08 outubro 2009

O calcanhar da memória

Falcao marcou e reviveu-se a magia de Madjer: Viena, claro, mas ele marcou igual quase a seguir frente ao Belenenses, nas Antas, porém esquecido... Dragão já viu uma proeza de Ibrahimovic

Falcao faz justamente falar de si. No início da época aqui alvitrei que marcaria um mínimo de 20 golos apesar de ser a primeira experiência no futebol europeu, que custa tanto a tantos sul-americanos. Para um "puto" colombiano desconhecido para cá do Atlântico, não está mal o que já amealhou. Mesmo sem ter ainda granjeado a maior simpatia de Júlio Magalhães numa das suas últimas crónicas no JN, Falcao ainda hoje foi alvo de uma peça revivalista na RTP-N, a propósito do excelente golo de há uma semana ao Atlético de Madrid.

Não só o FC Porto iria criar uma nova forma de atacar, por força das saídas dos magníficos Lucho e Lisandro, como teria de se habituar, o que ainda não fez na plenitude e só desde a derrota em Braga parece apostado em criar tal hábito, a jogar para um ponta-de-lança. Falcao é um matador, um jogador de área com instinto para o golo, ainda que saiba jogar fora dela mas, aqui, já sem qualquer atirador emérito de meia (já nem digo longa) distância, como eram Lucho e até Lisandro. Vá lá que Hulk, ainda sem acertar a mais de 20 metros da baliza, tem potência de remate, a que deve juntar colocação da bola enquadrada entre os postes, mas o Incrível já mostrou que remata de longe e marcou golos na época passada. Teima, estranhamente, nos livres directos em que não é especialista, amiúde nem força nem colocação coloca nas suas tentativas vulgares e frustrantes.

Mas não é de Hulk que quero falar, nem tanto de Falcao apesar de ser o homem de momento.

Apenas recuperar a memória dos que se lembraram, todos sem excepção, do calcanhar de Madjer em Viena. É claro que esse golo ficou marcado na História do Futebol, pelo momento mas também pelo local e a importância decisiva do jogo. Uma final europeia é algo que não se celebra todos os dias e um golo invulgar, nessas circunstâncias em que o FC Porto até perdia contra o superfavorito Bayern amplificaram o gesto técnico e a frieza cerebral e emocional do Mágico argelino, que não deixou ninguém indiferente, mesmo adeptos de outros clubes sabem do assunto e não regateiam elogios nem esquecem a referência que perdurará na história tanto quanto o triunfo portista de 27 de Maio de 1987.

Se algo salvou a genialidade de Maradona após o infame golo com a mão à Inglaterra nos 1/4 final do Mundial-86 foi, no mesmo jogo, marcar um dos mais célebres e brilhantes golos, fintando meia equipa inglesa desde o meio-campo até bater Shilton. Infelizmente, a bacoca Imprensa lusitana que tão poucos momentos de exaltação lhe é dado exprimir pelos clubes do regime quis tentar "comprar" as fintas de Maradona a cinco ingleses no México-86 para vender como igual a cavalgada solitária de Saviola ao Belenenses, que só por ressalto (feliz por inerência) passou por um defesa azul já na área para marcar e apenas na recarga ao primeiro remate defendido pelo guarda-redes.

O golo de Falcao ganhou relevância por desbloquear um jogo renhido, fechado e pouco lúcido de parte a parte, sem aparente intencionalidade de vencer das duas equipas. Por ser contra o Atlético de Madrid e, claro, ocorrer num jogo da Champions. Poderemos discutir se foi, genuinamente, com o calcanhar, pois o toque é de tornozelo como já se vai vulgarizando e nessa jornada da prova Tihinen e Arshavin marcaram golos de idêntico belo efeito ao Milan e Olympiacos, respectivamente.



Não faltam, sequer, evocações no youtube quanto a golos de calcanhar, uns mais de calcanhar do que outros, uns mais felizes do que outros, mas todos para a galeria de notáveis golos, ainda assim uns mais vistosos e até mais difíceis do que outros.

