Portugal avança, a crítica diminui-se

Pedro Mendes na selecção depois de ostracizado pela inteligentsia lisbonense e a burocracia centralizada do "grupo fechado" de Scolari. Mais um jogador ganho contra tudo e todos, mas graças a Carlos Queirós. Até Toni calou os que se esqueciam que era (não o Benfica) "Portugal que está a jogar"...

Portugal bateu a Hungria (3-0, bis de Simão a fazer um jogo que devia há muitos anos à selecção, e golo de Liedson de permeio) e, beneficiando da derrota da Suécia em Copenhaga, passou para o 2º lugar do Grupo 1 de apuramento para o Mundial-2010. Basta ganhar a Malta em Guimarães para confirmar a presença no play-off em que será, de qualquer modo, um dos quatro cabeças-de-série no sorteio do próximo dia 19 para os dois jogos (casa e fora) em Novembro decisivos para ir à África do Sul.

Mesmo sem fazer um bom jogo, com um meio-campo sempre errático na abordagem e definição dos lances e no passe (incapaz de fazer três seguidos), Portugal ganhou bem com uma vitória convincente como não registara desde os 4-0 à Bélgica, há dois anos e meio, em Alvalade. O errático meio-campo, assuma-se, deriva da fase claramente descendente de Deco, sem a explosão de tocar a bola a fugir ao marcador para ir buscá-la mais à frente, e da forma que conhecemos de Raul Meireles no FC Porto actualmente. Contra um opositor vigoroso no plano atlético mas sempre indigente no nível técnico, as dificuldades de construir jogo foram as mesmas já registadas em Budapeste. E nem o golo aos 18', numa recarga de Simão a uma falha do guardião magiar, tranquilizou a equipa nacional, apesar do forte apoio na Luz onde Simão reencontrou a face mais cortante do seu futebol e quem se lembrar de um grande jogo dele na selecção que nos avive a memória...

Mas um pilar emergiu no meio-campo. O esquecido, injustiçado e ostracizado Pedro Mendes, outro campeão europeu pelo FC Porto que, como Vítor Baía, foi riscado do mapa de preferências egoistas da era scolariana que afectou muitas meninges no país de críticos da treta que se diminuíram com o tempo apesar dos resultados em campo de Portugal em 2004 e 2006, porque 2008 já foi um Deus nos acuda que a Senhora do Caravaggio já nem isso ajuda...

Pedro Mendes, Bruno Alves e Bosingwa, com Simão, foram claramente os melhores de Portugal, ontem. O primeiro é uma chapada com cinco dedos aos paineleiros e brochistas da opinião recrutada nas tertúlias lisbonenses que as tv's do regime enfatizam pelo País. Depois de Pepe na função em que Costinha não mais teve substituto além de Petit e desde 2006, Carlos Queirós ganhou outro jogador para a Selecção. Como tinha ganho Duda, noutra das lacunas de muitos anos da selecção para a lateral-esquerda. Queirós, pelo visto, ganha a sua batalha de credibilização sem tempo para treinar e sem jogadores adequados a funções vitais, até acabar de meter Liedson na outra posição carenciada de ponta-de-lança. Resta a dúvida na baliza...

O segundo, capitão do FC Porto, foi repetidamente elogiado por Toni nos comentários, os únicos decentes, verdadeiros e de autêntico conhecedor que teve de apelar a que (os outros compinchas do microfone, o inenarrrável balde mar e o acabrunhado manhoso do regime) "não se esqueçam que é Portugal que está a jogar", para evitar incursões permanentes e prementes a coisas relacionadas com o Benfica... que chegou ao ponto de se falar de Trapatttoni... Até um dos altifalantes contra as faltas de Bruno Alves, impressionante na impulsão e tempo de salto, no campeonato anotou que nem uma falta fez (por acaso fez...), mas tal como Bosingwa só com outra camisola vestida se apreciam os jogadores "fora" do FC Porto e o ex-lateral-direito portista, que nunca convencera os benfiquistas enquanto de azul-e-branco, fez um jogo dos melhores da sua carreira pela selecção, apesar de não destacado na transmissão da TVI.

Teremos, ainda, um problema à baliza com as indecisas saídas de Eduardo. Tal como com a Suécia no Dragão, quase comprometia e uma bola acabou na barra da sua baliza que podia ter sido o 1-1 em cima do intervalo.

E, afinal, que esta crónica é, em vez de falar do que se viu pela tv, só um resumo de apontamentos a escapar à vulgaridade e uniformidade crítica, igualmente "estatizada" e domesticada como na panóplia larga mas sempre igual do comentarismo/seguidismo na discussão da política sujeita a quem se meter com o PS levar, Queirós também não apresentou o 4x4x2 losango que outros bimbos da inteligentsia lisbonense alvitraram como sendo, imagine-se, a única forma de Liedson jogar, como se um bom jogador não jogue em qualquer sistema e ontem voltou-se ao 4x3x3 com Ronaldo, antes da assistência para o 1-0 até sair lesionado, a perder-se em jogadas nas quais recuava à linha de meio-campo para querer fintar todos até à área, só para ter, depois, Nani a imitá-lo...

Contando com a obrigatória vitória a Malta, o play-off pode vir a correr mal e voltar a criticar-se o seleccionador como se os burros não fossem outros. Mas a verdade é que esta é uma selecção em construção, com mais um jogador novo, como se nunca tivesse sido dado conta da sua existência e excelente sentido de jogo, precisamente aquela soma de jogadores novos que Scolari só por obrigação, depois de tantos testes falhados e outros nem sequer tentados, foi chamando numa renovação forçada e não trabalhada e planeada, mas que Queirós assume por devoção de ter de se fazer uma selecção quase do zero e haver outro sentido de afirmação daquilo que foi a marca da sua obra até outros fazerem o que quiseram do edifício: a elevação do jogador português, aquilo que agora se sente faltar nas camadas jovens que são a base da pirâmide onde no topo aparecerá quem chega à selecção principal de Portugal.

Mas será que, ao fim de ano e meio, alguém compreendeu o défice em que vegetavam as selecções e o desafio que há pela frente, independentemente das presenças em fases finais?

A avaliar pelo manhoso dos comentários nados nas catacumbas de iluminados do sistema de paineleiros e críticos encartados, ouvindo-o ontem mesmo tão querido, até parece que há um mês não advogava um conselho de sábios (quem?, onde?, quantos?), daqueles sábios que nunca se lembrariam de Pepe, Bruno Alves, Duda e... Pedro Mendes.

Mas hoje toda a gente vai dizer, sim senhor que sempre foi um grande jogador, como dantes acolhiam a pretensão de ser Abel o lateral em vez de Bosingwa.

Martelos em cabeças ocas...