O mal-amado

Desde os velhos tempos do Tribunal das Antas, onde os adeptos “enterraram” craques com as suas “sábias“, mas nem sempre justas, sentenças, que os adeptos do FCP tiveram sempre um jogador mal-amado no seu plantel.

Esse jogador seria “perseguido” até ao final da época e todos os erros seriam “brindados” com assobios, esquecendo-se de o aplaudir e de o elogiar na altura em que ele brilhava, funcionando sempre como um bode expiatório dos insucessos da equipa.

Com a mudança de estádio, o Tribunal acabou, mas com o avançar das novas tecnologias, passou para os blogs, os sites e os fóruns sendo aí que agora os adeptos sentenciam os seus jogadores .

Neste plantel existem alguns jogadores que não gozam de boa popularidade no seio dos adeptos, mas quero falar apenas de um, que até teve o fim da sua formação futebolística na nossa casa e, por várias vezes, é o dono da braçadeira de capitão: Ricardo Costa.

Em 2001/2002, na última partida de Octávio Machado foi lançado como uma grande promessa das camadas jovens dos Dragões.

Quando Mourinho pegou na equipa, Ricardo foi jogando na equipa B, mas sempre que era necessário a porta da equipa principal esteve sempre aberta para ele.

Na época seguinte, Mourinho nunca hesitou em colocá-lo, quando necessitasse, na equipa titular e moldou-o descobrindo um jogador polivalente, com raça e de qualidade, não podemos esquecer a sua coragem de o colocar no meio campo na final da Taça Uefa, e muito menos esquecer a grande exibição de Ricardo.

Embora menos utilizado foi elemento importante no balneário que se sagrou campeão europeu acabando por merecer elogios, quer por parte de Mourinho, quer por parte dos companheiros de equipa

A sua capacidade de liderança era grande, ao ponto de Jorge Costa o indicar como um dos capitães do FCP no futuro e como o seu substituto na equipa principal .

Com apenas 23 anos já tinha ganho quase todos os títulos que existem e pensava-se que, com a saída de Ricardo Carvalho, a sua oportunidade de liderar tinha chegado .

De então para cá, com o crescimento meteórico de Pepe e da afirmação de Bruno Alves, a sua consagração ficou sempre adiada, sendo um dos jogadores menos utilizados dentro do plantel do FCP, só sendo chamado na falta de algum seu companheiro.

Também se assistiu, um pouco inexplicavelmente, a uma desconfiança generalizada do seu valor, ao ponto de ser agora um dos jogadores mais contestados pelos adeptos do FCP.

Também se deveu ao facto de ser infeliz nalgumas exibições, lembremos-nos das exibições na selecção nacional, mas o seu valor foi logo questionado à primeira má fase que teve na sua carreira.

Aprecio o modo de jogar de Ricardo Costa, a sua raça que põe nas partidas, o seu estilo de liderança e a sua polivalência que, provavelmente, o prejudicou na sua carreira porque as rotinas do seu lugar de origem foram-se perdendo, são as características mais marcantes de um jogador que desde Mourinho até Scolari nunca se recusaram elogiar.

Aprecio também o seu amor ao clube que representa, ainda me está na retina a imagem dele a chorar em Dezembro porque iria abandonar o FCP, uma coisa que não se realizou.

Não acho que ele tenha desaprendido de jogar, mas falta-lhe algumas coisas para se afirmar, definitivamente, como um grande jogador merecedor dos títulos que possui no seu currículo.

Primeiro de tudo, a confiança no seu valor e na sua qualidade. Pareceu-me na última partida, muito renitente, pouco confiante, devendo ser um jogador que espreita os blogs e sites, o que é normal, e fica afectado lendo as afirmações e as considerações que fazem sobre ele.

Mas se não tiver confiança nele próprio, quem a terá?

Depois precisa de ser mais tranquilo, jogar com menos ansiedade e sem pressão, porque um jogador que não aguenta pressão não serve para vestir a camisola que ele representa.

Finalmente, precisa de jogar mais e da confiança dos seus adeptos para que ele regresse aos tempos recentes.

Mas, o problema é mesmo esse, a falta de confiança no seu valor do “Tribunal” está-lhe a toldar a sua qualidade quando ele joga pelo FCP e cria aquela ansiedade em fazer tudo bem, ou o mais simples possível, que está a ter quando alinha na equipa.

Provavelmente, só com um treinador que o injecte moral e com uma boa dúzia de boas exibições é que, na próxima época, Ricardo Costa regressa aos bons tempos e que os adeptos comecem a gostar mais dele, como aconteceu num passado recente ao seu companheiro de equipa, Pepe.

Ou então a saída, por empréstimo ou definitivamente, do FCP dando um rumo novo à sua carreira, o que, se calhar, seria melhor para ele, com muita pena minha porque jogadores que encarnaram a mística do Dragão como ele existem poucos.