03 novembro 2013

Não jogar a ponta de um Porto

Dois pontos deixados pelos anjinhos em Belém e nada a obstar. Começa a ser irritantemente aflitivo ver jogar, ou não jogar, o Porto. A incapacidade de "jogar", a ausência de uma ideia de jogo, a inexistência de um modelo e organização palpável, visível e partilhada pelos jogadores causa erros primários no passe, no corte e na concentração. O resultado é deste tipo e qualquer equipa mexida, de pelo na venta, que corra e salte, estorve e pressione deixa o Porto em frangalhos. Um nojo que se torna difícil reescrever a cada jogo insípido e sem mando. Não dou nada por esta equipa e este treinador, insisto. Ao contrário das últimas épocas, com mais de 100 jogos sem perder - "aquilo" de Barcelos foi um galo com Paixão para ser levado a sério -, agora não arrisco num campeonato sem derrotas. Um adversário que saiba jogar, como na Champions, sem fazer cócegas no ataque ganha fácil ao Porto. Fonseca, sempre no seu ar de principiante sem saber onde caiu (e como caiu), já ficou na história pelas duas derrotas caseiras na Champions. Ficará num qualquer solavanco do campeonato que crie uma derrota, aí ai virar da esquina. Qualquer Arouca, P. Ferreira, Estoril ou Belenenses encrava aquele simulacro de jogo sem tino, sem ordem e sem fio de jogo: o Porto marcou um golo fortuito, lance de bola parada, não criou uma ocasião de golo na 1ª parte e sofreu o empate por mais uma asneira individual que o desatino colectivo não atenua. Um par de remates após o intervalo e bolas para a área sem alguém abrir nos flancos mas despejando a bola de frente para os defesas foi o resumo que não evitou um resultado escabroso e uma exibição de novo sem palavras para descrever.
 
O treinador para mudar a inexpressividade ofensiva da equipa fez uma troca directa (Licá por Ricardo, que ainda fazia coisas com sentido e rompia a defesa azul), depois o jogo directo ao tirar Herrera e meter Ghilas ao lado de Jackson. Só piorou. O Belenenses que já ganhava os duelos directos passou a ter as segundas bolas. O meio-campo desapareceu e Lucho acabou substituído por Carlos Eduardo. Dizer que é desinspiração é empurrar com eufemismo a tragédia colectiva rumo ao abismo. Continuo a não compreender como é que o Porto joga: curto, longo ou torto. Como há tantos médios e abusava-se do jogo largo que muitos "vêem" ofensivo e a bola invariavelmente é jogada para trás. Isto é delapidar o património portista, mas alguns pategos julgam ser crise de transição de treinador como se um novo tenha carta de alforria para subverter o, estilo "natural" e que até se julgava "imposto" pela administração. Isto só pode acabar mal... Para já, os rivais a cinco pontos recuperaram moral mais do que os dois pontos e para os que costumam dizer que o desgaste da quarta-feira europeia pesou agora só mesmo a patetice de sofrer a "influência" do jogo que aí vem na próxima semana. Ou boi ou vaca, ou estado de alma ou estado de asno e, vai daí, subitamente, o treinador descansa Josué que até vem sendo dos mais activos e acutilantes, talvez a "poupá-lo" para a Rússia. Lembro-me de treinadores que faziam essa "gestão", há 10 anos...
 
Há patetas que, talvez criticando o futebol metódico mas eficiente e até massacrante para o adversário, hoje esperam dar tempo julgando que isto passa, põe-se um penso e melhora. Acreditam na Virgem e no Pai Natal, para não dar o braço a torcer pelas críticas injustas dos últimos anos e confiando que, uma vez mais, alguma coisa se componha por obra e graça do Espírito Santo. Nem obra se vê e graça não tem nenhuma. Na iminência de ir borda fora da Champions e uma saída na Taça a Guimarães, subitamente o treinador Preocupações Fonseca tem nova semana de teste a sério que começa da pior maneira: nem é pelo resultado, mas pela preocupante inibição, desastrada na construção - Herrera fez de fantasma a passar bolas erradas e os entrais são facilmente desarmados quando ali se quer iniciar o jogo sem se perceber para que servem tantos médios num modelo que comprovadamente não funciona e decerto os jogadores não são burros para desaprenderem o que sabiam nem não aprenderem algo de novo - e sem poder de finalização. Aos jogos aos soluços, ou empurrões, com resultados nada entusiasmantes à parte os três pontos que só satisfazem os patetas que em circunstâncias semelhantes nos últimos anos só pediam "mais ataque" e "mais golos", temos que Jackson não marcará metade dos que fez na época passada e o Porto não passará um jogo sossegado sem temer uma bronca, um erro, um empate.
 
Ora, este momento de desassossego e desatino, quebrado pela "invenção" de Danilo a desempatar com o Sporting como se fosse Hulk ou o jogador decisivo que não temos, serve perfeitamente os patetas que ´se limitavam a debitar "gostos", gosto assim e não assado sem verem a alternativa, supondo que isto se faz por "likes" como no FB onde se compram em fábricas do Bangladesh os tais "likes" para fazer muitos e criar ondas como na Nazaré. Como o 1 de Novembro deixou de ser feriado, o FC Porto deixou para o dia seguinte, apropriadamente, a indicação marcante de como fazer de morto. Os patetas devem gostar de ver indícios de "crescimento" e comprovativos de como o "tempo" pedido tem melhorado a equipa e dado confiança ao treinador. Curiosamente, com um discurso esfarrapado, repetitivo e inconvincente para ele próprio, mas Preocupações Fonseca não tem sequer os experts de comunicação há um ano de verve solta e larga em relação a Vítor Pereira. Muito menos os que sabem como se joga futebol e se faz uma equipa sem esturricar as etapas desse trabalho. Isto se não deu, claramente não deu, até final de Outubro dificilmente dará. Porque o que nasce torto tarde ou nunca se endireita. O Porto não joga a ponta de um porno, corno Porto que se assemelhe a uma equipa ganhadora. A cultura de vitória do FC Porto, cantada pelo Preocupações Fonseca, é tanto do seu conhecimento como dos adeptos que julgam saber avaliar e "comparar" o jogo jogado. Mas dos adeptos estou-me nas tintas, a equipa é que faz desesperar. E já não é pouco.

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