23 maio 2013

Gente que ainda não percebeu como Vítor Pereira levou o Porto a campeão

Normalmente acusa-se a outra parte, no caso os benfiquistas, de não ver a realidade, confundindo-a com miragens e algumas colinas sobranceiras que não deixam avaliar a paisagem. Mas há cada vez mais portistas ceguinhos, incapazes de perceber como a bola rola e o jogo decorre. Uma vez mais, para alguns a fabulástica intuição, que leio por terceiros de raspão, da "qualidade de jogo", especialmente a celebrar o título nacional, só tem comparação com os meses a fio de dourar a pílula que o rival patenteia. Com um pormenor: certos adeptos, mais ou menos conhecidos, têm a vantagem de a sua dose de loucura insanidade ser pontual, durar muito pouco e, assim, não causar dano.


 
Há muito tempo defendi aqui que não tardaria o debate sobre a "qualidade de jogo" ou o "tipo" ou "modelo de jogo", isto mesmo daqueles que detestavam as "transições" de Jesualdo, como dantes a "saudável loucura" do futebol ofensivo e sem freios de Adriaanse, enquanto agora embicavam com o "futebol de posse" com Vítor Pereira. E pronto, discutem e disputam isto como as variantes do tupperware e a utilidade dos mesmos recipientes, tão ao bom estilo airoso e desvairado dos comentadeiros da bola mesmo com ar de seriedade. Como se o futebol de contra-ataque seja o mesmo se conduzido por, digamos, Quaresma ou Cristiano Ronaldo. Ou o jogo de toque e posse possa ser igual, ter a mesma elegância ou até contundência (ou ineficiência) quando a bola gira entre Iniesta, Xavi e Busquets ou entre Moutinho, Lucho e Fernando.
 
O que revelam, estas patetices bacocas de meninos mimados que preferiam ganhar com outra bola mas o papá se calhar não dá, é a insensibilidade ao jogo e ao que o molda forçosamente: os jogadores, a sua qualidade, entre uma série de factores que influenciem em campo. Por exemplo, quando se diz que o Benfica perdeu o campeonato poderia perguntar-se se o ganharia à custa dos penáltis falhados por Jackson, improvável réu sendo o melhor marcador e melhor avançado na época. Ou se o Benfica disputou todas as provas - esquecendo a eliminação da Champions e uma repescagem moral e eticamente inaceitável para outra prova - e o Porto nem todas, sem medir a extensão e qualidade do plantel em que o Benfica ganha mas, eliminando a Europa repescada, não fez muito mais do que o Porto, nem em género nem em forma.

Isto é como as várias versões de estar com ou sem a Troika, ficar ou sair do euro e ter mais ou menos austeridade que um bimbo irresponsável mas líder partidário chegou a apelidar de "inteligente" se fosse pela sua cátedra. Por exemplo, esta parvinha aqui ainda na semana passada elogiava a blague dos "papelinhos de Mourinho" - facilmente desmentido pela verdade que estraga sempre uma boa estória - como se conhecesse os meandros e soubesse identificar se tinha razão ou não. Hoje, como se fosse falar de tupperware, dispõe-se a comentar se o IRC baixa ou não e o espaço me(r)diático tem sido isto, exaustivamente e "esquizofrenicamente"...
 
Vítor Pereira conseguiu, com um plantel pior porque perdeu logo o melhor de todos ao princípio, fazer melhor em todas as competições comparativamente ao ano passado. O exíguo plantel devia ser a parte dominante de qualquer discurso de análise séria e realista, um plantel que já de si leva todas as vicissitudes desde os abaixamentos naturais de alguns jogadores aqui e ali aos pífios reforços de Inverno que, nestes dois anos, me fizeram logo vaticinar que a Europa deixara, imediatamente, de estar em consideração a partir de Janeiro no FC Porto.
 
As "madames" que alguns levam a sério discutem agulha de fazer meia ou os tais tupperware sobre "modelo" ou "qualidade de jogo", tema requentado a cada ano no Dragão, mas óptimo para certas línguas de pau que os ignaros saboreiam como se não fossem refugos de outras épocas e incapacidade de fazer melhor. Quando não se faz melhor e se critica quem fez melhor do que a época passada só pode ser doente da bola no pior sentido e mais um no enxame de experts que ajudam ao caldo de cultura que se conhece e nivela por baixo a parlatanice comentadeira.
 
Entretanto, as notícias de transferências vão saindo para surpresa de alguns, como de costume, e o alheamento de outros virados para paragens mais próximas que lhes dão vistas curtas. Depois o cenário não pode melhorar.

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