14 maio 2010

"Habemus Papam"



Muitos entrevistados confessam, mesmo em tv a que toda a gente se habituou já a revelar-se no pior e no (pouco) que de bom possam ter, terem ficado com uma ideia diferente do Papa Bento XVI que por 4 dias andou pelos três pontos cardeais de Portugal: Lisboa, Fátima e, resistindo, o Porto, onde ainda há algo mais do que a sua mal identificada Câmara Municipal.
A revelação de que foram intoxicados por supostos conhecedores que logo peroram sobre "Sua Eminência" como diz a infelizmência do PM, mal saiu fumo branco de uma das mais rápidas eleições dos tempos modernos no Vaticano, vai para 5 ou 6 anos, fica exposta barbaramente.
O Papa "convenceu" muita gente e, como balanço, eu que nem sou adepto e muito menos fiel, apercebo-me desta conversão, alargada, que, obviamente, como tenho sugerido, daqui por uma semana passa, sem deixar marca mais profunda mas sem invalidar o mérito desta visita, por muito que critique a contradição do Estado laico e os salamaleques dados para se adequar, diplomaticamente, às circunstâncias.
Foi o que constatei e mais me impressionou. Todos tinham ouvido algo de um Papa fechado e até malévolo, viram-no e desataram a falar de algo tão diverso do que se constara.

A propagação da mensagem de Cristo, da fé, da partilha de espiritualidade é normal no "menu" ecuménico e pastoral, da mesma forma que, naturalmente, Bento XVI fez a objecção ao aborto e repudiou os casamentos que não sejam entre pessoas do mesmo sexo; estultícia é pensar que a Igreja alguma vez mudará esse paradigma de valores.
As pessoas ainda não apreciam verdadeiramente a sua liberdade, vivendo-a e querendo impor regras a uma instituição duplamente milenária e mais intemporal ainda do que conceitos vagamente em moda, como se para se casarem os same sexers requiram, no notário, que a Igreja deve submeter-se aos seus caprichos. A Igreja não os condiciona, apenas retém o que é a sua confissão, costumes e conservadorismo imaterial, ainda que o ponto de vista de beatas não crentes e carpideiras de vão de escada fixem, sôfregas e pecaminoso voyeurismo, os paramentos dourados, cadeirões forrados a cetim e as cúpulas de mármore a que Leonardo da Vinci e Miguel Angelo deram vida eterna.
Daí justificar-se, hoje, a observação pertinente e sempre histórica e socialmente válida de um mestre:
«Nenhum dos bem-pensantes que protestaram nos jornais contra a utilização do espaço público e as facilidades que o Estado deu à Igreja para a visita do Papa disse uma palavra sobre o Benfica ou sobre a maneira como em Portugal inteiro o futebol abusa do público pacífico, que, por inclinação ou princípio, não se interessa por aquela particular actividade. Esses podem sofrer tranquilamente, que ninguém se rala. Pior ainda: houve mesmo por aí quem se orgulhasse (ao que parece sem motivo) da muita gente que atraiu o Benfica em comparação com a pouca gente que atraiu o Papa, não se percebe exactamente para provar o quê: se a indiferença religiosa neste nosso admirável mundo moderno ou se a superioridade do Benfica sobre o catolicismo como religião ou valor social. Graham Greene escreveu uma vez que se descobrisse o Papa mal vestido e pobre à espera de autocarro, isso nem por um segundo abalaria a sua fé. No tom que lhe compete, o Papa Bento XVI repete constantemente a história de Greene. A Igreja, já explicou, perdeu toda a influência sobre o Estado e, o que é mais, não a quer readquirir: quer a sua liberdade e autonomia. A pompa e circunstância não valem para Ratzinger o preço de se "adaptar", como por aí o incitam, a uma civilização, que ele considera transviada dos seus fins verdadeiros. A ideia de que os católicos se transformem numa pequena minoria desprezada e perseguida não o horroriza, desde que a Igreja continue fiel a si própria. O Papa não mede multidões. Reafirma uma doutrina e uma vontade num tempo hostil. O resto, desconfio que não o interessa.»
Vasco Pulido Valente, Público
Uma coisa é perceber isto, outra é rir das alarvidades sobre a matéria comparativa de Ricardo Araújo Pereira levado no ar, no programa das 6ª feiras da TSF "Governo sombra", da onda benfiquista de domingo.
Mas para isso é preciso pensar e o riso não faz bem à mente, dizia Santo Agostinho a incitar ao provérbio popular de "muito riso, pouco siso". Portugal, despido de preconceitos, pode ter salvação. Assim queiram as pessoas. Mas livrem-se destes políticos. Certos humoristas. E muitos paineleiros.

