06 outubro 2009

A história do golo-fantasma ao Sporting

Foi mesmo um não-golo, mas o gandula foi outro...
Por falta de tempo e a par da sobrecarga de jogos, com outros assuntos urgentes de actualidade de permeio aqui tratados, vou tentar durante esta paragem da Liga recuperar temas e pontos de vista diferentes daqueles que, no ramerrão diário, passaram a correr por jornais, televisões e até blogues como este.
Um deles remonta a uma história antiga de um Porto-Sporting que eu vivi em dois momentos especiais e este último, também já há uns anos, desmente uma história posta a correr a respeito de um golo portista há trinta e tal anos.
O Porto-Sporting de 1976, salvo erro, teve um golo fantasma, no meio do indispensável nevoeiro numa noite fria. Eu no sector sul não vi a outra baliza e, hoje, só me lembro do terceiro golo leonino na vitória de 3-2 dos lisboetas, creio que da autoria de Baltasar (ou Fraguito), de cabeça, porque foi o único, creio, que se marcou na baliza sul do antigo estádio das Antas.
Creio que primeiro o Jornal do Sporting trouxe há tempos uma reportagem e, antes deste último clássico, a RTP pegou nos protagonistas e refez a história. Nunca se soube, publicamente, do oocorrido nessa noite de nevoeiro, para adensar o mistério, nem me lembro se o golo portista foi atribuído a Gomes ou a outro colega. Sei que o apanha-bolas, o gandula como chamam os brasileiros, não é um tipo da Afurada que foi apresentado.
Duvido muito, para não dizer que não acredito que o árbitro Álder Dante, nesse jogo, conheça ou tivesse conhecido antes o gandula. De resto, Álder Dante pouco podia ter feito nesse lance, pois a bola rematada por um jogador do FC Porto passou rente ao poste e ficou junto à rede de baliza pelo lado de fora. Quando muito, o seu fiscal-de-linha poderia ter observado melhor a situação que momentaneamente deu o 2-2 ao FC Porto.
Isto em 1976, sem tv mas com chuva e nevoeiro. Aí por 1994 acabei por assistir, por acaso, à conversa de dois intervenientes desse jogo. Um foi jogador de eleição do FC Porto que no final da sua carreira passou pelo Sporting. Outro foi, curiosamente, um seu empregado indirecto, precisamente o tal gandula que apanhou a bola junto à rede leonina e a meteu na baliza. Não sei se este apanha-bolas ainda é vivo, pois já se passaram uns anos largos desde essa altura e uma das últimas vezes que o vi, certamente, e de quem não mais tive notícias.
A verdade, por mim, é que esse jogador portista, depois sportinguista, confirmou a versão contada por esse funcionário, um portista doente como conhecia antes de saber isto e ter assistido à conversa entre ambos.
Houve golo indevido, sim, mas o gandula foi outro. Não imagino como uma publicação sportinguista teria travado conhecimento com um tipo da Afurada declarado autor do golo-fantasma. Nem no Jornal do Sporting nem na RTP, creio, foi dada a conhecer a sua afeição clubista, mas temo que não haja qualquer sportinguista na Afurada e se um portista fosse custa-me acreditar que confessaria o "crime" ao inimigo. Mesmo que lhe tenham sido dadas alvíssaras, porque corrigir o mal já não seria possível.
Talvez esse José Manuel ou José Maria, passou-me o nome e só retive que tinha bigode, quisesse protagonismo, ainda que sem recompensa além dos seus "minutos de fama" na televisão, como nunca chegou a ter o gandula real de quem ouvi a história pela própria boca e na presença de um jogador portista de renome que actuou nesse jogo e o conhecia desde pequenino como apanha-bolas nas Antas. Que este era um portista absoltamente fanático, posso testemunhá-lo, e chegou a aparecer na televisão e nos jornais, sim, nos anos 90 numa manifestação de adeptos portistas junto ao Governo Civil, à Batalha naquele tempo.
E porque do Porto-Sporting se tratou, ainda, com o golo de Falcao, na semana passada, a ele voltarei a seguir. Agora por causa de um calcanhar.

