Abanar nas derrotas com Postiga!

Não é Ricardo Costa o pé frio. Pode ser Jesualdo sem controlar o balneário. Mas o pai de todas as desfeitas está na linha da frente

Vamos ao essencial, como preconizei anteriormente num comentário? Pois o essencial são duas coisas: o pulso de Jesualdo ou a falta dele e a permanência de Postiga, através do qual se vê a razão de cinco derrotas no campeonato.

Não, não é Ricardo Costa o aziago. Se repararem, denominador comum nas 5 derrotas (5, incrível!) na Liga é Hélder Postiga. Esteve em Braga e, quem tiver memória, lá o jogo não foi melhor do que no Bessa. Esteve em Leiria, com o E. Amadora e o Sporting no Dragão. Foi Postiga a mais, quer dizer, a menos…

O que pode estar em causa é o pulso, ou falta dele, de Jesualdo no balneário. Eu respeito o treinador, mas há coisas em campo que se denunciam por si mesmo e a falta de aplicação dos jogadores é consequência da permissividade com que se lida com alguns atletas e continua sem compreender-se a titularidade de Hélder Postiga que Adriaanse, e bem!, dispensou.

A propósito de um tema muito bonito mas pouco concreto, o confronto Adriaanse-Jesualdo, alinhavado há dias pelo Menphis-Child, volto ao tema sem me preocupar com o que dizem as estatísticas: não me interessa que agora se marque mais golos, nem se há futebol seguro, nem sequer se há espectáculo. A estatística, ao contrário da sua aplicação noutros desportos e apesar da teimosia americana para levar isso a sério em jogos com as mãos, não pode ser usada como pontapé para a frente. É que o futebol joga-se com os pés e há uma falibilidade enorme que desagrada aos americanos por isso mesmo. Há muito afirmei a minha predilecção por Adriaanse e não verto uma lágrima se Jorge Costa era titular ou indigno de sair como saiu porque aí concordo que merecia a honra de alguns minutos oficiais para ter mais dois títulos na sua brilhante carreira.

Coragem de… prometer!

Eu preferia, por gosto, por “feeling”, por espectáculo, por crescimento e pelo que muito devem vários jogadores do actual plantel ao ex-técnico, o raio do Co. A história da saída de Jorge Costa está, em vez de mal contada, “vitimizada”, quando o ex-capitão sempre soube das intenções do treinador. Merecia outra saída, mas nada a opor quanto à saída!

A verdade é que só a disciplina de Adriaanse tornou uma equipa titubeante numa equipa não só firme mas campeã e vencedora da Taça. Nenhum outro treinador porventura te-lo-ia conseguido. Postiga foi à vida, Diego foi à vida, outros foram à vida, até o próprio Adriaanse foi à vida. É a vida. Agora, não se apaguem os méritos que o holandês teve, e mesmo a nível nacional mostrou uma coragem – ainda que não correspondida em números e na tal promessa de 60/70 golos por época, mas quem teria tomates para prometer algo assim? E foi por imperícia dos jogadores, não por o treinador não impor um estilo ofensivo, que a coisa falhou – num país e num campeonato que parecem apelar à mediocridade e ao salve-se quem puder porque sem ajuda divina não vamos lá.

Não contesto Jesualdo, respeito-o imenso e acredito nele, mas está exposto que, ao contrário de Adriaanse, o nosso professor verga-se aos nomes e dá palmadinhas nas costas para não ser apunhalado. É uma maneira de liderar, não interessa se melhor ou pior, mas ao ver nesta 2ª volta coisas nunca vistas em 20 e tal anos fico doido com os resultados espelhados no campo e que trazem o veneno de relações menos sadias no balneário. Aí, só o treinador é “culpado”, deixa de ser líder e passa a ser conduzido pelas vedetas. No FC Porto, na selecção, noutro clube, a coisa acaba mal.

Foi por coisas assim, confesso, que há 25 anos deixei de ser sócio, não tenho problema em dizê-lo: vi o balneário dividido, jogadores de braços caídos, “cheirava-me” a novo Verão quente (sucedeu, mas foi mais pacífico) e o vedetismo não é comigo nem o tolero ao maior goleador. Não deixo de seguir o meu clube, de sofrer pela minha equipa, de acompanhar as modalidades. Mas, voltando ao tema proposto pelo Menphis há dias, e sem querer ser o dono (improvável e impossível) da verdade, reparo nos denominadores-comuns de muitas crises, algumas já vividas no clube e que este ano estão a fazer o FC Porto passar porventura por um título de campeão miserável, ainda que sem favores arbitrais ou arbitrários ou ajudas de qualquer espécie, a que pode haver condescendência pelo ambiente hostil, de todos os quadrantes, que tem rodeado esta, bem como as mais recentes (afinal, Adriaanse passou pelo mesmo!) temporadas.