4 comentários:

  1. Zé Luis

    Na mouche...
    Como já o escrevi; Vamos a caminho do abismo, com Jajus a tocar a flauta para animar os ratos que o seguem, seguindo com eles um cómico de meia tigela, que não passa de um bobo da corte à moda antiga.

    E dizem eles que as medidas de austeridade foram tomadas no dia anterior.

    Já andam com elas desde outubro e à espera que os encornados fossem campeões para animar a malta, com a retirada do 13º.

    Como dizia o outro...Não havia nexecidade.

    Força Porto.

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  2. Para o raio que o parta. Agora ter acesso a toda a esta publicidade e todo o tipo de mordomias não é ter poder sobre o estado? Levar com a sua influência no casamento homosexual, divórcio, aborto e autanásia não é ter peso sobre o estado? Ter isenções de IVA que mais ninguém tem é o quê?
    Deixar que a Igreja esconda os criminosos mudando-os apenas de sítio é normal? Nem vergonha têm de condenar os africanos à morte impedindo-os de usar preservativo.
    Puta que os pariu, era bom que o vaticano ardesse. Devia haver uma parada Gay em Roma a ver se morriam todos de ataque cardiaco.

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  3. "Nem vergonha têm de condenar os africanos à morte impedindo-os de usar preservativo".

    Nightwish, isso é um argumento falacioso. A Igreja não proibe ninguém de usar o preservativo. Se o "desaconselha" é apenas pelo motivo da procriação que não se consuma com métodos contraceptivos.

    Há que ter uma perspectiva das coisas e saber do que se fala.

    O que dizes parece verdade, mas náo é a realidade nem os africanos morrem por não usar preservativo alegadamente poorque a Igreja o desaconselha, nem proibe verdadeiramente.

    De resto, em África a Igreja católica, apostólica, romana está longe de ser a realidade confessional da Europa ou América. Pode sê-lo na América Latina, pela influência espanhola (e portugesa), mas não em África.

    Para matar o teu argumento, digo-te, porque decerto não o sabes, se autoridade houve que condenou os africanos à morte, ironicamente, foi o presidente sul-africano Jacob Zuma (acho que é assim o nome).

    Este líder, presidente reconduzido na África do Sul que vai receber o Mundial, disse ao seu povo que não usasse o preservativo, porque isso da SIDA é uma treta. O argumento dele foi este e bem difundido no mundo, há vários anos, por isso verifica quem faz o quê e elabora melhor e mais certeiramente as tuas "conclusões".

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  4. Eu sei que sim, e sei dos mitos todos que eles têm que f* uma virgem os cura da sida e o raio.
    Isso não desculpa a igreja de dar um péssimo conselho a qualquer ser humano e que custa inúmeras vidas. Custa muito dizer "não fazam sexo sem ser para criar filhinhos, mas, por amor de deus, se fizerem, protejam-vos uns aos outros e usem protecção". Mas eu já sei, a protecção de deus é só para quem faz tudo segundo a igreja. Sempre foi assim e sempre será assim.
    Viva os homosexuais, ao menos esses são honestos.

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