13 comentários:

  1. Zé Luís, ainda há pouco tempo (penso que antes deste Porto/Sporting) ouvi um chorinho desses calimeros sobre esse lance e com alguém a jurar que viu (da bancada) o apanha bolas a meter a bola na baliza. Duas coisas em relação a isso, ninguém da bancada poderia ter testemunhado, como você diz e bem se calhar só o juiz de linha. Mas o que queria realçar mesmo é que a verdade é que o Sporting ganhou o jogo, mesmo que trinta e tal anos depois venham falar do assunto a verdade é que não influenciou o resultado. E isto tem tudo a ver porque da parte do FCP e durante essas décadas às escuras em que tudo servia para "mimar" os de Lisboa e por outro lado impedir sistematicamente o FCP de ganhar alguma coisa, valia, valeu e ainda vale de tudo. Tenho a firme certeza (não é mania da perseguição) que o FCP foi sempre o alvo a abater, porque sim, porque ficava-lhes bem e porque assim dividiam a seu bel prazer os proveitos. Na verdade já não há pachorra para aturar os Sportinguistas, que em vez de se encherem de brio e de qualidade para andarem à frente nas classificações, vêem arvorar-se em damas ofendidas e de tanto o dizerem o país achar que se calhar é verdade.

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  2. Eu sei onde se encontra esse senhor. Ainda é vivo e trabalha num restaurante em Lisboa. Ele próprio me confessou a mim e a um amigo durante o Atlético de Madrid FC Porto para os oitavos da Champions do ano passado.

    Se assim o desejarem posso-vos por em contacto com ele para conversarem com o senhor e saberem toda a verdade.

    Saudações de um Portista de Lisboa.

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  3. Quizzer, eu sei do que falo e só o avanço porque, afortunadamente, tive um jogador dessa partida e grande referência do FC Porto, a confirmar a história.

    Com essa base fidedigna, e essa sou eu que a estabeleço, conto a história como deve ser.

    E só publico esse seu comentário para frisar que estou certo do que digo. Daí que o gandula a que me refiro nunca poderia trabalhar num restaurante e duvido que fosse para Lisboa.

    Se quiser pode confrontar o Jornal do Sporting e a RTP-Lisboa com esse seu contacto. Sempre seria tão bizarro um tipo portuense de gema, com sotaque e tudo, como um da Afurada que o jornal leonino sacou sabe-se lá como.

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  4. Silvestre, a mim não me incomoda a História. Não se pode mudar. Posso confirmar, sem receio ou remorsos, ou mesmo um "alívio (eventual) de consciência", que me confirmaram, os protagonistas que refiro, ter sido golo forjado. Conta tanto ou nem tanto como qualquer golo irregular ou que nem sequer entrou na baliza. Por isso estou à vontade para pegar na história e rectificar algumas coisas.

    Se ela tem tudo para ser bizarra, então a forma como veio a público (dois OCS lisbonenses sacarem um anónimo da Afurada que poucos lisboetas saberão o que é ou onde fica) para mim foi violentar a história com intérpretes falsos. Até o árbitro Alder Dante fez a sua farsa, cumprimentando um gajo que lhe disseram que ah, e tal este é que meteu a bola na baliza...

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  5. mais afinal quantos 'gandulas' é que reclamam serem os autores do golo fantasma ?

    Recordo-me que o mesmo jornal lagarto tentou alterar a história da invasão da cabine do arbitro por parte do seu presidente de arma em punho.

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  6. Caro Zé Luís.

    Provavelmente encontrei-me com esse tal de José Manuel ou José Maria. Agora de uma coisa estou certo há um homem de bigode, portuense, que trabalha aqui no café Império em Lisboa que jura que foi ele que pôs a bola na baliza do Sporting nesse dia.

    Quem é não sei. Se fala verdade não sei. Mas basta visitar o café Império e perguntar por ele para se tirar tudo a limpo. Ou não... já que reconheço que pode estar a mentir.

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  7. Também vi a reportagem na RTP e acabo de ler uma entrevista ao senhor José Matos (o apanha-bolas que marcou um golo ), ao Jornal Sporting:

    JORNAL SPORTING – De que se lembra desse dia?
    JOSÉ MARIA FERREIRA DE MATOS – Lembro-me do intenso nevoeiro que estava. Antes do jogo, o «chefe» dos apanha-bolas, o Valter Leitão, distribuiu-nos pelo campo e mandou-me para trás da baliza. Recordo-me que o Sporting começou a ganhar. Na segunda parte, a vantagem continuava do Sporting, mas nunca pensei em fazer o que acabaria por fazer. Eu era conhecido pelas asneiras que fazia, mas também nunca ninguém pensou que fizesse o que fiz.

