08 junho 2012

Convém precisar bem o que se espera de positivo de Portugal

Coberta de presunção e água benta, pelos louvaminheiros do regime que parecem mais avençados da FPF do que profissionais do jornalismo ou comentadeiros encartados de ocasião, a Selecção de Portugal parte para o Europeu não com a obrigação de ganhar a prova - seria estultícia dizê-lo e nem é corrente afirmá-lo, ao contrário do que se faz passar como se acrescesse à pressão, natural, sobre a equipa nacional quando cresce, de forma também natural, a expectativa habitual nestas alturas -, mas de fazer boa figura.
Não faço críticas fáceis, tal como recuso adulações imbecis, nem enveredo pelo achincalhamento, por exemplo, por causa de folgas. Não me dizem muito os particulares de preparação pela óptica dos resultados, mas antes pela evolução da equipa que deve aferir o seu nível de entrosamento, enquadramento competitivo e preparação. E faço por esquecer os efe-erre-ás da qualificação que para o caso não servem nada. A hora é de jogar e o melhor possível. Dizer que "vão dar tudo" e "têm honra em representar o País" é bacoco e idiota. Vamos a factos e esperemos que saibam interpretá-los de forma a que, no fim da prova, seja em que estádio for da competição, se avalie bem o que se fez, os meios à disposição e os resultados conseguidos. O "espírito de grupo", o "corpo unido", o "estágio que agrega" são blá, blá ultrapassados. Nas grandes selecções há tantos bons jogadores como grandes tormentas, seja na Espanha, Alemanha, Holanda ou Itália, as favoritas do Europeu.
Não espero nada de Portugal. Tudo o que vier acima disso é bom. O grupo é muito difícil, não adianta repisá-lo. Portugal não tem a "obrigação" de passar à fase seguinte. Está ali para contrariar os vaticínios, meu e de muitos, não para se dar por vencido. Contudo, depois das "festas" do estágio que fizeram pensar se já tinham "cumprido a obrigação" de se qualificarem para a fase final e andam "de charrete" como numa gala de vencedores, convém destrinçar uma série de coisas. Como tenho dito, "a culpa" é da FPF, que monta ou aceita que montem o espalhafato que se sabe. Não ponham panos quentes: nenhuma selecção europeia decente passa pelo que Portugal tem passado.  Os jogadores, como diz Bruno Alves e bem, limitam-se a cumprir o calendário que os responsáveis alinhavaram. A FPF, por força dos compromissos comerciais a rendibilizar agora (como escrevi anteontem), mas também o seleccionador, que tem responsabilidade de travar alguns excessos. A crítica de Manuel José, de quem raramente partilho opinião, é justa, acertada e no tempo certo. Só podia dizê-lo não só porque foi instado a isso, e fala sempre sem papas na língua, e só após o final do estágio, com uma derrota com a modesta Turquia depois de insosso empate com a pior Macedónia, era possível fazer esse balanço. O contexto está analisado. Olhemos factos para a fase final.
Tenderia a concordar com aqueles que preconizam o "agigantamento" de Portugal no "grupo da morte", quando a equipa se supera nestas ocasiões mais delicadas. Mas alguém já se deu ao cuidado de lembrar que Portugal venceu apenas UM  dos últimos SEIS JOGOS? Sim, foi o que valeu a qualificação com a Bósnia (6-2), depois de perder, bastando-lhe um empate, o 1º lugar da qualificação para a Dinamarca.
De resto, recorde-se também, o glorioso e radioso ambiente familiar e de amizade da Selecção, propalado na qualificação, deveria ser um factor decisivo para obter melhores resultados do que empatar com a Bósnia, Polónia e Macedónia, tão longe da primeira linha de qualidade quão demagógicas e estapafúrdias eram as declarações, no apuramento, de que havia alma nova na Selecção, coisa que nem se viu nem em qualidade de jogo e que os recentes amistosos agudizaram.
Vai ser giro, por fim, constatar que a comentadeirice parola e desqualificada que vem de há muitos anos e não gosta de fazer mal a uma mosca enquanto se embrulha no cachecol do Continente e na bandeira do BES, passou até agora ao lado da exigência maior que é a de verificar estarem presentes nesta fase final três jogadores fundamentais que faltaram em 2010:
- Nani, então lesionado;
- Pepe, presente na Áf. Sul mas sem rodagem competitiva após grave e demorada lesão;
- João Moutinho, rejeitado após uma má época com um mau Sporting a justificarem a opção de Queiroz.
São três titulares, sempre, na Selecção e que tanta falta fizeram, especialmente Nani, no Mundial. Ninguém teve isso em conta no tocante a malhar no então seleccionador, mas convém ter agora em conta seja para perceber como não se passa da 1ª fase, quando sem eles Portugal superou o grupo com Brasil e C. Marfim que era tão difícil quanto este com Alemanha e Holanda; ou para não embandeirar em arco porque se chega aos 1/4 final, pois são estes pesos pesados que têm obrigação de fazer a diferença e justificarem a expectativa de quem admite a passagem à fase seguinte.

