O naufrágio da vergonha

Equipa: Nuno, Sapunaru, Rolando, B. Alves, Benitez (Hulk 45'), Fernando, R. Meireles, Lucho, T. Costa (Pelé 71'), Lisandro e C. Rodriguez (Tarik 59')

Existem alturas na vida em que, por muito que queiramos, não conseguimos encontrar explicações plausíveis para justificar um mau momento que estejamos a viver. E quando pensamos que já nada de mal poderá nos acontecer, quando tentamos confiar num futuro mais risonho, eis que surge ainda mais uma coisa, pior do que as anteriores, para agravar, ainda mais, esse mau momento.

Falar de mau momento na equipa do FCPorto já será pouco para àquilo que temos vindo a assistir nos seus jogos. A equipa já nem vive um mau momento, já estará pior do que isso, ela vive uma completa crise de identidade, de atitude, sente-se que quer mas não pode dar mais, de ambição, baixa-se os braços com extrema facilidade, de confiança em si própria, e, claro, de resultados, tudo aquilo que sempre foi marca na história portista nos tempos mais recentes.

Já se está a começar fazer tarde para tentar encontrar um simples antídoto, uma solução para esta crise que o FCPorto tem vindo a viver, a margem de erro já se está a esgotar e começa a se tornar insustentável esta realidade, porque a crise está-se a gravar ainda mais com os resultados negativos que a equipa tem vindo a ter. Catastrofista, talvez, mas a verdade é que com este FCPorto, e se tudo não mudar depressa, só poderemos esperar coisas negativas, não existe uma coisa em que se pode agarrar dando uma réstia de esperança que algo irá mudar brevemente e para positivo. Tudo é negativo, e continuando assim, tudo será sempre negativo.

O FCPorto averbou uma impensável terceira derrota consecutiva, a segunda em jogos a contar para o campeonato, na Figueira da Foz, na altura onde mais necessitava duma vitória, frente a adversário que marcou um golo, quase caído do céu, e onde se mostrou ser mais tranquilo, mais clarividente e mais objectivo do que a equipa portista.

Jesualdo Ferreira mudou a equipa que actuou frente ao Leixões, colocou Benitez no lugar do Lino, parece que os dois estão a fazer um concurso entre eles para ver qual será o pior defesa esquerdo do plantel, tirou Hulk da equipa inicial chamando, novamente, Fernando para jogar a trinco, sendo que Tomás Costa descaía para o lado direito do ataque. Na baliza, a convicção, a teimosia, ou qualquer outra coisa que não sei chamar, de Jesualdo Ferreira manteve-se, Nuno ocupou o lugar, e, mais uma vez, já lá vão 3 jogos seguidos, surge como um grande responsável do golo sofrido. De que necessitará mais Jesualdo Ferreira para fazer regressar Heltón à baliza? Ou então, lança-se o Ventura, o certo é que já tempo de terminar o espaço de Nuno na equipa titular, para bem de todos.

Falar do jogo em si, é falar duma sequela do filme já visto anteriormente, principalmente nas últimas duas partidas, o FCPorto entra no jogo a querer mandar, mas sempre muito atabalhoadamente, encontrando pela frente um adversário que não tem problemas em defender, em jogar mal e feio, mas que consegue fechar os caminhos à sua baliza de forma eficaz e sem grandes problemas. E quando desce à baliza adversária, ou cria uma jogada de perigo ou então faz um golo quase no seu primeiro remate.

À medida que o tempo passa, o jogo começa a ganhar contornos confusos, muita bola a ser jogada pelo ar, pouca tranquilidade na equipa portista, não havendo um jogador que faça por assumir as despesas atacantes levando a equipa para a frente, não existindo, também, uma voz de comando dentro do relvado e tudo descamba. Depois tudo se desenrola na maior da lentidão, a equipa não tem velocidade, não consegue desenvolver uma jogada rápida, e quando isso surge não sabe o que fazer, parecendo que existe uma barreira que os impede de ir mais além, conformando-se até ao final da partida.

O FCPorto bem começou a procurar o golo, Rodriguez tem uma boa iniciativa, mas o seu remate passa ao lado da baliza adversária, e, quase na jogada seguinte, Lisandro Lopez, a passe de Lucho tem a maior oportunidade de golo na primeira parte, querendo fazer um chapéu ao guarda-redes, tendo este tocado com a ponta dos dedos desviando a bola da sua baliza, evitando um golo quase feito.

No intervalo, Jesualdo Ferreira fez a substituição previsível, Hulk entrou para o lugar do inenarrável Benitez, tendo sacrificado Tomás Costa, mandando-o para o lado esquerdo da defesa.

O FCPorto queria fazer algo mais teoricamente, mas o certo é que, no relvado, pouco ou nada fazia de jeito para levar a vitória, até que Daniel Cruz consegue, com um grande à-vontade e sem ninguém o estorvar, entrar na grande área portista, e, quando todos esperavam um cruzamento, rematou directamente para a baliza, tendo a bola entrado pelo lugar mais improvável de todos, por entre Nuno, que olhava atónito e sem reacção, e o poste da baliza.

Jesualdo Ferreira responde logo com a entrada de Tarik para o lugar de Rodriguez, a equipa portista vinha para a frente, mas o certo é que pouco ou nada lhe sairia bem. Hulk bem tentava remar contra a maré, a equipa perdia toda a tranquilidade, nada lhe sairia bem e não havia esperança em ver o FCPorto mudar o rumo dos acontecimentos.

Pelé entrava para o lugar de Tomás Costa, querendo empurrar a equipa para o ataque sempre muito activamente, mas esbarrava sempre na defesa do Naval que sempre muito afincadamente resguardava, e bem, a sua baliza.

Até ao final da partida, apenas uma grande oportunidade de golo, e bem esmiuçado vemos que o FCPorto apenas teve duas oportunidades flagrantes de golo durante toda a partida, desta vez Tarik falha um golo quase de baliza aberta, respondendo mal a uma grande jogada de Hulk.

O FCPorto já vai em 10 pontos perdidos em 21 possíveis, o seu treinador tenta atirar areia para os seus adeptos afastando o cenário de crise, os resultados positivos tardam em aparecer e o espaço de manobra, e margem de erro, começa a faltar.. Os próximos três jogos, em três competições diferentes, ganharam ainda mais uma pressão adicional: a partir de agora, não se joga apenas o futuro da equipa nestas competições, mas também o futuro do próprio Jesualdo Ferreira da equipa, a qual foi bicampeão nacional.