14 junho 2012

Os grunhos da bola não têm var(r)ela

Ganhe-se ou perca-se, a bipolaridade das análises do futebol confirma como a Tugalândia é um manicómio. No Desporto, claro está, onde os pés-de-microfone amplificam as parvoices de quem as ouve ou (t)vê sem se saber bem se nasceu primeiro o ovo ou a galinha. Na Política, fruto dos salamaleques regimentais e cortesias sem esconderem que o rei vai nu mas evitam cenas sul-coreanas, russas ou mesmo da nova salada grega no berço da DemoKratia, há um comedimento em geral e uns arrufos como excepção que, pela boa educação alargada, até se evita falar de grunhos. Sopapos de renda até em debates televisivos. Na bola, a grunhice é uma instituição nacional.
Ontem, como era previsto, evocava-se muito o empate falhado de Varela com a Alemanha, retirado de cada intervenção na zona mista onde os pés-de-microfone tinham duas perguntas básicas de algibeira e estão todós lá para se replicarem como os terramotos. Não fosse o Varela - a quem ainda não se fez justiça de como operar a reviravolta na pasmaceira do jogo da Selecção - e gostaria de saber que capas dedicariam ao Cristiano pelo 3-1 falhado (duas vezes, mas a segunda... nunca imaginei aquela finalização de primeira, mesmo com calma, desastrada, sem nexo e precipitada, esperava que rodeasse o g.r. e saísse em ombros).
Antes do jogo, via SIC, assisti esmagado pelas convicções ouvidas do Rita de serviço, que Portugal ia ganhar seguramente. Nem com o 2-0 senti essa segurança e o jogo demonstrou-o. Continuamos muito no wishful thinking, tanto que dizem por ali que a equipa precisa de ter soluções "para libertar" Cristiano mas ninguém adianta uma. Contudo, há soluções na equipa, desde mudar o sistema de jogo a mexer duas peças retirando Meireles que tem estado pouco em jogo. E que o ataque, sempre entregue a si próprio, não foi muito melhor do que com a Alemanha, no sentido de ser mais alimentado, com consistência, por uma linha média afastada da área contrária. Valem mais os raides de Coentrão, ainda que episódicos porque os adversários travam-lhe as subidas, do que as chegadas de Meireles ou Moutinho, tão raras como as do lateral. Mas tem sido Varela, muito disponível para o jogo talvez por estar no auge da forma numa época atribulada com lesões e pautada pela irregularidade no FC Porto, a mudar a fisionomia do ataque de Portugal. Mais uma vez, indo atrás do prejuízo (agora a deixar-se cair do 2-0 ao 2-2), a equipa foi com ganas para a frente só porque espicaçada. E Paulo Bento a única coisa digna de registo que tem feito é meter Varela e não confiná-lo a uma faixa. Daí que em meia hora em dois jogos o portista tenha sido a evidência maior de uma equipa cinzenta. E não fosse o preto, queria saber o que faziam do brinco de diamantes do madeirense...
Quando ouço esfusiantes discursos que nada dizem de concreto do jogo da equipa e reflectem pouco o jogo em campo de parte a parte (desta vez sem a sorte arredia de nós ou o árbitro que nos prejudicou), passo das parole, parole, parole da canção antiga a Varela, Varela, Varela que faz a unanimidade dos pasquins mas não a confluência das análises.
No zapping a ver onde se apanha o melhor do pior, cheguei ao Telejornal da RTP onde até o orelhudo Rodrigues dos Santos perguntava: depois do que se viu com a Alemanha e agora com a Dinamarca, não seria hora de Paulo Bento considerar Varela a titular?
Uma pergunta óbvia, embora carente de enquadramento técnicó-táctico way beyound do escrevinhador de livros. Carlos Daniel, o afoito pivot-entrevistado-moderador-analista-faztudo, atalhou logo e disse que não, acabando a elogiar o raide de Coentrão pela esquerda.
Num dos melhores jogos de sempre de Nani na Selecção, a UEFA escolher Pepe como MVP da partida - para mais batido por Bendtner que bisou e esteve perto do terceiro duas vezes - só tem comparação na disparidade de opiniões que se ouvem no final destas coisas da bola e demonstram o número de treinadores de bancada. Por isso, uma vez, Raul Águas disse que só na RTP poderiam, num Domingo Desportivo, eleger golo da jornada um canto directo...
Há coisas que ultrapassam a nossa imaginação e vão muito além do entendimento racional. É por isso que o futebol na Tugalândia é um manicómio e muitos se sentem bem assim. Ou o Portugal dos pequeninos...

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