02 outubro 2010

Relatório (Bo)Ronha (XXXVIII): os médicos da ADoP subitamente perturbados, quase dois meses depois...



Estes srs. médicos da ADoP prestaram um serviço a alguém e não foi à ADoP... As versões que se lêem ao lado não abonam muito a sua honra.
J. Madeira ouviu um "Foda-se, para o caralho", além do "que vá fazer o controlo na cona da mãe dele" que António Queimadela Baptista registou no inquérito de Sandro Leão para a ADoP, a 5 de Julho, quase dois meses depois dos factos.
"Que vá fazer o controlo na cona da mãe dele" é a única versão comum de factos e declarações testemunhados por três médicos. Tudo o resto é variável e tem importância, sem justificar a sentença da ADoP de seis meses de suspensão a Carlos Queiroz, agora suspensa para posterior análise no TAS de Lausana.
António Q. Baptista reiterou, sobre os insultos de Carlos Queiroz, que "não comprometeu a sua realização [do controlo]", "mas perturbou inicialmente o seu trabalho". Já Madeira, sem ver "comprometido a sua realização [do controlo]", aponta que "perturbou o seu trabalho, conquanto se gerou uma situação de stress para ele, bem como para os seus colegas médicos da ADoP e, segundo sabe, até se verificou uma situação de desconformidade nesse controlo". Uma falha não apontada pelo seu colega.
Enquanto pequenas polémicas estéreis deflagraram por este à volta da Selecção Nacional, das trocas de mimos quanto a carácter espoletada por Deco com resposta à altura da parte do visado Carlos Queiroz, e mais uma alegada revolução na convocatória de Paulo Bento por não "reconduzir" uma dúzia de anteriores seleccionados todos com explicações evidentes, plausíveis e que deixam injustificados certos títulos de notícias vazias de conteúdo, a mal contada estória da saída do ex-seleccionador continua pendente e sem vontade, por aí, de apurar-se o que se passou.
E, por isso, lá volto à "agenda" da ADoP, em cujo acórdão se fundou, sem razoabilidade jurídica e factual, a justificação para um indigno, e de legalidade a determinar por tribunais competentes, despedimento de CQ.

Temos aqui as declarações dos três médicos da ADoP que, a 5 de Julho - quase dois meses após os acontecimentos do alegadamente conflituoso controlo antidoping na Covilhã, à Selecção Nacional que a 16 de Maio acabara de se concentrar e tinha apenas sete jogadores em estágio - lembraram-se todos que ficaram "perturbados" e assim afectados para a sua missão com alegados insultos do então seleccionador à mãe de um ausente.

Recorde-se que dois destes médicos, José Madeira e António Baptista, fizeram o seu relatório por e-mail a 18 de Junho, um mês após os factos, sem apontarem qualquer perturbação ao seu trabalho. João Marques, em carta manuscrita, datada de 16 de Maio, também não apontou perturbação ao controlo.
Pelo visto aqui ao lado, em sede de inquérito da ADoP para a qual trabalham, o médico que falhou o tal parâmetro foi João Marques. Este só ouviu a expressão "Foda-se, caralho, a cona da mãe dele", o que não se relaciona com o controlo. Porém, mesmo "que não comprometeu a sua realização [do controlo]", certo é que "perturbou o seu trabalho".
Cerca de 50 dias depois dos factos, eis a "perturbação" necessária para correr com Queiroz da FPF. A ADoP chegou, finalmente, ao fundo da questão. No seu acórdão referiu serem todos os médicos muito "experientes" (sic), decerto com inúmeros controlos a seu cargo. É estranho que, apesar disso, João Marques frise no inquérito "que se sentiu muito incomodado com as palavras e se um controlo fora da competição já gera uma situação de stress" - notável para quem é tão experiente - "com a situação vivida este agravou-se e que desse controlo averbou numa situação de desconformidade porque não registou um parâmetro".
Portanto, o médico que falhou no controlo foi João Marques, por acaso o único que escreveu à data dos factos, pela sua mão, que o controlo decorreu sem problemas, à parte uns palavrões que ele nem decifrou muito bem se era para o controlo, para o mandante da missão da ADoP ou outra coisa qualquer. Até 5 de Julho nunca se ouviu a palavra desconformidade. E relativamente ao controlo, depois do rumor sobre Nani antes da partida para o Mundial, foi dito pelo responsável Luís Horta, da ADoP, que não havia controlos positivos na Selecção Nacional, isto no início de Junho.
Realce, ainda, tendo em conta o confronto com o apurado no suspeito acórdão da ADoP juiza em causa própria, que nenhum dos médicos conta o que a ADoP concluiu: que os drs. Jones e Campos da FPF "pediram desculpa" em nome de CQ pelos palavrões referidos. Nenhum fala nisso que vem no acórdão da ADoP: comentaram, sim, a ocorrência, mas sem referência a pedidos de desculpas, só José Madeira refere que os médicos da Selecção "pediram para não ligarem aos comentários proferidos" e Queimadela Baptista disse que eles "lamentaram o sucedido e manifestaram o desconforto com a situação".