Muitos asobiarão para o ar e praticamente todos eles estiveram presentes, nas suas obrigações profissionais, na África do Sul, mesmo que tenham, subitamente, passado ao lado das razões, de "circo", que mudaram o ambiente interno da equipa da qualificação, também feita no "espírito de grupo" (que Queiroz não quis perder, chamando Pepe sem justificação e tendo neste mais um Brutus a espetar a faca nas costas...), "na união familiar" atiçada pelo estágio e por aí fora, azedando tudo na fase final. Já li ontem, por sinal, que um dos enviados-espaciais destes imbecis jornaleiros do regime fez notar que o estágio na Áf. Sul foi alongado e repercutiu-se na modorra e arrelias que depois "destabilizaram" o ambiente na Selecção - como se fosse o mesmo jogar-se um Europeu a 3 ou 4 horas de casa ou no Inverno Austral e em altitude.
A idiosincrasia idiota da "Emprensa" dita desportiva vai estar tanto à prova quanto a competitivdade da Selecção do apaparicado Bento que viu a tempo prolongado um vínculo contratual (mais dois anos) a fazer pressão e chantagem que em caso de correr mal, e tem meios para evitá-lo, poderá virar-se contra ele. Isto é, se houver gente séria, de bom senso e conhecimento para fazer o justo relatório de avaliação à equipa e à continuação, de momento injustificada, do seleccionador.
A borrasca do Mundial-2010 não teve nada a ver com resultados: apuramento atrás do Brasil (normal) a quem podíamos ter ganho no último jogo que foi renhido e até "cortante", e perigosa e valiosa C. Marfim de fora; goleada do Mundial (7-0 à Corteia do Norte); depois eliminação natural, num bom jogo e com algum equilíbrio, face à Espanha que era campeã europeia e acabaria campeã mundial e com um golo em fora-de-jogo, Maradona a criticar o árbitro argentino Baldassi como nenhum português comentadeiro o fez por vergonha ou má-fé, uma participação digna apesar de três jogadores fundamentais não estarem presentes. Não me digam que agora a fasquia está baixa quando temos praticamente todos os melhores possíveis convocados...

Um último dado, de anteontem (escrevi isto na 4ª feira): Portugal chega ao Europeu em 9º lugar do ranking da FIFA onde vem caindo gradualmente desde há... dois anos. A qualificação, cheia de vitórias "de Paulo Bento" para os basbaques do costume, deu nisto. Há dois anos, Portugal chegou, sob zombaria pateta da comentadeirice serôdia cá da terrinha, ao Mundial em 3º lugar, não esqueçam.

É que, depois, ou agora, há a mania de ridicularizar a incultura da Merkel em posicionar Berlim no mapa. Quando não achincalhar a Alemanha que nos ajuda a receber dinheiro a preço abaixo do nível sinistro do socratismo...

2 comentários:

  1. Vivo na Alemanha e estou ao corrente do que se passa à volta da seleccao alema e da sua preparacao para o Euro. Deixa-me dizer o seguinte: A publicidade e o aparato que eles dao à seleccao é cem vezes maior do que em Portugal. Nao se compara mesmo. O treinador e jogadores estao constantemente a aparecer na tv seja em publicidade para gel de duche, para apostas online, para roupa, para entrevistas no balneário, no relvado, na rua, no parque, tudo. A seleccao é explorada e rentabilizada ao máximo. E nao há problema nenhum. Nao aparecem Manueis Josés alemaes a comentar e a chatear. Vivemos em 2012. Já é tempo de as pessoas porem na cabeca que o futebol é um negócio e há que saber conviver com isso. Os jogadores têm o dever de saber separar as coisas. Podem ir ver o PR, andar de charrete e mais sei lá o quê, mas quando se trata de ir treinar e jogar à bola, têm de ser profissionais. É isso que se espera.

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  2. Há aí alguma confusão. Os spots publicitários são feitos com antecedência, não colidem com a actividade e o recato da selecção.

    Cá, uma coisa dessas já foi motivo de brado. Por causa de um spot e por causa de um patrocinador. A Galp fez uma "festa" com os jogadores, por acaso apareceu o Quaresma e... ficou fora do Mundial-2006.

    Quem criou a confusão? O escroque do Scolari.

    Ou seja, há confusão e confusão, resta saber quem e em que tempo se arranja.

    É só comparar.

    A Alemanha não foi ao presidente e foi a Merkel a Gdansk jantar com a selecção. Não houve charrete e croquetes só se ela quisesse ir lá comer. Sai mais barato dar de comer a um PM do que um PR dar de comer a 30 ou 40 gajos da comitiva.

    É uma questão de perspectiva, mas nem queria ir por aí.

    As críticas de Manuel José tiveram razão de ser. Mas... como surgiram num momento em que ninguém critica nada, ui que se foi matar o mensageiro.

    Quem vê as coisas da forma mais natural possível em 2012?

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