11 novembro 2013

Os defeitos e os contrafeitos

É curioso como jornais e bloggers viram o jogo do Porto em Guimarães. Os defeitos, para muitos na bluegosfera, estão lá todos. Como se o Porto não tivesse jogado diferente dos últimos jogos. E como se os tais defeitos não fossem pelo menos neste blog apontados desde o início, ainda antes até de a bola rolar. Mal Paulo Fonseca abriu a boca para a sua nova era, numa entrevista aos canais de informação do clube que O Jogo publicitou, apontei logo problemas de princípio. E nunca poupei as reservas que os jogos vinham demonstrando de modelo errado para o futebol portista.

Nos jornais, além de estamparem as suas preferências com a nuance de O Jogo ter sempre uma capa diária distinta em Lisboa e no Porto, o que os outros estupidamente não fazem, o Rascord lembra-se de assinalar a expulsão de Mangala. Na economia do jogo não teve impacto, no futuro também não terá a não ser a ausência certa frente ao Nacional no reatar da Liga. Para mais, uma expulsão mal feita, nem acho sequer que foram justos os dois amarelos que o francês viu mas ele paga por uma "imagem" que lhe colaram e pelos bestuntos dos idiotas árbitros tugas como Jorge Sousa, ríspido com os portistas e meigo com as terraplenagens de André André e Leonel Olímpio (de resto já perdoadas no jogo europeu com o Bétis, nunca vi, nem em Javi Gardia ou Matic, médios fazerem tantas faltas sem verem um cartãozito).
 
Já A Bolha assinala o fim do jejum de Jackson, como se tal não resultasse, para mim, do mais escorreito e definido futebol portista a servir o ponta-de-lança, o que traz à tona a emergência do reencontro do FC Porto consigo próprio, a sua filosofia e o seu estado de arte e de espírito. Eu já tinha saudades de ver a equipa assim, embora não tenha sido brilhante. Mas não embandeiro em arco, pois não sei o que vem a seguir e registo que pode ser prejudicial a paragem da Liga pois era bom ver se o jogo de Guimarães tinha sequência.
 
Lembro-me dos 4-0 da época passada num jogo de brilho máximo que, depois, teve um empate caseiro com o Olhanense e uma série de jogos pouco conseguidos, ainda que marcados por muitas ocasiões de golo não aproveitadas, incluindo os dois penáltis de Jackson com Olhanense e Marítimo.
 
Mas sem nem antes a bluegosfera percebeu como definhava, e não encontrava as razões do afundanço, o futebol portista, também não esperava que agora desse conta da melhoria. Num estado letárgico, consequência de mau jornalismo crítico na Imprensa e das suas debilidades inatas que o voluntarismo não disfarça, alguns portistas que se atrevem a escrever por conta própria, aqui e ali quiçá sujeitos a "verificação" e conselhos de amigo de outras esferas discretas mas perceptíveis, parece que ninguém se entusiasmou com a vitória clara, inequívoca e bem alicerçada em jogo e ocasiões de golo. O desfasamento com a realidade não é só da equipa, quando compromete em jogos impróprios, nem sequer do que se comenta na esfera político-social.

Há sinais que ou não se entendem ou nunca serão entendidos. Sinal dos tempos de confusão e pouco discernimento. Ao menos que a equipa tenha encontrado o seu. Como vinha dizendo nos últimos tempos, minimizando o que os números vinham dizendo também da carreira da equipa, ainda bem que assim é. Para o que vinha sucedendo, consegui passar um jogo sem sobressaltos e estou muito satisfeito com o que o FC Porto voltou a ser capaz de fazer em Guimarães. E eu, afinal, posso ter sido o primeiro, mas não sou o último (resistente) contrafeito.

Li, entretanto, em O Jogo a crónica do Carlos Machado. Percebi um ponto, que terá melhorado e já aqui tinha suscitado comentário, a respeito dos laterais. Já anotei por aqui que os laterais atacavam bastante mas em conjunto, desguarnecendo as posições que o adversário aproveitava. Ora, segundo a crónica, outro aspecto correlacionado terá sido compensado agora e, confesso, tenho certa dificuldade em perceber muitas coisas por um streaming num ecrã de pc onde não dá para ver tudo, além de várias interferências. Pelo que é relatado, Defour fechou mais no meio e deixou a esquerda para Alex Sandro subir.

Bem, eu acreditava que Alex Sandro e Danilo subiam mas essas subidas não eram compensadas e os corredores protegidos. Havia aqui uma deficiência grave, se os médios não cobriam tinham de ser os centrais a acorrerem às alas, abrindo mais espaços no meio que, por sua vez, os médios centrais não tapavam também. Toda esta descompensação defensiva, se é permitida a expressão futeboleira, resultava em muito perigo que dantes não existia. Acontece que Alex Sandro, em plano inferior ao do ano passado e até em comparação directa com Danilo que tem estado bastante bem (e muitas vezes referi aqui ser o "flop de 20ME"), tem estado desastrado a definir a sua jogada: passa ou finta e invariavelmente faz as duas coisas mal, levando ao contra-ataque do adversário e a compensação urgente nesse lado.

Foi, portanto, tudo isto que tenho apontado nos diversos jogos mas, conta Carlos Machado, parece que surgiu corrigido. O que é bom, a equipa percebeu os erros ainda que a bluegosfera mal se tenha dado conta disso, porventura a Imprensa não trata devidamente dos casos e a coisa fica indefinida. Mas tudo resulta, por fim, como sempre dei conta aqui e por múltiplas vezes, da má gestão de Paulo Fonseca.

Noto mais um pormenor que os desatentos não perceberam também: Lucho felicitou Paulo Fonseca, bateu-lhe com a mão no peito como a dizer: tás a ver, fizeste bem e as coisas saem melhor. Acredito que os jogadores chamaram o treinador à razão, este deu o braço a torcer e o Porto coeso e funcional da época passada poderá ter começado a funcionar. Se for assim, e os próximos jogos provarão isso ou não, tudo entrará nos eixos, eu deixarei de "dizer mal" e o FC Porto poderá mostrar a solidez de campeão que agora os outros "renitentes" recusaram ver. Podem estar desconfiados, o que é natural: eu sempre estive, mesmo nas vitórias nunca fiquei convencido e ainda com o Sporting referi isso.

Mas não ver o que mudou, só um cego. Infelizmente, não faltam cegos por aí em tudo o que é análise ao estado das coisas que desanimam qualquer um em Portugal.

Aliás, depois de se falar, no Portugalório insano e costumeiro em que os jornalistas parvos se deixam enredar  com Artur Batista da Silva exemplares aos montes, hoje fala-se da Educação, das Escolas e dos Rankings, mas não pela evidência dos problemas, antes negando as soluções e escondendo a realidade assustadora de notas médias muito abaixo do exigível, seja público, privado, bem ou mal a nível socio-económico.

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