Retome-se a ordem dos factos cronologicamente: mal a Selecção chegava da Áf. Sul após a eliminação natural com a Espanha, um departamento (ADoP) sob a responsabilidade de um organismo (IDP) controlado pelo Governo pedia um eventual inquérito a factos de 50 dias antes, outro (IDP) mandava fazer o inquérito e por fim o nomeado (funcionário do IDP, não uma entidade exterior e insuspeita) dizia, tudo a 2 de Julho como venho demonstrando, que já tinha em marcha o inquérito. Não a 2 de Junho como o instrutor do processo escreve nas três versões do Auto de Declarações de que só mostro a parte final.
Um Simplex à moda governamental de caça às bruxas e um relatório que não desdenharia ao maior credor de um relatório sobre a Selecção Nacional, o inefável António Boronha.

Quanto às polémicas dos últimos dias, o carácter de Deco fica exposto depois da surpresa, e minha decepção pessoal porque nunca o imaginei capaz daquilo, da sua reacção à substituição frente à C. Marfim. Deco acaba por dar razão a quem não quer luso-brasileiros na Selecção, sendo o mais emblemático de todos os que abrilhantaram o futebol nacional nos últimos anos e, daí, com responsabilidade acrescida que se vira contra ele sem o saber.

Deco teve a resposta merecida de Carlos Queiroz sobre o seu pouco profissionalismo revelado no Mundial e visto claramente em campo, depois de arrastar os pés na fase de qualificação, em mais uma polémica atrasada e escusada mas que veio rebobinar o filme do Mundial pela falta de multa que o ex-seleccionador "lembra" a Madaíl e a Amândio de Carvalho, promotores do castigo enquanto impediram o responsável técnico de mandar o luso-brasileiro de volta a Portugal, não terem cumprido...
Entretanto, é noticiada com alguma pompa e forçada circunstância que há 13 jogadores da "era Queiroz" que não fazem a convocatória do novo seleccionador Paulo Bento. Deco é um deles, mas também um dos quatro que, entretanto, decidiram afastar-se da Selecção Nacional. Dos outros 9 em falta, contudo, há vários entre castigado (Ricardo Costa) e lesionados (muitos), mas a intenção de vincar a diferença para as convocatórias anteriores é uma tentativa canhestra de demonstrar o "novo rumo" para uma Selecção sem saídas nem alternativas - a qual se medirá pela qualidade dos resultados, já nem se diga pelo melhor ou pior futebol e muito menos a esperança e entusiasmo que causem nos adeptos...

6 comentários:

  1. O artigo é de factos mas também de opiniões e na sua opinião quanto ao Deco não estou de acordo.
    Queiroz insultou Deco primeiro, a seguir levou a resposta que pecou por parca e muito gentil. Deco não falou mais cedo para preservar a selecção, se o tivesse feito estariam os mesmos do costume a dizerem que ele desestabilizou a selecção. Sejamos objectivos quando o assunto é sério.Queiroz como treinador principal sempre foi medíocre,basta ver as estatísticas.Já Deco um profissional de sucesso, Queiroz prejudicou gravemente os interesses nacionais pois se se apercebeu no estágio que Deco estava em tão má forma, como ele afirma e garante, devia ter prescindido dele e substituía-o por outro, ou por nenhum, mas assim e portando-se desta maneira passou a culpa dessa má forma para o Deco. Nem tem sentido esse tipo de acusação. A escolha de o manter, mesmo depois da percepção da tal má forma, foi dele e Deco, por amor de Deus, vinha de jogar no Chelsea de forma intermitente, como poderia estar em tão má forma de uma maneira deliberada e da responsabilidade exclusiva dele próprio?
    Pois é caro Zé Luís, percebo-o e acompanho-o na maneira como deslinda a vergonhosa falta de coragem dos senhores da adop e outros pontuais expeditos senhores mas, como até já o referi em outro artigo seu deste blogue, o CQ ao contrário do que ele próprio diz, tem duas ou mais caras e dois ou mais tons.

