28 março 2011

Relatório (Bo)Ronha (XLV): até ao Boronha deve ter ardido as orelhas... moucas

O que relaciona um coelho, uma avestruz e um tipo cheio de ronha? Reabro o dossiê cujo último fascículo foi a 13 de Outubro, com tantas loas a Paulo Bento para entronar o sucessor do seleccionador menos do agrado de certos epígonos do rgime.





Eis que Carlos Queiroz, do alto do seu triunfo obviamente previsível no TAS que volta a arrasar a justiça desportiva portuguesa (o ex-seleccionador ainda não teve o cuidado de destrinçar as pandeiretas da música de câmara) depois do caso do FC Porto na Champions em 2008, mostra-se disposto a arrasar os detractores. Muitos deles andam calados que nem ratos. Os espalha-brasas pantomineiros nem se ouvem nem escrevem.


Ao futebol racional e vitorioso e à supremacia insofismável do FC Porto preferem alargar o âmbito das pedradas, antes nunca vistas, e das suspeições, antes nunca suspeitas. Os desmandos de Paulo Bento na Selecção passam olimpicamente ao lado, mesdmo que o proteccionismo aos jogadores do Real Madrid já não escape nos flash-interview, a submissão a Mourinho é um facto - que aqui notei em primeiro lugar -, tudo na santa paz do(s) senhor(es) agit-prop cá da paróquia.


Ontem à noite, na TVI24, Queiroz reiterou os seus trunfos neste processo vergonhoso que em geral passa despercebido pela autocensura do novo regime democrático.




Algumas notas: 1) repisa os documentos e testemunhos falsificados dos médicos da ADoP que o PdB aqui mostrou na série de relatórios pela verdade e sem ronha;

2) conta, finalmente, de viva voz, a estória de José Sócrates elogiar os luso-brasileiros Deco, Pepe e Liedson, no seguimento de uma conversa com Lula da Silva, incluindo o Scolari "de quem todos nós aqui temos muitas saudades", na véspera da partida para o Mundial, a 4 de Junho, uma notícia saída no CM de forma algo incompleta e que aqui foi complementada com decisivos pormenores do que fez sobressaltar a comitiva portuguesa antes de rumar à Áf. Sul; 3) historia vários episódios e arrasa alguns protagonistas na sombra, fomentadores de boatos e ao serviço de masters políticos com assento governamental, a começar pelo silencioso e discreto Onofre Costa, director de comunicação da FPF, passando pelo inefável Amândio de Carvalho que resiste na Federação desde Saltillo há 25 anos (a fazer em Maio).

Há uma novidade, que entala gravemente o presidente da ADoP, Luís Horta, e o sec. Estado Laurentino Dias, e que tem a ver com... uma "desconformidade": a de o código antidoping mundial (sob a sigla WADA) ter sido truncado pela ADoP na hora de passar a regulamentação internacional na matéria para a AR verter em Lei portuguesa. O que fez? A observação a "perturbação na recolha de amostras" (sangue ou urina), em controlo antidoping, chegou só para aprovação na AR como "perturbação" no código português. Neste âmbito, o sururu da Covilhã permitia a condenação pura e simples de Queiroz, porque "perturbou", tout court, o controlo da ADoP, ainda que não no processo de "recolha de amostras", o que o processo revelou não ter acontecido. Mas a regra portuguesa, truncada da lei mundial da WADA, bastava para "matar" Queiroz. Uma vergonha que devia ter consequências políticas e demissão imediata dos seus responsáveis, mas a Imprensa do regime não levanta ondas mesmo perante um Governo defunto e com o bestunto carregado de porcaria.

Laurentino Dias, com a tutela da ADoP via IDP (de Luís Sardinha), e ele mesmo sob tutela da Presidência do Conselho de Ministros, de Silva Pereira, toda esta gente fez aprovar uma lei que superava em muito a chinela mundial que devia ser respeitada.

Gilberto Madaíl acabou por ser "engolido" pela maioria dos seus pares que pediam a demissão de Queiroz. Vários com ligações ao PS, a começar por Amândio de Carvalho que serviu de gatilho à pressão de todos os dirigentes com voto no Executivo da FPF que dias antes manifestara confiança no seleccionador em face dos resultados atindidos no Mundial.



Queiroz comenta o caso Liedson, não enquanto suspeita de doping, mas o que lhe estava subjacente numa série de controlos que o Sporting não quis desvendar. Liedson, como sucede com alguns jogadores, produz no seu organismo matéria susceptível de acusar positivo num controlo antidoping e por isso foi sujeito a vários exames, quer no Sporting, quer na selecção. Numa semana, primeiro aos 7 seleccionados que arribaram à Covilhã e depois a sete sorteados no grupo dos 24 convocados e dos quais acabou por sair Zé Castro, houve dois controlos à selecção. Queiroz não entende o que diz ser "acção persecutória" contra os futebolistas e defendeu com veemência a "saúde" de todos os jogadores.



De Nani, que caiu sob suspeita de doping no caso da sua clavícula fracturada no último treino em Lisboa, Queiroz voltou a falar em boatos e o clima de suspeição que cresceu. Foi mesmo motivo de 1ª página de Record, embora para afirmar-se que não havia doping em Nani mas numa notícia extemporânea e sem razão de ser.

Inopinadamente, caindo com surpresa e en passant quase sem se dar por isso, Queiroz fala do alegado "mau ambiente" na selecção. Desmentindo-o com testemunhos vários. E dissecando que foi o episódio da contestação de Deco ao ser substituído frente à C. Marfim a espoletar mal-estar entre alguns jogadores, dando a entender a influência de Deco e Pepe, ultimamente em foco, seria um caso flagrante, tal como Cristiano Ronaldo. Não por acaso, todos elementos de proa da carteira do empresário Jorge Mendes...



Queiroz disse que na selecção, consigo, não sucediam as "bocas" dos jogadores aos jornalistas para malharem no seleccionador. Contou que sucedeu, sim, "no tempo de Humberto em que diziam 'vejam agora se lhe batem'".

Ora, o famoso tempo de Humberto, que levou Portugal ao 3º lugar repartido com a Holanda no Europeu-2000, tinha o inefável moralista de ocasião António Boronha, cujo blog pessoal conta alguns episódios do futebol e da Selecção e, apesar de tantas "ameaças", nunca contou a razão de Humberto sair mesmo após um brilhante Europeu por parte de Portugal.

Boronha era o responsável da Selecção que, no banco, sabia das reacções dos jogadores face a Humberto Coelho. Não ouvia ou não sabia que os jogadores "pediam" aos jornalistas para criticarem o então seleccionador? Sabia e ouvia. Isso e muito mais. Mas Boronha, desafiado várias vezes a contar essas histórias, fechou-se sempre em copas. Humberto, para surpresa de toda a gente, acabou por sair. Com um rasto indelével de desrespeito dos jogadores que terá precipitado a decisão de não continuar na FPF. Ainda que com óptimos resultados, pelo menos na fase final de 2000. Mas não foram os resultados que seguraram Humberto Coelho. Como não foram os resultados que afastaram Queiroz.

Quanto a mau ambiente, seguramente era pior, apesar do sucesso em campo, há 12 anos, já durante a penosa fase de apuramento que deu a qualificação por um golo como melhor 2º classificado mas com muitos nervos e desrespeito à mistura. Há tanta gente que sabe de testemunhos desses jogadores que só espanta como António Boronha pense que não se sabe e tenha medo de contar.

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