Olhar para dentro e arrumar a Casa

«É óbvio que ao FCP só lhe deixam um caminho para a “redenção” : ganhar contra tudo e todos.

O processo Apito Dourado (AD), para além dos caminhos que a justiça vai trilhar e das suas consequências, tem um efeito imediato: condicionar os árbitros e os decisores das instituições que gerem o futebol. O FCP perdeu "o direito" a protestar porque é uma entidade "suspeita de praticar crimes desportivos" ; para os que decidem não é oportuno tomar qualquer decisão favorável, pois o seu autor poderia correr o risco de ser tomado como cúmplice. Há uma tendência para fazer o jogo do lado do poder (da "verdade") dominante. Ou por convicção, ou por interesse, ou por deslealdade, ou por oportunismo, ou por medo.

Não devemos ficar admirados: o mundo é assim, a vida também. O FCP vive num terreno minado e parece-me óbvio que algumas das minas foram da nossa responsabilidade. Apesar disso, não creio que seja tempo de desespero, que nunca é bom conselheiro. Mais: acho de toda a inoportunidade clamar por atitudes de algum radicalismo, após as derrotas sofridas. Era uma prova de fraqueza. Para além dos árbitros, apetece-me repetir Reininho que disse (cito de memória): isso das arbitragens é tanga; o que notei no FCP foi um conformismo inexplicável quando a bola batia na trave ou não entrava.

Com efeito, o FCP nos 3 jogos que perdeu jogou muito mal, tirando os primeiros 20 minutos com a União de Leiria. Mesmo com o Aves que ganhámos, jogámos quase sempre de forma displicente. Não julgo que o FCP se deva queixar das arbitragens como fazem as equipas "menores". O FCP tem que ser uma equipa capaz de se confrontar com a adversidade da arbitragem. Creio, mesmo, que a crítica a arbitragem deve ser sempre pausada, mínima e certeira: os jogadores não podem contar com esse álibi para justificar as falhas e a falta de atitude que foi imagem de marca nesses 3 jogos.

O treinador e a restante equipa técnica devem ter uma reacção ajustada e proporcional. A arbitragem não deve – salvo em casos excepcionais – ser o enfoque do líder. Isto porque aquilo que é desculpável no jogador que reage por impulso no momento em que sente injustiçado, não deve ser consentido ao treinador. Este deve mediar e prevenir, na medida do possível, os conflitos com o árbitro e "treinar" o atleta a conter-se, mesmo perante decisões injustas. O interesse do clube está primeiro e o atleta tem de se habituar a não reagir de forma que possa ser castigado, ainda que esteja cheio de razão e "enjoado" de todo. Não é fácil, mas na época passada, nesse particular, fomos quase perfeitos.

Não estou de acordo que seja este o momento de abrir guerra contra a arbitragem : acho que a atitude do FCP junto da CA da Liga se mostrou adequada, tal qual como a publicação das imagens das jogadas duvidosas. Vale mais uma imagem que mil palavras. Apesar de uma andorinha não fazer a primavera, ATT transcreveu o seguinte de um artigo de João Marcelino «Não percebi porque Quaresma foi expulso em Leiria. Com a liberdade que assinalei durante alguns anos os benefícios arbitrais ao FCP, também digo: parece-me – parece-me – que os árbitros, agora, na dúvida, são logo contra. E não têm de ser. Só têm de ser honestos»; um pequeno artigo transcrito no Público da Quartarepublica.blogspot.com, diz «O AD continua a céu aberto, apesar do segredo de justiça, e cada vez com mais pormenores...A tramóia não é geral e está perfeitamente localizada nas cidades do Porto, Leiria, Figueira da Foz e Funchal! ... O resto do país está imune. Podemos dormir descansados...»

Algo está a mudar. Lentamente. Só espero que essa mudança nada tenha a ver com os sinais de fragilidade da nossa equipa. Todos sabemos que mereceremos as maiores simpatias quando passarmos a ser os coitadinhos que anseiam que nós sejamos. Os invejosos ficarão satisfeitos porque têm menos uma preocupação, os poderosos ficarão felizes porque passarão a dispor de mais uma preocupação que lhes permita a prática da compaixão. É assim: vivemos nesta hipocrisia. É um país de carpideiras. Não podemos fugir, mas está nas nossas mãos evitar dar tais satisfações a essa gente que sonha com a nossa derrapagem, rumo ao abismo.

A arbitragem do SCP-Nacional foi exemplar, como foi a do FCP-Leiria. Devemos denunciar. Insisto: devemos ter um Gabinete de comunicação que disponha de material para memória futura. Mas a acção principal tem de ser virada para o interior da equipa do FCP. Nada deve substituir o trabalho de recuperação. E não há mal nenhum que os sócios apontem o seu descontentamento, desde que o façam de uma forma comedida e respeitosa. E muito do que li, achei perfeitamente razoável. Devemos ser uma fonte de pressão para a equipa e os dirigentes. Gente acomodada não faz campeões. Não se trata de assobios, nem de insultos: trata-se de exigir que se comportem (equipa técnica e jogadores) com profissionalismo, de acordo com os altos salários que auferem, com as óptimas condições ao dispor para o exercício das suas funções que "adoram", conforme não se cansam de anunciar.

O futebol é um espectáculo: é muito importante que seja bem jogado e atraia multidões. Mas a vitória e chegar em primeiro é um super espectáculo. Esse é o alvo primário. É muito importante não o falhar, neste tempo cheio de "perigos". Olhar para dentro e arrumar a Casa.»

Mário Faria in Portal dos Dragões