NAÇÃO FELIZ

Orgulhosamente só na Champions, o FC Porto pode ter cumprido a obrigação. Pelo menos emendou a mão em relação à última época europeia e recompôs-se face ao início periclitante desta temporada, o que nem todos conseguem e alguns até invertem o sentido da progressão. E há muitos motivos para se regozijar.

Os mais fervorosos adeptos fixarão mais um dia feliz para a nação portista e nefasto para os do resto de Portugal. Estes adeptos anti-Porto - além da estranha maledicência de não compreenderem os festejos pelos golos do M. United, de quem os portistas gostam profundamente pelos êxitos sobre os diabos vermelhos que dão sempre o gozo supremo - são os pecadores prontos a atirar a primeira pedra, eles que nunca festejaram golos estrangeiros (ou quaisquer golos...) ao Porto...

Os do Sporting já fazem contas de ganharem o campeonato aproveitando o desgaste do FC Porto na Primavera. Já foi assim em 2000, infelizmente. Mas a História não se repete, embora abundem Elmanos e Paixões...

Enquanto a juventude da equipa portista, que já deu os êxitos domésticos da época passada à custa de quem se julgava mais novo e melhor, é desvalorizada nesta altura em que se volta a falar da imberbe geração leonina, o tempo é de discutir golos que houve e os que não houve.

Em Alvalade discutiu-se, por 2 vezes, como é mau sofrer primeiro (La Palisse) um golo. Para mais um golo cedo, uma vez e outra vez. O Benfica marcou primeiro em Manchester mas não logrou evitar a famigerada "chapa 3". Raios partam os golos: às vezes dão jeito para justificar êxitos, até inêxitos, mas também só prejudicam quando se perde: "Se o Benfica tivesse marcado tal golo aos 70 minutos"... alvitrou uma sumidade que agora comenta na RTP...

É verdade (segundo vários posts) que António Tadeia, na sua proverbial leviandade com a cara mais natural do mundo, disse na RTP que o Benfica poderia fazer mais jogos europeus (quantos são?, quantos são?), mas não que faria mais dinheiro do que na Champions: disse só que faria mais bilheteira na Luz e da TV. O mesmo "expert" que vaticinou ser o "Spartak a pior equipa do grupo" do Sporting.

Pelo menos o Benfica não terá (já) a oportunidade de reencontrar o CSKA que dizem (outra sumidade do momento, Luís Lobo) ser previsível e por isso acessível, apesar de exemplos contrários já conhecidos...

A ilusão e o luto

Entretanto, o dia é de tal luto no resto de Portugal que o Record faz manchete com o FC Porto -- "Porto de Campeões" e foto de Quaresma.

Surpresos? Mas não se iludam. Este jornal só faz manchete quando o FC Porto ganha um título, o que obriga a fazer o mesmo quase todos os anos.

O FC Porto não ganhou nada. E depressa o Record descobrirá que o FC Porto não tem estofo para ir muito mais longe (passar os 1/8 será muito bom, convenhamos) aproveitando então para zurzir na equipa e até especular sobre a iminente perda do campeonato, venda de jogadores no fim da época, etc., etc., etc... Também pode pensar-se que já estão a antecipar a manchete com o FC Porto campeão nacional mais uma vez.

Ainda na ronda anterior, quando o FC Porto jogava tudo em Moscovo e o Benfica recebia os rapazinhos de Copenhaga, a força era para os encarnados: "Só para homens", dizia a 1ª página naquela cor berrante que dá sempre impressão de ser "aos gritos". Em grau de dificuldade, esses jogos do Benfica (em casa) e do FC Porto (com a equipa que ainda nem sofrera um golo e no frio de Moscovo) era como comparar mijo com água-de-colónia, segundo a lapidar frase de um amigo meu.

E essa estrondosa vitória de 3-1 teve continuação na 1ª página seguinte, ao contrário dos rapazes que brilharam na Rússia o que, como se sabe, não é para qualquer equipa portuguesa.

De resto, eles fartam-se de cometer erros na 1ª página. Esta até será rapidamente esquecida. A 222km/h, mesmo a 212km/h (corrigido no jornal, pior a emenda que o soneto).

Arsenal

Vi o jogo, sem emoção, no estádio. Descobri um rádio portátil no bolso e sintonizei. Balde mar pela TSF em Manchester? Mudei logo. Fiquei pela RR. Má opção. Boçalidade de Bernardino Barros nos comentários: sem surpresas. Avaliações supérfluas do jogo, especialmente do Arsenal. E o que é o Arsenal?

Não é por ser vice-campeão europeu. É por defender muito bem. Não só defendeu muito bem para ganhar no Bernabéu (1-0), empatar na Juventus (0-0) e em Villarreal (0-0, penalti defendido por Lehmann no último minuto). É que o Arsenal da época passada sofreu golos nos 2 primeiros jogos (2-1 a Sparta Praga e Ajax em Amesterdão). E só voltou a sofrer golos na final com o Barça, com 10 jogadores e perdendo a Taça dos Campeões de forma inglória e imerecida quanto a mim. O Arsenal que bateu na época anterior o recorde de 49 jogos sem perder no campeonato inglês.

Para quem soube apreciar, mesmo devagarinho, a posse de bola foi fantástica. Jogou com 10 homens atrás da linha da bola, mas não defendeu à Boavista, nem na forma nem no conteúdo caceteiro. Foi humilde, como só as grandes equipas sabem ser, além de saber defender, que já não é só virtude italiana. Fez relembrar o "boring" (fastidioso, chato, desinteressante) Arsenal da história do século passado, mas foi eficaz... com sorte. Quando trocava a bola com velocidade, o FC Porto recuava imediatamente. Raramente os ingleses perderam lances individuais. Foram muito fortes. Mas tudo foi desvalorizado. Nunca soubemos apreciar as equipas contrárias.

Tivesse um dos tiros de Quaresma dado golo e a música seria outra. Foi pena. Mais é que não se podia pedir. Alguns assobiaram, depressa as palmas abafaram o coro dos descontentes.

Outro facto a sublinhar: este grupo era só o único que continha vencedores de provas europeias. Apesar do Hamburgo não ser o de há 25 anos, o cartel era de respeito. E a qualificação ganha mais brilho ainda.

Liverpool

Já votei no Liverpool como adversário desejado e mais acessível, de resto um dos meus clubes do coração com o Barça (indesejado e fortíssimo) e o Milan (apetecível, enfraquecido). O Valência não ia mal.

Qualquer portista devia visitar Anfield e "ver" o ambiente único: nunca mais assobiaria um seu jogador, a sua equipa, o seu treinador. Uma lição para a vida. Até se encontrar um novo estádio, previsto para 2010 (antes do colosso que dizem vir a seguir...), Anfield e o seu "kop" são o máximo.

Até por isso e por achar que, pese embora os reforços desta época, têm sido uma desilusão na Liga inglesa, mesmo estando a subir na tabela.

Zé Luís

PS: Esta crónica serve de apresentação de um novo colaborador do blog, o Zé Luís. Por certo já o viram por aí nas caixas de comentários, agora ele tentará apresentar-vos, como grande "portista de bancada" que é, a sua visão do nosso FCPorto e de tudo o que o rodeia pelo menos uma vez por semana. Espero que gostem, é como que um pequeno presente de Natal antecipado do blog. Possivelmente mais poderão vir.