Fado, futebol e Firstport

“Uma grande quantidade de inteligência pode ser investida na ignorância quando a necessidade de ilusão é profunda”, Saul Bellow

Ok, já tinha advertido, na caixa de comentários ao jogo, que ia ser assim, o Fucile concitar a azia do pagode da bola em geral, ao conseguir “anular” (ou esvaziar) uma pena sentenciada extemporaneamente, revertendo-a a seu favor no paradigmático momento de exaltação de um misto de regulamentos disciplinares, decisões arbitrárias e entendimento judicioso por parte da maralha que não gosta de azul e branco nem pintado de classe e estofo de campeão como no Restelo.

Alertei para a injustiça do primeiro amarelo ser desvalorizada face ao expediente de “provocar” outro e ser expulso, expurgando a suspensão imediatamente (como em qualquer competição internacional, esta não é exclusivo da Liga), um modo de (saber) jogar com os regulamentos que servem a todos mas não está ao alcance de qualquer mentalidade indigente que por cá medra… Basta ler a blogosfera e perceber a indignação canhestra que aí vai.

Tal como registei, na semana passada, que não demoraria muito que um golo no limite da linha de fora-de-jogo, sempre concedido em vantagem de quem ataca, fosse considerado ilegal a favor do Porto, mas já é aceite como normal contra o Porto. Foi o caso do golo mal anulado a Tomas Costa, em Braga, não só suscitar poucas intervenções pelo lado da pedagogia (disso chamei a atenção a José Leirós), mas alguns cabeças de burro, como o porquito do Trio de Ataque, entenderem que, mesmo milimetricamente, o portista estava em fora-de-jogo e o golo foi bem invalidado.

O golo do Belenenses ao Porto teve o avançado azul Marcelo em fora-de-jogo muito no limite da linha com Rolando e, a bem da universalidade das regras e do critério a seguir, foi justamente validado. Foi alegado por alguém na tv que estava “um pé” adiantado, uma evidência, com a condescendência de ser difícil ajuizar a posição irregular mas sem atentar que o árbitro-auxiliar José Lima estava colocado na linha do jogador azul que cruzou para trás.

Esperemos que José Leirós, ex-árbitro e obrigado a leitura mais atenta e pedagógica destas coisas, resista a repetir ser “arte” analisar assim um fora-de-jogo, como insensato quis salvar a pele de um amigo árbitro-auxiliar, Vítor Carvalho, em Braga. É que a desonestidade humana tem mais limites ontológicos do que a imparcialidade arbitral. Lá diz o ditado que se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo. É que está visto que se apanham mentirosos com facilidade cá na parvónia, seja em falsas declarações prestadas em tribunal (perjúrio) ou nas teias em que se enreda a alegada investigação criminal para aliviar a vida de um reles Primeiro-Ministro mas afundar a credibilidade do regime político.

Mas para estes “incidentes processuais” que, democraticamente, afastam as atenções dos desvios da verdade, não há nada como o FC Porto ir em primeiro e desencadear novas formas de ver as coisas: a despeito das “lideranças à condição” já consagradas em falsos títulos de “campeão de Inverno” ou antevisões de futuros campeões se “formos líderes em Fevereiro”. Do Freeport ao Firstport, um Porto livre, acima da mediocridade generalizada, marca a diferença de classe no pântano que atola o País.