Volto à Selecção, de Liedson e de Duda

O futebol português longe do Mundial? Pior, está numa encruzilhada e não em a ver com resultados. Daí a história dos naturalizados: mas desta vez não deu tanto brado, pois não? E que laterais-esquerdos há por aí? Pois, o Queiroz é que é o mau a fita...

A selecção de Portugal tem de ganhar na Dinamarca para alimentar a história recente de marcar presença nas grandes competições. Parece que se falhar, e basta não vencer, a África do Sul ficará bem mais longe do que o extremo do continente negro, onde o Adamastor outrora assustou de morte os navegadores lusitanos. Pois chegamos à hora em que se olha para os resultados, mas não para o que os sustenta. Ou faz falhar.

Entretanto, a novela dos naturalizados conheceu mais um episódio e a TV Globo não tem nada a ver com isto. Quanto a ficção, de resto, a TVI que tanto aposta na teatralidade nacional fez como as outras: passou ao lado da "polémica" chamada de Liedson. Se puderem, confirmem comigo: isto não deu tanto barulho como noutras ocasiões similares, pois não?

Claro, basta os protagonistas serem outros e, em particular, vestirem a camisola do FC Porto que o assunto revela-se de interesse nacional e a tragicomédia tem pano para mangas, com todas as tv's pimba ao barulho para o melhor relato da coisa, o comentário mais acertado de um lisbonense encartado na maledicência e o editorial mais virulento que possa imaginar-se, procurando superar a última tirada de articulista que parece sobrar só em Lisboa, claro...

Tenho para mim que Queiroz só chama Liedson porque está disponível e... dá jeito. Com a lesão de Hugo Almeida, até Nuno Gomes voltou a ser chamado! Uma coisa é certa: o que contribuiu para voltar a interessar-me pela Selecção, após um infausto período de nojo ironicamente com a duração de um lustro, mais ou menos, em que senti mais o mau hálito dos que vociferavam em Lisboa do que um brilho pretensamente incomparável, foi esta ideia parva de não haver preconceitos e todos os jogadores e clubes serem tratados por igual.

No tocante aos luso-brasileiros, já sabem que com Deco e Pepe a música crítica tocou mais alto. Até informaram, com pesar indisfarçável mas uma inelutável falta de profissionalismo, rigor, competência e verdade histórica, que Liedson era o terceiro a jogar por Portugal nestas condições, havendo outros tantos exemplos, pelo menos, no passado recente.

Adiante. Liedson pode nem jogar, mas está lá e está porque faltam avançados de jeito. Ponto final. Por isso, até um trintão merece honras de estreia na selecção.

Mas há mais. Depois de ver André Marques - que, de resto, já apreciara com pouco entusiasmo quando foi emprestado ao Leiria - no Sporting, formado no clube leonino e rodado em alguns clubes para aparecer a jogar sobre brasas mas com muito pé frio na I Liga e na Europa. Depois de ver um outro lateral-esquerdo, formado no Benfica, a jogar de forma horrorosa pelo V. Setúbal na Luz (só o notava a cumprimentar Saviola cada vez que discutia e perdia um lance com o argentino...), um moço que até esqueci o nome...

Pergunto que outro lateral-esquerdo, e adaptado, pode Queiroz escolher para a selecção para além de Duda, que não tem propriamente dada "barraca"?

Algum lateral-esquerdo formado no FC Porto? O famigerado projecto Visão 611 estará a preparar algum no futuro? 

O problema da selecção é este. Um deserto de projectos e a falta de jogadores em posições fulcrais, como o avançado-centro, ou nem tanto mas importantes, como a lateral-esquerda.

Lembrar que os titulares internacionais mais recentes e com durabilidade eram Paulo Ferreira e Nuno Valente, altamente sobrevalorizados no FC Porto e projectados por Mourinho, só contribui para agudizar o problema e acentuar a questão da falta de valores no futebol português.

Já tínhamos um problema na baliza, com Eduardo pouco fiável e Beto e Quim ou Moreira "inseguros" quanto à titularidade no Benfica. Mais Rui Patrício que só convence Paulo Bento...

Temos um problema no ataque, vários nas laterais, entretanto joga mais um naturalizado (nada de mal, porém, hoje em dia qualquer selecção os tem, não se zanguem as virgens ofendidas) e parece que ainda a discussão maior de índole táctica é a posição de trinco de Pepe.

Vale a pena pensar nisto?  

Ah, por fim, é claro que acredito na vitória de Portugal. E no apuramento. Mas se não acontecer, pensem no que está para trás e por fazer e que foi esquecido enquanto se criaram umas tangas com um prestidigitador com uns resultados mais ou menos estimulantes mas em plano inclinado e com tendência acentuada de descida. Na euforia ninguém pensou e agora perguntam-se onde há jogadores para aqui e para ali. Mas Queiroz sabia ao que ia. E sabe que o problema é grave, sério e profundo. O Mundial-2010 não o resolverá por si. Falhar a qualificação pode espoletar o processo evolutivo e criativo que leve ao regresso ao passado e à discussão sobre o jogador português, a sua competitividade e a sua afirmação. Isto não é levantar uma pedra e tirar dali um jogador. Se fosse, André Marques e o puto do Setúbal cedido pelo Benfica podiam jogar também na selecção. Mas não seria a mesma coisa...