Tacticamente imperfeito

Vários factores justificam muito do que vai acontecendo com o actual FCPorto. De muitos deles já falamos. Infelizmente, muitos exteriores ao futebol propriamente dito. A derrota em Leiria foi o melhor exemplo do que acabei de dizer, lá a equipa esteve globalmente bem, só não venceu por mero azar e principalmente por influências douradas. Já contra o Estrela existiram outros problemas e a equipa não conseguiu convencer nenhum portista de que merecia inequivocamente a vitória.

Anderson
No último sábado o esquema táctico não terá sido o mais adequado, aliás muitos portistas há muito falam do problema do meio campo que, contra equipas que logo à partida sabemos que se vão fechar na defesa, não necessitaria de dois médios de características defensivas. Algo de que tinha falado ainda antes do jogo de Setúbal, em que foi experimentado Jorginho no lugar de Raul Meireles e com sucesso.

Apesar destes problemas, tudo seria disfarçável caso Lucho estivesse em boa forma, o que não acontece, ou pelo menos vai estando muito intermitente. Ainda contra o Estrela a quantidade de passes que falhou e o pouco que esteve em jogo foi por demais evidente e acaba por se reflectir no jogo ofensivo da equipa. Mas acaba por se entender a continua inclusão de Lucho no onze por parte de Jesualdo, o argentino tem um sentido posicional excelente e a qualquer momento com o seu excepcional remate pode resolver um jogo. Poderá estar cansado, mas ouço isso desde que chegou ao FCPorto e ele já provou que não precisa correr muito. No entanto não deixou de ter sido um dos ausentes no passado sábado.

Quaresma
Na frente, continuando a inexplicável exclusão de Adriano (quem será verdadeiramente responsável por isto?), Postiga começa a voltar atrás, pode até ser passageiro, mas os constantes fora de jogo em que cai e as constantes caídas para o chão são a sua “imagem de marca” e foi precisamente o que se viu. Precisará de um pouco de “descanso”, mas nunca para dar lugar a Sokota que tem de ganhar ritmo de jogo e entrar aos poucos. Bruno Moraes era o substituto mais lógico, mas no sábado teve uma lesão, deixando de ser opção. Poderia Jesualdo ter experimentado o guerreiro Lisandro no meio, servido por Alan e Vieirinha, mas pouco poderia fazer mais.

Pepe
Atrás, Ricardo Costa, além de não ser um prodígio ainda tem um défice total de confiança por parte dos adeptos que não lhe perdoam o mínimo deslize. Aqui acho que Jesualdo terá errado ao colocá-lo no centro da defesa na hora do desespero portista. Com três defesas, o centro da defesa deveria ser entregue a Bruno Alves, além de que Ricardo Costa estaria bem mais rotinado às laterais. Mesmo assim Jesualdo terá errado ao tirar Lucas Mareque, deixando Ricardo Costa, quando este já estaria psicologicamente muito abatido. A defesa a partir desse momento ficou numa autêntica confusão táctica, com algo inimaginável a acontecer, Bruno Alves a fazer centros na esquerda do ataque. Incompreensível.

Jesualdo não foi tacticamente perfeito, mas não pode nunca ser dado como o responsável máximo do que tem acontecido. Os nomes dos problemas, quero dizer, das soluções estão à vista. Não existe nenhum treinador no mundo que, para além de questões que não deveriam fazer parte do futebol, resista à falta na sua equipa de três tão importantes jogadores mais um, neste caso, Lucho. Ainda assim, não sendo o principal culpado, cabe-lhe a ele a dificílima missão de curar todas as feridas profundas abertas neste Janeiro, mesmo as infligidas por terceiros.