Leitura comparada

Os resultados da votação que em boa hora o Zirtaev lançou são interessantes (forma analítica), mais do que os comentários entretanto feitos (emotividade, excessos). Nestes, por exemplo, critica-se mais o treinador do que a estrutura directiva, mas Jesualdo sai, no voto, como menos “culpado” da crise – ainda que seja ele, e mais ninguém, a ter de resolver este problema conjuntural que fez o FC Porto ter a liderança ameaçada quando era previsível, passe o exagero do campeonato ganho a meio, que saísse reforçada.

Nada se alterou ao longo do dia (tendências) até às 22 horas em que escrevo. Consensual é que a paragem do campeonato fez mal (1º factor de risco). Ao FC Porto, à excepção dos tempos com Mourinho (esperto?; prevenido?), fez sempre mal. Fez mal com António Oliveira, Fernando Santos, Octávio, Fernandez, até com Adriaanse. Para mal de Jesualdo, que advoga férias natalícias (8 a 10 dias) como se os jogadores não tivessem tido um mês de férias no Verão e noutros campeonatos só as más condições climatéricas obrigam a paragem competitiva, a paragem fez efectivamente mal. Indesmentível.

E se o treinador tem de resolver, já, a situação, pois cabe-lhe encontrar soluções, fico de pé atrás quando, pelas suas declarações de véspera do jogo, falou de que, faz os calendários de competição sem saberem “de rendimento desportivo”. Esta parte é que me preocupa, porque não sei de rendimento desportivo mas sei que muitos treinadores, sem falarem nele, ganham e no futebol só interessa ganhar. Se esta lembrança dos experts de rendimento desportivo for para me lembrar de como os professores, no futebol, não são os maiores vencedores, então fico mais preocupado ainda…

Há um ano também desancava Adriaanse pelo fracasso europeu. Mas rendi-me à sua combatividade ao ponto de virar a equipa de pernas para o ar e alterar o figurino táctico com que venceu a dobradinha por mérito seu em grande parte. Há uns meses não faltaram adeptos a incensar Jesualdo e a zombar do holandês. É efémera a glória e ridícula a (in)compreensão dos adeptos sempre apanhados em excessos… Hoje é evidente que a equipa escalada frente ao Atlético foi a base do insucesso de agora. Nada a fazer, porém.

Faltam jogadores

Não sei, neste contexto, se a alegada ausência da estrutura directiva, que não joga, é para aqui chamada (2º factor de responsabilidade na situação). Pela votação (3º), os jogadores tornaram-se molengões e, até, temos alguns cepos no plantel (minimizado). As duas coisas são verdadeiras. Há jogadores fora de forma. As férias não servem para reforçar-lhes essa forma, e muitos treinadores, de fora, indicam que a equipa parece estar na pré-época.

Que há alguns jogadores que não “calçam” na qualidade pretendida no FC Porto é uma evidência. Por isso alguns já saíram e outros estiveram para sair. Aqui nunca haverá consenso. Como, até aqui, poucos se interrogaram da razão de Adriano não ser sequer opção de banco (para mim o grande, maior mistério da época) enquanto Postiga marcava jogo sim jogo sim à medida da minha perplexidade sobre até quando duraria este estado de graça que a uns tantos fazia pensar mesmo no título europeu, Deus lhes perdoe tamanha insensatez…

Argumentar que faltam jogadores de categoria como Quaresma, Anderson e Pepe é legítimo (5º). Quem não o diria? Agora perguntem-se das razões. Nenhuma aceitável para compreender a sua ausência. Os plantéis são feitos, e reforçados, como o melhor que se puder comprar. Ou formar. O FC Porto desta época ou outra época qualquer é avaliado pelos jogadores que tem, não os que poderia ter, ou pelos que não quer ter. Quem dispensaria aquele trio?

Obviamente, o FC Porto fica mais fraco sem os três. Não ficou mais fraco por perder Anderson, mas nota-se muito quando faltam os três. É para isso que estão cá, para jogar e não para dar trunfos aos adversários que têm de os neutralizar e às vezes à margem da lei.

