Postiga descodificado

"Hélder Postiga poderá estar a caminho do Panathinaikos. Segundo a Imprensa grega, José Peseiro, treinador da formação ateniense, pretende reforçar o sector atacante da sua equipa com o avançado do FC Porto, podendo o negócio ficar fechado nos próximos dias."
In O Jogo

Como uma grande parte dos portistas, não pude deixar de, ao ler esta notícia, ficar contente com a mera hipótese do Hélder Postiga poder rumar a outras paragens agora no mercado de Inverno, neste caso rumar ao Panathinaikos da Grécia. Penso que esta ou outra solução que passe pela saída do internacional português do FCPorto seria boa. E seria boa quer para o clube, que se livraria de pagar um exuberante ordenado no final do mês por um jogador que nada rende, quer para os adeptos, que há muito perderam a paciência com um avançado sem chama que se arrasta pelo campo quando joga, quer para o próprio jogador que demonstrou ter grandes qualidades antes de rumar a Inglaterra mas que, por razões psicológicas ou outras quaisquer que não se conseguem entender, parece não mais conseguir impor-se ao serviço dos Dragões, sendo agora uma ténue imagem do que era nessa altura. Assim, será então melhor procurar sair da depressão por que tem passado aqui e tentar marcar golos noutro sítio.

Aquele que terá sido um dos maiores erros de gestão de Pinto da Costa, quando trocou Pedro Mendes por Postiga, na altura talvez picado por uma possível ida do avançado para a Luz, há muito que deveria ter abandonado o FCPorto. Só esperemos, e para bem de todos, que seja desta que se concretize de vez a sua saída. Se tal não acontecer, que tudo se tenha resumido a apenas um ano de 2007 muito mau e de muito azar e que ele volte a brilhar agora que começa um novo ano, embora, e infelizmente, acredite muito pouco em tal possibilidade.

Mas sobre Hélder Postiga guardei um texto, que dá o título a este post, de José Manuel Ribeiro publicado em 30 de Julho último no jornal O Jogo e que explica muito bem o que representava na altura e que ainda continua a representar agora Hélder Postiga para o clube.

"Por motivos certamente relacionados com o hábito teimoso de discutir futebol como se ainda fosse só futebol, há sempre quem tente deslindar Hélder Postiga a partir de um ângulo técnico. E se o ângulo técnico, no caso dele, dá sempre em ângulo agudo será talvez porque se está a procurar nas aulas práticas um defeito de aprendizagem radicado nas aulas teóricas. Em concreto, na cadeira de finanças. Um estudo norte-americano explica tudo. Chama-se “The Ten Most Overpaid Jobs”, mas não tem uma tradução à letra que seja em simultâneo eficaz e elegante. Por isso, fico-me por “Os Dez Salários Mais Desproporcionais”. Em décimo no ranking estão os fotógrafos de casamento, porque limpam dois mil euros sem chegar a precisar de limpar também as lentes; a seguir os pilotos das grandes companhias aéreas, os conferencistas (o nosso Scolari, por exemplo) e por aí adiante até aos gestores de fundos mútuos de Wall Street (“mutual funds”), com pulmão para aspirar um milhão por ano, apesar de raramente contribuírem com as suas previsões para a riqueza dos clientes, pelo menos de forma legal. No respeitante à legalidade de Postiga, nada a dizer, mas quanto ao contributo, o que a folha salarial presume não são golos em particulares com o Boavista. Se um ponta-de-lança recebe um salário à Tottenham no FC Porto, não pode ser objecto de discussões sobre se o plantel tem ou não lugar para ele. Deve ser indiscutível. E Postiga, até quando acerta, permite discussão. Não são os pés, nem a habilidade, nem a presença na área: é o trambolho de um ordenado que não cabe no banco. De suplentes."
José Manuel Ribeiro in "O Jogo" em 30/07/2007