Melhores não fazem mais equipa

A angústia presente dos adeptos portistas só pode ter comparação com a do treinador para escalar os melhores 18 para um jogo. É prudente pensar que o facto de todos estarem aptos não será propriamente uma boa dor de cabeça que os treinadores dizem todos gostar de ter. É que ter os melhores em campo pode não significar ter mais e melhor equipa. E na Mata Real parece ter-se comprovado a evidência do Bessa. Mas a questão vem de mais longe.

Recordo que por aqui muitos comentaram que o FC Porto, todo superioridade na 1ª volta até se deslumbrar infantilmente, não devia ter dois trincos, embora Raul Meireles e Paulo Assunção nunca fossem dois médios centrais iguais em características técnicas e obrigações posicionais. As suas funções sempre se diferenciaram, mas uma coisa era comum em ambos: raça, espírito gregário que faz pensar primeiro no bem colectivo sem pejo de sacrificarem o destaque individual, colaboração e entrega permanentes, fortes posicionalmente, âncoras do meio-campo que facilitavam a “saída” de outros jogadores para a frente.

Nesta altura em que os laterais sobem como nunca e muito bem, ter os tais dois ditos trincos não é vergonha nenhuma. Quando a conversa cresceu nesse sentido no início do ano, ficou exposto ser em muitos jogos importante ter a base sólida atrás para estar mais descontraído na frente, sem receio de faltar cobertura nas costas e permitir saídas de jogo dos adversários.

Do treino às convocatórias
A 2ª volta não terá corrido mal por causa de, na maioria dos jogos, Assunção e Meireles terem deixado ou de fazer dupla ou de um (Meireles) ser chamado a outra função na equipa, quase médio-ala?

Bem me parecia que a atitude ofensiva que se percebia no 11 escalado na Mata Real, previsto e confirmado, poderia não “sair do papel”. Ao mesmo tempo que se confirmam três coisas:

a) há jogadores que oscilam muito de rendimento e Lisandro foi a última desagradável surpresa, enquanto Quaresma há muito vem a jogar mal (pelo menos notado desde o jogo com o Sporting)

b) o treinador corre o risco de ver, em tempo real de jogo, os seus ases serem trunfos furados

c) mas é Jesualdo que, nos treinos (amiúde à porta fechada), tem de perceber quem está em condições de render o esperado para não haver surpresas desagradáveis e ter de corrigir tudo em andamento

Ora, não é admissível, na recta final da Liga, que os jogadores dêem esta resposta de si mesmos, nem podem desculpar-se da pressão porque são campeões e sabem o que custa estar lá em cima e é essa tarimba do título que faz o FC Porto superior aos rivais e capaz de bater as adversidades que se conjugam para tornar sempre difíceis os seus jogos.

Mas parece que o treinador, como apontado no rescaldo do Bessa (dia 14 e a alusão a Postiga em todas as derrotas), insiste em palmadinhas nas costas aos “titulados” para não receber punhaladas, privilegia os nomes e não a forma em que se encontram, ou não relegaria para os excedentários o João Paulo e mesmo o Ibson como fez agora.

A boca do Zé
Aquele episódio de Bosingwa dizer que quem mandava era o Baía pode ter marcado a diferença de um balneário saudável para um verdadeiro ninho de víboras.

Jesualdo não tem mais ordem na equipa, tacticamente, errando com as opções na desculpa de, até aqui, ter sido obrigado a fazer sempre um 11 diferente. De resto, num técnico que não tem “panache” e cujo discurso pré-jogos já soa mal por dizer o que gostaria que fosse e não como certeza do que venha a ser o comportamento dos jogadores e da equipa, que o têm iludido vezes sem conta, parece evidenciar mais falta de convicção do que as tiradas de fé inabalável que vem transmitindo sem resultados posteriores correspondentes.

Torna-se, por isso, difícil prever qual será a melhor equipa em campo possível de escalar, com tanta gente a titubear, os adeptos já a pedirem o Quaresma da Selecção, a rezarem para o Zé subir e cruzar bem e que Adriano faça golos depois do chuto para fora que lhe quiseram aplicar inexplicavelmente.

Já se sabe quem é o próximo “ladrão” a tentar afectar o FC Porto, mas convenhamos que também seria difícil encontrar um quarteto do piorio, por exemplo, como Lucílio coadjuvado por Lacroix e Bruno Paixão a líner, com Pedro Henriques a 4º árbitro…

Campeão como há 30 anos
Por fim, para quem não tem memórias de 78 e 79 (e a maioria não parece ter, quando muito remontará só a 1986), para quem não sabe como foi custoso, mas saboroso, vencer esses campeonatos do pós-jejum na última jornada (4-0 ao Braga, 4-1 ao Barreirense, 4-2 ao Covilhã, respectivamente), pode viver o momento e dissecar as razões, várias, de um título quase perdido e que seria imperdoável depois da eliminação da Taça em Janeiro, como então previ.

Mas que o adepto tenha a certeza de este título que não pode fugir ainda o é da equipa que liderou a Liga do princípio ao fim e sem favores de disciplina dos gabinetes ou de arbitragens de apito rubro-verde.

Como confio, antecipou um campeão em 30 jornadas com mais pontos que o falso, esse sim, campeonato de 2004-05 (65 pontos em 34 jogos).

Campeão com mais vitórias (Aves é quem tem mais derrotas) e mais golos marcados.

Campeão de uma Liga dita fraquinha e desinteressante até Dezembro mas já revigorada e competitiva desde Janeiro com decisões inacreditáveis dos árbitros a prolongarem artificialmente este aparente equilíbrio competitivo que já faz o inefável presidente da Liga – mais a Taça nova que lhe descobre a careca da futilidade – suspirar por mais uma redução do número de equipas e a PSP de Lisboa temer por ter de barrar o acesso a mais adeptos do FC Porto em jogos infindáveis com os rivais da capital.

Convém, contudo, não esquecer que os jogos não se ganham de boca, ainda que subsistam pedidos ridículos de “azar para os outros como nós tivemos”, como se o FC Porto não tenha tido mais bolas nos postes (creio serem 18!) esta época, ou crendices de trazer por casa de que sejam outros a fazer pelo Sporting o que eles não lograram por si mesmos. Por exemplo, quando em Fevereiro o Aves empatou, merecidamente, em Alvalade e até teve as melhores ocasiões de golo da partida.