    – Como foi o lance?
    – Não sei bem como a bola chegou a mim, mas sei que ela veio ter comigo e vi o Gomes a pôr as mãos na cabeça. Sem pensar, dei uns passos e fui até ao canto da baliza, meti a bola lá dentro e fugi para o mais longe possível. Então, vejo o Damas a ralhar comigo, mas eu pirei-me para trás do ‘bandeirinha’; ele já tinha a bandeirola no ar a assinalar o golo. Foi quando os jogadores do Sporting correram para o árbitro, a reclamar. Aí o juiz, que julgo não ter visto bem o lance, começou a mostrar cartões.

    – Porque razão meteu a bola na baliza?
    – Foi tudo muito rápido. O FC Porto estava a perder, a bola estava na minha mão e então pensei: vou metê-la lá para dentro e vou-me pirar. Foi um daqueles momentos em que se faz, ou não se faz; optei por fazer e já não dava para voltar atrás. Aconteceu numa fracção de segundo.

    – Depois de meter o golo, o que pensou?
    – Eu só queria que não me «topassem». Felizmente, ou infelizmente, o árbitro marcou e eu saí impune. Tenho pena do Damas, que não teve culpa nenhuma e sofreu um golo ilegal.

    – E se visse o árbitro desse encontro?
    – Não sei… Gostava de estar com ele para lhe confessar que fui mesmo eu a marcar o golo e não o Gomes. Eu tenho quase a certeza de que ele não conseguiu ver o lance como realmente aconteceu, pois estava um nevoeiro muito intenso. Também gostava de falar com o fiscal de linha; foi ele quem assinalou o golo e foi para trás dele que eu «fugi» depois de fazer o que fiz.

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  8. Cont.

    – Acha mesmo que o árbitro não viu nada?
    – Julgo que não. Tenho ideia de ver o fiscal de linha levantar a bandeirola e validar o golo do FC Porto. Depois, lembro-me de ver o Damas e outros jogadores a correrem para o árbitro e sei que houve cartões mostrados. Nessa altura, já eu estava «escondido» atrás do fiscal. Só aí é que percebi o que tinha feito, mas pensei,"já está, já está!" Não havia nada que eu pudesse fazer.

    "O Gomes disse-me que tinha marcado o golo"

    – Alguma vez falou com o Fernando Gomes sobre a autoria do golo?
    – Sim, uns anos depois encontrei-o num Centro Comercial do Porto. Perguntei-lhe, sem ele saber quem eu era, se tinha sido ele a marcar o golo; ele disse que sim e cada um seguiu o seu caminho. Mas acontece a mesma coisa quando o jogador mete a bola com a mão; se lhe perguntarem, ele dirá, quase sempre, que foi com a cabeça. Neste caso, eu sei que não foi o Gomes que a meteu. Digo-lhe isso nos olhos dele, ou nos olhos de quem quer que seja.

    "Muito aliviado"

    – Como se sente, agora que «confessou» o seu «feito» ao nosso jornal?
    – Muito aliviado. Muito mesmo. Era uma coisa que eu tinha de contar mais cedo ou mais tarde. Queria ter falado com o Damas, mas não consegui. Agora, fica a faltar falar com o sr. Alder Dante e com o presidente do Sporting. Quero agradecer ainda a oportunidade que o jornal ‘Sporting’ me deu, ao poder de ter entrado no Estádio José Alvalade. Quando pisei o relvado, senti um calafrio; as minhas mãos e as minhas pernas tremeram como há muito não tremiam.
    – Não tem receio de ter contado a história desse golo?
    – Não. Eu sou um homem correcto. Quando as pessoas quiserem, que me procurem. A falar é que as pessoas se entendem.

    "Gostava de ter pedido desculpa ao Damas"

    – Nunca pensou falar com Victor Damas?
    – Sempre tive o desejo de ir ter com ele. Tentei, várias vezes, mas nunca o consegui apanhar. Na altura, cheguei a vir do Porto a Alvalade, mas nunca tive a oportunidade de o encontrar. Não era fácil falar com ele, pois um humilde apanha-bolas não chega facilmente à fala com um jogador, para mais sem conhecer ninguém do Sporting. É das coisas que me dá mais pena. Era um sonho falar com ele. Nunca me esquecerei do Damas; pelo guarda-redes que foi e por nunca ter conseguido falar com ele. Sempre que via jogos do Sporting, em que o Damas participava, pensava sempre na malfeita bola do nevoeiro.