No meio da salgalhada, alguém imagina Ibson a nº 10 (eu não, que vi nele a falha gritante no golo do Atlético e nem pensei que Jesualdo lhe perdoaria tal displicência!) e pede o Jorginho para jogar. O problema é que, na situação difícil actual, Jorginho será criticado se não resolver nada, porque a pressão será inimiga e não auxiliar e a cobrança será maior dos próprios adeptos que à partida já olham com desconfiança para tudo e todos.

E é neste estado de coisas, sob uma pressão que pode cobrar factura mais pesada ainda, que o FC Porto receberá a Naval que se tem portado muito bem. Pelo visto, os adeptos estão mais para assobiar do que apoiar. A ganhar qualquer equipa dispensa apoio, até o reconhecimento da Imprensa. Nas horas complicadas seria bom não “forçar a barra”.

Sobram árbitros

Ora, se Anderson foi excluído por quatro meses por uma entrada bárbara que nem falta mereceu. Se Quaresma foi expulso por uma “ameaça de tentativa de agressão” que não cometeu. Se Pepe viu um 5º amarelo sem falta fazer. Se o FC Porto sofreu um golo que valeu uma derrota injusta sem falta haver. A conclusão é que o FC Porto terá de ter mais 5 ou 6 jogadores desse nível para suprir a falta de três? Que equipa se dá a esse luxo?...

Parece que sobram é árbitros a juntar aos problemas conjunturais (repito-o, para destrinçar de questões estruturais que não se põem) que subitamente afectam a equipa.

Aos penáltis não marcados a favor do FC Porto, sempre a equipa com menos penáltis concedidos pelos árbitros ( O Jogo reduziu os meus dados de 11 anos a 6 anos neste século), junte-se os reflexos das suas arbitrariedades disciplinares e misturando tudo vê-se que outra da votação significativa (4º) é que se torna difícil fazer melhor com árbitros assim.

Já abordamos essa questão por diversos ângulos e com factos concretos.

Contudo, dia a dia somos “assaltados” pelo mediatismo forçado do Apito Dourado que de uma forma ou de outra se reflecte nos jogos do FC Porto (e parece aliviar os jogos dos rivais directos, o que nem é pura coincidência e já vimos em 2004-05) e não pela razão mais justa. Repetem-se ad nauseum as acusações disto e daquilo sobre corrupção, títulos comprados, árbitros viciados – e assistimos a autênticos assaltos à mão armada por arbitragens desastrosas que, oh coincidência!, têm marcado a viragem do campeonato como se um desígnio misterioso quisesse nivelar, de novo, a classificação.

E dá para perguntar a quem agita os favores arbitrais do passado:

- que árbitro dos anos 80 ou 90, fosse Guímaro, Calheiros, Silvano, Xico Silva, Rosa Santos, Bento Marques, e tantos, tantos outros que alegadamente se conluiaram para favorecer o FC Porto fez tantas asneiras num só jogo como negar 4 penáltis a uma equipa (Bruno Paixão e Lucílio Baptista)?
- que árbitros, nos anos 80 e 90, todos sob suspeita e já queimados pela opinião que se publica, tiveram aqueles 45 minutos de horror de Elmano em Leiria, a negar dois penáltis, a expulsar um jogador, a dar amarelos sem jeito para culminar com uma falta inexistente que deu um golo ao adversário?
- que árbitros, enfim, em apenas 10 minutos, fizeram como Duarte Gomes no Sporting-Nacional a inventar um penálti e condicionar o guardião Diego com um amarelo, poupar Miguel Veloso a uma expulsão (entrar a pés juntos e com os pitons nos pés de Juliano devia dar mais do que amarelo) e permitir um golo falso por falta clara de Bueno sobre Alonso deixando o Sporting empatar num jogo em que não se via como anular a desvantagem?

Quem responder a isto tem, sem favor nem suspeita de entrar num qualquer processo judicial por corrupção activa ou passiva, viagem garantida na próxima saída do nosso Primeiro a uma economia emergente do planeta, tudo num filme cor-de-rosa e pincelada a preceito na Imprensa de mão do regime…