26 novembro 2013

Guardiola goleou Klopp sem tiki-taka



Passaram ontem 60 anos do triunfo empolgante da Hungria em Wembley e os ingleses, agora inundados de estrangeiros como naquele tempo afogados no seu isolamento de ilhéus, ainda pensam sobre a necessidade de ter melhores jogadores.

Há poucas semanas o treinador do Bor. Dortmund teve um trejeito depreciativo sobre a sua "ideia" de futebol, leia-se ideia aplicada aos outros: que se fosse criança e tivesse visto o Barça (recente) jogar ter-se-ia dedicado ao ténis. São opiniões, livres e aceitáveis, da mesma forma que, ao anúncio de Guardiola ir para o Bayern, no Verão, Jurgen Klopp disse que, na Bundesliga alemã, ele seria o (terrível) Mourinho para o ex-técnico do Barça.
 
Os linguareiros pagam sempre a sua língua de pau e de palmo. Vi atentamente o Dortmund-Bayern de sábado, como gosto de apreciar os grandes jogos com grandes intérpretes. E fico sempre a pensar no que me foi dado ver, juntando ainda o background do jogo e que remonta ao Verão, precisamente, ou até à final da Champions em Wembley entre as duas equipas.
 
Tal como em Maio, em Londres, no sábado estive sempre mais bem impressionado com os amarelos que via capazes de ganharem. Perderam em Wembley num belíssimo jogo em que mereciam o prolongamento. E perderam, agora, em casa, de forma mais retumbante. O que o fabuloso Bayern de Heynckes não logrou, subjugar e "convencer" da sua superioridade, o Bayern de Guardiola - independentemente das deixas aos jornalistas, impensável num clube de topo - conseguiu, mesmo que a 1ª parte tenha sido dos da casa. Porém, como em Wembley, faltava ali algo para materializar nos amarelos o seu futebol escorreito e lúcido, mas naquele momento incapaz de passar aos golos.
 
Guardiola, ouvi-o depois no final num alemão que estou a tentar atingir e para isso queria ouvir os intérpretes no final (e os comentários de Lothar Matthäus), não exultou pelo 3-0 e os 7 pontos a que deixou o rival. Reconheceu uma 1ª parte sofrível, em que o Dortmund dominou e o Bayern defendeu sem riscos de maior mas incapaz por si de virar o jogo.
 
O jogo virou-o Guardiola, à hora certa: meteu o ex-Dortmund Mario Götze, que marcaria o 0-1 respeitando a "afición" local sem festejar. Depois (ainda antes do 0-1), meteu Thiago Alcântara, ex-Barça. Os dois jogadores, com toque de bola e trato de bola acima da média, alteraram a forma de jogar do Bayern porque a bola saiu sempre mais redondinha, circulou melhor e chegou à frente em condições. Foi Thiago, num magistral passe de 40 metros, que lançou Robben para o 0-2. Endspiel! Mas Muller ainda ampliou (0-3) e o resultado já não escandalizou, após incursão e passe de Lahm. "Bons médios asseguram melhor jogo, sintetizou Guardiola.
 
É preciso bons jogadores para produzir bom futebol e, ao contrário do que alguns dizem, até contra si próprios, os treinadores não são indispensáveis, ajudam a melhorar os jogadores e a manter a equipa a rolar. Em resumo:
- num clássico de campeões, Guardiola foi ao rival ganhar 3-0, para o que tirou um avançado (Mandzukic) e meteu um médio-ofensivo (Götze); logo a seguir tirou um central (Boateng, já amarelado e que teve uma intervenção de altíssimo risco a impedir Reus de se isolar com um corte incrível, ainda com 0-0) e meteu outro médio (Thiago). De repente, aquilo chegou ao 0-3.
- num jogo típico da Liga Tuga, com um Nacional superfechado mesmo a perder 1-0, Paulo Fonseca tirou Varela e meteu Licá, tirou Josué e meteu Quintero; apesar de certos apaniguados do "mau futebol" escrito e falso como os jornaleiros que dizem criticar, PF procurou ampliar, e não defender, o resultado. Não teve sorte, nem na finalização nem na defesa do resultado: o novo figurino da equipa desequilibrou-a um bocado numa busca incessante, ainda que desconhecida de certos bacocos das redes sociais portistas, mas louca e injustificada, por mais um golo e a coisa terminou como se sabe, fruto de um deslize individual inadmissível, não em zona proibida mas no momento proibitivo por toda a equipa estar à frente e Otamendi já no meio-campo adversário!!!
 
"Tata" Martino manteve o Barça em alto nível e Guardiola fez o mesmo no Bayern, equipas intratáveis nos seus campeonatos e na Champions. Paulo Fonseca teve liberdades que o FC Porto não deveria permitir a um novato sem tarimba destas andanças e descaracterizou o futebol portista, demorando a retomar o caminho de que não deveria ter saída apesar da saída do mentor maior do tiki-taka portista, Vítor Pereira. O FC Porto paga a transição de treinador e a pusilanimidade de ver alguém mexer a mais onde não devia, a cultura de jogo enraizada. Disso, porém, fui falando desde o Verão, materializando-se a incompatibilidade das ideias do treinador com as características dos jogadores.
 
Mas para vencer o Dortmund diante dos seus fiéis 80 mil semanais, não foi o tiki-taka que derrotou Klopp. Guardiola já pediu para não se rever no Bayern o seu Barcelona época e glorioso. O Bayern não faz tiki-taka, de passar a bola ad infinitum, o que não quer dizer que não cultive o gosto de jogar bem, caminho essencial para ganhar mais. Privilegia os jogadores que sabem jogar mesmo com a adaptação de algumas peças julgada impensável.
 
Também nas últimas semanas deu brado a "reclamação" de Philip Lahm por jogar na posição 6, a trinco puro, quando sempre foi lateral, normalmente à direita mas sabendo também da poda à esquerda. Vi Lahm pela primeira vez a trinco e parece que nasceu para a função: sabe passar, receber, jogar para trás e para a frente, desarma, faz tackle, vai ao ataque. Lahm não pode temer pelo seu lugar na Mannschaft, mesmo que Löw o dispense das laterais, nem pelo Mundial.
 
Os grandes jogadores sabem fazer a diferença em qualquer lado. O Bayern, contido e até envergonhado, precisou de dois tratados de bola para desarmar a fúria dos panzers amarelos, deixando Klopp cabisbaixo. Quando assim é, nada há a fazer. E o sucedido na Supertaça da Alemanha (4-2 para o Dortmund) era apenas o início de um caminho que Guardiola, também em dificuldades na Supertaça europeia com o Chelsea (ganha nos penáltis), estava apenas a começar mas agora vai destacado. Na Champions, o Borússia corre o risco de ser relegado para a Liga Europa se não vencer o Nápoles hoje.
 
Importa é ver bom futebol e aprender, sem temor de replicar algum modelo ou "sugestão". Guardiola sabe a importância dos médios (Götze entrou em vez do avançado Mandzukic), mas mais o que é preciso para fazer jogo e chegar aos golos. Jogar bem, tratar a bola como deve ser retirou a iniciativa que o Dortmund teve durante 60 minutos. O tiki-taka pode não satisfazer todos, mas o futebol também não é só correr.

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