    – O que lhe diria se o tivesse chegado a encontrar?
    – Dizia o que lhe disse hoje e, com toda a certeza, pedir-lhe-ia muitas desculpas.


    Abraço
    O fundo vergonhoso em http://carregaporto.blogspot.com/

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  9. off-shore, por eu ter estranhado o Jornal do Sporting descobrir o gandula que meteu a bola na baliza é que conto a história que sei e por conhecer o "artista" da bola na baliza.

    Faço-o pelos motivos já explicados.

    Quanto ao Jornal do Sporting refazer a História, os do Benfica também querem mudar as coisas por causa do Calabote.

    No caso do golo-fantasma, a verdade é que o gandula é outro. E como foi um ídolo portista que o confirmou, para mim não há dúvidas.

    É só para pôr a verdade tal como ela é. Não por revisionismo histórico apanágio desses clubes lisbonenses.

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  10. Ricardo Sousa, obrigado pelo contributo. Eu ainda pensei, na altura, guardar o recorte do jornal para arquivo, mas não liguei. Apesar de ter vontade de contar a história e apontar outro gandula como protagonista, só o facto de a RTP ter pegado no assunto me levou a querer esclarecer isto de vez.

    Aquilo que o tal tipo entrevistado conta qualquer um podia ter contado. Pelo menos quem viu o jogo.

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  11. Alguém já viu o Yero a jogar? O miudo tem uma apetência por golos fora do normal? No campeonato de júniores tem uma média de 1 golo em cada 36 minutos, e nos jogos principais do FCP já marcou 4. Será que temos em mãos um diamante em bruto para ser lapidado?

    Saudações des(portistas)!

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  12. Quando disse principais é logico que queria dizer particulares :)

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  13. Agora vou contar outra versão da mesma história, muito badalada em minha casa, da parte do meu pai. Segundo o que ele conta, e ele chama-se José Eduardo, aos 16 anos era atleta de Futebol Clube do Porto nas camadas jovens de Andebol (o treinador era o António Cunha) e, na noite do jogo em questão dirigiu-se ao Estádio, já o jogo tinha começado e entrou pelo lado do peão. No peão, segundo o que ele descreve, havia uma coluna de iluminação onde as pessoas costumavam subir para conseguir ver os jogos e, em frente a essa coluna, estava uma porta de alumínio por onde passavam os jogadores em direção aos balneários. O porteiro que estava nessa porta reconheceu o meu pai como atleta do F.C.P., e perguntou se ele queria assistir ao jogo. Ele aceitou. Entrando por essa porta, foi dar à pista de atletismo, do lado do campo do Sporting e ficou aí a ver o resto jogo, perto do túnel desta equipa, a qual ficava ao lado do sucateiro. A baliza onde ocorreu o golo fantasma ficava, também, do lado do sucateiro. Segundo a sua descrição, era uma noite com cerca de 50 cm de altura de nevoeiro. A dado momento, um jogador chutou a bola para a baliza do Damas, a qual passou fora mas rente ao lado direito da mesma, rolou na rede lateral, ficando atracada num varão fino que segurava essa rede. O arbítrio assinalou o golo. O meu pai, estando próximo da baliza, do lado do sucateiro, correu do túnel do Sporting em direçao à bola presa e, pela parte de fora chutou-a em direção à pequena área, para perto do Damas. O guarda-redes reparou nele, tendo-o repreendido. Segundo esta versão, não, o miúdo não era um apanha bolas, mas um jogador do FCP que, nessa noite, assistia ao jogo. Por causa deste episódio, apesar de ser portista, o meu pai fico com uma “costelinha” sportinguista.

    Partilho estas informações porque há imenso tempo que oiço esta história na minha família. Mais uma vez, hoje, o meu pai falou dela e resolvi pesquisar, na internet, informações sobre esse jogo. Encontrei, aqui, pessoas interesadas neste episódio futebolístico e por isso resolvi contar o que oiço em minha casa há muitos anos, sem saber que, tal como o meu pai, muitos outros se consideram o autor do golo. Quem é realmente o autor do feito, dificilmente o saberemos dada a inexistência (acho eu) de registos em vídeo de qualidade que o comprovem. De qualquer forma, aqui fica mais uma versão, esta detalhada, do que poderá ter acontecido nessa noite que alimenta o imaginário de gerações de apreciadores de futebol.

    Mariana Silva.

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