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  2. Obrigada pelo post Ze Luis! Nao consegui ver de perto o documento acima, do lado esquerdo...acho que o link nao esta a funcionar...cumprimentos!

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  3. Ze Luis,

    mais uma vez te digo que tens que passar para livro o Relatorio ... ~
    Um grande trabalho.

    Parabens

    http://fcportonoticias-dodragao.blogspot.com/

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  4. Vale e Azevedo,

    estive por fora uns dias e nem soube ontem que o Deco tinha dado uma entrevista ao Rascord a acusar Queiroz de ser fraco ou falso, nem sei bem. Penso que Deco é que abriu as hostilidades e, instado a comentá-las, CQ só retribuiu hoje, penso que pela Lusa.

    Quanto às estatísticas que o meu amigo acha que tem de negativo Queiroz, faça favor de explicar, porque eu demonstrei antes do Mundial que ele tinha melhores resultados no mesmo período inicial, com os mesmos jogos, do que Scolari.

    As minhas opiniões sobre o Deco vêm da fase de qualificação. Já ali notei que ele não tinha a capacidade de passar o adversário como lhe conhecíamos no FC Porto. Deco, tal como CR, influenciou muito pouco o apuramento. Deco já só jogava pelo estatuto, pelo jogador que foi, enquanto CR vinha jogando pelo estatuto que ainda tem.

    Mas tal como o tempo de Deco já passou, o de CR ainda é cedo para passar, porém acho que nunca mais voltará a ser o "melhor do mundo" que foi apenas por lesão/ausência de Messi em 2008. CR nunca chegará aos calcanhares de Messi, que revalidará o título de melhor muitas vezes.

    Mas não é de CR que devemos falar.

    Falemos de Deco e da sua inusitada raiva contra a substituição frente à C. Marfim. De resto, eu mesmo irritado com a sua falta de pernas e de jogo, desmontei que não tinha razão ao dizer que não estava habituado a jogar à direita. É mentira, como provei ao tempo, quando jogava no FC Porto. Pelo Chelsea também chegou a jogar à direita.

    Quanto a carácter, fiquei negativamente surpreendido pelo Deco. E não vejo que defesa possa ter dos seus aduladores.

    Concordo que, se era assim, Queiroz devia tê-lo mandado para casa. Como devia ter mandado para casa muita mais gente, se calhar. Mas era o estatuto que valia a Deco e era o nº 10 que gostaríamos que fosse. Queiroz, à falta de soluções, não desrespeitou Deco, pelo "jogador que foi" como agora sublinhou. E Deco desrespeitou o treinador. Creio não haver dúvidas disso. Deco foi "protegido" e provou não o merecer. CR foi "protegido" e provou não o merecer. Os principais jogadores nâo estiveram bem no Mundial e, pior, não assumem isso, não têm humildade e, assim, não fazem ou ajudam a fazer uma boa equipa.

    De facto, como diz Queiroz, ao que se vê e lê, está claro que a equipa nem podia ir muito longe, e as coisas passaram-se de forma bem diferente do que presume a Imprensa que tem outras leituras mais benévolas da situação, tudo porque importa "bater em mortso", como diz Deco.

    Cada qual tire as suas conclusoes.

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  5. Ana, cheguei a experimentar a mesma dificuldade, mas ainda consegui. Porém, com tempo vou ver se melhoro a coisa.

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  6. Ungaro, obrigado, registei a anterior menção ao livro, mas há aqui registo que chegue e não tenho jeito para escritor nem ouso pensar que uma colectânea destes textos possa ser designado de... livro.

    Tenho muito respeito por quem escreve um verdadeiro livro e não me acho capaz disso.

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