Mas a referência de Madjer e o calcanhar de Viena logo emergiu. E ficou. Porém, nas Antas, Madjer não tardou a repetir a façanha. Na 1ª jornada de 1987-88, o argelino marcou de calcanhar ao Belenenses, então orientado por Marinho Peres, numa goleada portista de 7-1 (que não mais se repetiria ao longo das 38 jornadas...). Obviamente, assisti a esse jogo e não esqueço o que pelo visto a todos escapou agora, na altura foi o 5º ou 6º golo portista do jogo. De Maio a Agosto de 1987, Madjer fez dois golos de calcanhar.



A propósito, o Dragão foi palco de um dos mais notáveis e "complicados" ou mesmo improváveis golos de calcanhar: o de Ibrahimovic a dar o empate (1-1) da Suécia ante a Itália no Euro-2004, um golo mesmo de calcanhar, apanhando a bola a meia altura e com sorte tal que sobrevoou o guardião Toldo e um defesa desesperado para evitar o golo sobre o risco.



Vivemos apressadamente e com instantâneos, flashes noticiosos ou de imagens que mal catalogamos na memória, sendo impossível reter alto de útil no lufa-lufa diário. Mas a Imprensa escrita, com calma e arquivos, além das tv's, tinham obrigação de tratar melhor o assunto para além de referências genéricas e vagas ou sem esmiuçar imagens recorrendo a exemplos do passado. Há falta de referências e memória para o lado bom e belo do futebol merecer tanto ênfase ou mais tempo de "antena" do que as estéreis discussões da arbitragem, as absurdas decisões disciplinares sempre nos extremos do 8 (omissão) ou 80 (exagero) e os negócios do futebol tratados superficialmente apesar de envolverem muitos milhões.

3 comentários:

  1. Curiosamente, o Madjer diz que os mais belos golos de calcanhar que marcou foi mesmo contra o Belenenses. Era um míudo, lembro-me perfeitamente de Viena, mas não desses.

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  2. Será isto o espeelho do País Real?

    Amiúde há mais pessoas interessadas e importadas em valorar o conteúdo (o post) do que em comentá-lo. É como ir votar e não dar uma para a caixa o resto do tempo.

    Contudo, o País move-se. O Menphis trouxe uma achega importante: Madjer valorou muito esse golo ao Belenenses, ele que até se estreou em Portugal com dois golos no Restelo pelo FC Porto (2-3).

    Mas o Menphis é novo, não se lembra disso. Será que mais ninguém testemunhou? Ou simplesmente nem se lembra?

    Talvez.

    Mas há o resto do País que se move. Rasteja, melhor. Por uma réstea de luz, os benfientos, esses, estão sempre prontos para dizeram alguma bacorada. Há muito que um pobre diabo, que cheira mal à distância de um clique, queria infestar este espaço. Inventou até nicks de frequentadores habituais que, estranhamente, deixaram abater-se e fugiram. É muito uma reacção típica do Porto actual. Complacência e até desistência. Daí, também, a votação dada ao PS nas Legislativas, ainda que possa vir a perder na votação para a Câmara.

    O post, ou outros, pode não suscitar mais do que curiosidade (pueril?, tal a juventude presente), mas incomoda os bafientos.

    Presumo, acerto!, que tenha sido pela referência ao golo de Saviola que mais um apaniguado de Luís Filipe Vieira - e daí se vê o bronco que é o sequaz - quis "falar", sem referir o tema mas ferido na verdade que dói.

    A esses terei sempre a porta fechada e a crítica aberta. Há tanta merda no País Real que o futebol não podia escapar a essa gente fedorenta. E que se assumem fiéis seguidoes a Mafia da capital e capatazes do crápula que vai destruir o clube que dizem amar.

    É o fado do futebol, a herança de Salazar e o afundanço do PaíS.

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  3. Princesas do Dragão - A compilação


    http://legionofdragons.blogspot.com

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