Jesualdo não teve mais dificuldades que Adriaanse! OK, está mais “abandonado” porque em vez da preocupação dos “comissionistas” em novas transferências há uma luta intestina para assumir posições de poder no novo “Politburo” do Dragão.

Haja honra no título!

Mas foi extemporâneo, logo no início da época, lançar incenso e mirra sobre Jesualdo. Um balanço só se faz numa época completa. A equipa tem falhado muito e a culpa nem é (só) do treinador, mas também... Volto ao ponto: Postiga não defende, ataca mal, é fraco jogador de equipa, é fraco individualmente e, portanto, só vale se lhe derem golos para empurrar. No rescaldo de Coimbra, alguém alvitrou por aqui que o FC Porto tinha feito o 4x4x2 e eu recusei isso porque Postiga não defende. É um calaceiro em campo como antes Adriaanse acusara nos treinos. A defesa, a começar pela posse de bola, surge desde o ataque e com Quaresma talvez a pensar na mirífica transferência que o tire desta mediocridade geral que inclui um clube sem qualquer ideia de comunicação e visibilidade para as suas estrelas (e mesmo os patrocinadores da sociedade!), então a equipa em por aí abaixo.

No Bessa (e não foi pior do que em Braga, recordo bem), a equipa acabou por não merecer a sorte que procurou e que lhe chegaria para o empate sem favor.

Mas o balneário voltou a ser posto em causa de novo pelo pai de um jogador brasileiro (Bruno Moraes), a criticar as vacas sagradas que não podem retirar autonomia e liderança ao treinador a não ser que Jesualdo se submeta a elas. Não é que Bruno Moraes, como antes Diego, vá fazer falta e isto não pode ser o futebol-sambinha onde os familiares entram em campo. É só mais um sintoma do que vai mal e que há algum tempo se vai falando: a falta de mística. É certo que não se compra no supermercado, mas também não cresce espontaneamente e fica à mão de semear.

Se Postiga é formado no clube, como Baía, qual a razão para ele próprio não transportar a mística? E quando Baía acabar, mesmo longe do banco? E como podem jogadores oriundos do Bessa, como Pedro Emanuel e Ricardo Costa, ser os transmissores de uma mística de dragão? Transfere-se uma responsabilidade dessas para quem vem de fora, Lucho capitão, por exemplo?... Há muito blá, blá, blá nessa história que é para contar aos netinhos. Mas o futebol faz-se com resultados e com jogadores activos em campo.

Uns atiram-se ao Jorginho, mas não viam que até agora Anderson mostrava não poder jogar de início. No derby deu mostras que sim, pega na bola e temos craque de volta. Outros falam do Alan, eu (que jamais pronunciarei o nome de uma fraude que foi contratado) falo do Postiga como um dos cancros, com a conivência de Jesualdo. “Esta” equipa foi formada por Adriaanse, queiram ou não, tinha uma conduta própria (impecável registo disciplinar, a começar pela verticalidade e honestidade do treinador a falar à Imprensa e apontar o mal geral da pusilanimidade do futebol português), a disciplina espelhava-se no jogo. Havia risco, sofria-se do coração, mas uma aragem destas em Portugal nunca tinha sentido, esse vento de liberdade, de ousadia, de afirmação pela positiva. Hoje há comodismo, licenciosidade, amarelos estúpidos, falhas de posicionamento e de entreajuda inadmissíveis que “passam a factura” à defesa e são os centrais que sofrem também quando Marek Cech continua errante no passe e pateta na defesa como lateral.

Esta inconstância, acredito eu, pode não fazer perder o campeonato. Mas quando não se sente a “presença” do patrão, a bandalha na loja pode ser irreparável e ficar a saque. Chega de masoquismo e vamos ver se, ao contrário da época passada -- onde cada derrota era facilmente superada no jogo seguinte! -- a tremideira acaba de vez e um espírito de campeão subsiste para dar honorabilidade ao título que só um par de loucos poderá deixar escapar.

P.S. - Uma final da Champions sem portugueses, que maravilha ficar livre dos comentários sobre Mourinho ou C. Ronaldo... Sempre pelo Liverpool, não me palpita que o Milan desta vez deixe escapar o caneco. Os milagres não se repetem. Mas...