vitórias no apuramento para 2008. Scolari saiu, Madaíl ficou com o dinheiro das fases finais mas a renovação nunca existiu.
 
Neste blog, em qualquer das competições, sempre foi levantada essa lacuna pela qual mais tarde pagaríamos caro.
 
Porém, dizer que não há renovação era como palavrear sem jeito e ignorar que Portugal voltou a estar nas fases finais das categorias jovens, incluindo a final de 2011 pelos sub-20 na Colômbia. A renovação só existe se os selecionadores a praticarem. Como nos clubes a formação existe e tem valor se os treinadores principais apostarem nas vontades de aparecer que despontam nos juniores. Não vale demagogia barata como a do Sporting de dizer que tem x jogadores das formação porque só o faz por insuficiência económica e não por aposta deliberada: tendo dinheiro, eis um ror de contratações de estrangeiros mas conquanto subsistam jogadores da Academia está tudo bem mesmo que os resultados sejam tremidos e o futuro não esteja garantido, quanto mais manter toda a malta jovem contente como é exemplo o caso de Eric Dyer.
 
Em suma, a não renovação da selecção não teve tanto a ver com o fracasso das camadas com limite etário, mas com ninguém abdicar de chupar a teta que dava garantias enquanto Rui Costa, Figo, F. Couto, J. Costa e tutti quanti eram vigorosos. Era aí, nesse enquadramento, que a renovação devia ter sido feita. E Paulo Bento, uma cópia de feira do bestunto do brasileiro de má memória, foi atrás da casmurrice para não olhar para outros valores. Hoje, ao vermos a lista para jogar sábado com a Albânia até dá dó. Há jogadores que ninguém conhece na prática e outros que suscitam muitas dúvidas sobre a sua capacidade para ascenderem ao mais alto patamar. Mas com as calças na mão e depois de mais uma desilusão que não custou o lugar a ninguém a não ser o vexame do departamento médico, eis uma renovação forçada enquanto cacos velhos como Raul Meireles e Miguel Veloso nos lembrarão porque razão a renovação nunca foi feita nem encarada sequer com ligeireza.

De resto, este é um exemplo de como na selecção nada muda, é assim há quatro anos.
 
Como sempre, a esperteza saloia não dará lugar a um futuro brilhante. E é a Scolari e a Madaíl que devem ser assacadas culpas, não ficarem apenas com louros momentâneos e proezas fugazes que, ao fim e ao cabo, títulos não deram. O pobre do Bento, mesmo aspergido pela Boa Imprensa do esgoto fedorento que é o futebol tuga a este nível de primarismo amador, não tem unhas para esgravatar no logo em que o ambiente de selecção se tornou. O entorno é fraco e o caldo irá entornar-se. Mas ninguém se atreveu nem, na hora própria, a dizer que o rei ia nu, nem em apontar o dedo aos responsáveis. Porque fazer contas não é do nosso jeito, ou outro fado se cantaria e não a apagada e vil tristeza onde a culpa morre solteira e a crítica faz lembrar a avestruz com o risco de levar com algo desagradável por trás.
 
Siga pois a semana dos louvaminheiros e cordatos pés-de-microfone para mais uma aventura na corda bamba. Ah, depois queixamo-nos dos alemães, que ganham sempre.

Grosso modo, a incapacidade de raciocinar e a inabilidade de reportar tudo o que se passa na selecção dos amigos de Scolari é como a destreza das tv's da porcalhota em ignorarem os mortos que pagam quotas no PS: nem uma reportagem sequer após semanas de muitas notícias nos jornais. Será desta, no início dos debates para os primatas as primárias do PS que as tv's terão vergonha na cara e vão ouvir os mortos-vivos ou conseguirão fazer de conta que nada disso existe e é só fado para tuga ver?

2 comentários:

  1. O fado - que não gostos - é a idolatração do maior sentimento português: a inveja!

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  2. Eu não sei se me fiz entender e apenas reportei factos. Sinceramente, do que Bluesky disse não entendi nada, embora saiba do fado e da inveja mas não percebo a que se dirige a crítica.

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