27 novembro 2010

Lisboa, Lisboa (XIX)

Actualizado: Tão previsíveis...








A perspectiva da recepção a João Moutinho, mais do que qualquer outro aspecto do calendário, tracei-o logo no dia do sorteio do campeonato. O ordenamento dos jogos até coincidiu, como então notei, com o clássico Barça-Madrid.

Praticamente não se tocou no assunto até agora. De repente, inocentemente ou da forma mais vil, todos começaram esta semana a puxar o tema. Puxar o tema é como a dança da chuva: a ver se resulta. Creio que estão semeadas e bem disseminadas as sementes da violência. Todas as tv's desataram a falar do assunto, a confrontar as palavras recentes de JEB sobre o "extraordinário profissional" com o epíteto de "maçã podre" de há quatro meses. Ontem uma, hoje outra, amanhã outra. O cerco vai-se montando. Ouve-se ainda este e aquele que passaram por situações idênticas. Já puseram antigos capitães das duas equipas a falar: Venâncio e Rodolfo, ouvi ontem.

É evidente que Moutinho será assobiado, sim é normal que um ou outro vá por aí. Contudo, tudo foi feito às claras, apalavrado com antecedência, tratado com lisura até à consumação do negócio bom para todas as partes.

Os talibãs de Lisboa foram os únicos, nas colunas de opinião e nos canais de verborreia aberta, a condenar o caso. Não por si, não por cada um dos muezzins que chamam o povo para a oração. Não, os que tocavam o sino a rebate, alertando a populaça, diziam que falavam em nome dos adeptos do Sporting. O que pensarão eles?; como reagirão eles?; em que ponto de mira fica o presidente que aceita um negócio destes?; como é que não ficou salvaguardado o impedimento de Moutinho ficar em Portugal num rival?; tudo isto a enquadrar a forma como os adeptos deveriam ver a saída do seu ídolo entretanto transformado na "maçã podre".

Transformado na "maçã podre" porque JEB, encurralado pelos críticos, teve de se explicar. "JEB deve uma explicação aos sócios", gritou-se em Prantos uns calhaus com dois olhos e caracoletas de gravatas berrantes. Foram os mastins da opunião que se publica que atiçaram JEB a comentar como comentou.

Como então referi, perante tanto absurdo e estupidez natural, caindo o Carmo e a Trindade na capital, os talibãs que pugnam para que haja bom futebol, melhor campeonato e com os nossos melhores jogadores em campo preferiam ver Moutinho no estrangeiro a ver um valor nacional nos relvados portugueses. E retomo a ideia porque deve ser enfregada nas ventas desses canalhas com opiniões que são a sua cara, marcam a sua identidade de terrorismo antiportista e expelem o veneno do ressentimento por há muito o FC Porto ter subjugado quer o "desportivo" quer o "recreativo" da capital.

Agora, a horas do regresso de Moutinho a Alvalade, acha-se normal que tenha uma recepção ruidosa, que cada toque na bola mereça um assobio, que cada falta reclame um cartão antes tão perdoado por muitas faltas grosseiras de Moutinho de leão ao peito - como aqui também sempre realcei, que ele era muito faltoso e até maldoso e mesmo violento.

Já Quaresma voltou com o Porto em Alvalade e soltaram-lhe os cães. Mas, Quaresma não saiu de Alvalade para o Dragão, foi para o Barcelona e por acaso o FC Porto pegou nele, reabilitou-o, quando o Barça quis largá-lo. Mais uma vez, nenhum crime, mas foi apontado o dedo e ainda ontem ouvi falar de Quaresma como tendo saído do Sporting para o Porto, quando não é verdade.


Ainda bem que, agora, dá-se menos "importância" a Varela, recuperado para jogar em Alvalade. Podiam criar um "caso" com ele, mas têm vergonha porque rejeitaram-no, empandeiraram-no para o cu da Andaluzia e nem no regresso à Amadora o avaliaram correctamente.



Curiosamente, se há clubes que se entendem, entre os três grandes, quanto a troca de jogadores são o Sporting e o Porto. Nos anos 90 vários nomes trocaram, sem miasmas, de camisola. Mais ou menos bem sucedidos, mais ou menos bem formados numa casa e bem recebidos na outra casa. Sem problemas.

Só falta os talibãs dizerem que a "culpa" é do Porto. Porque o Porto "começou". Tem-se falado de Futre. Mas a captura de Futre, que o Sporting (Toshack) quis desaproveitar cedendo-o à Académica, foi a resposta do Porto à saída dupla de Sousa e Pacheco para Alvalade. Estes ainda jogaram a final da Taça das Taças em Basileia e o Euro-84 como portistas. E tiveram a sorte de voltarem ao Porto a tempo de serem campeões europeus em 1987 com Futre, a enorme ironia para ambos e para todos.

E não, não é verdade que os jogadores tenham fatalmente de ser assobiados. Paulo Pereira mudou-se das Antas para a Luz e não foi assobiado. Postiga mudou-se do Dragão para Alvalade e não foi assobiado. Timofte marcou um golo pelo Boavista nas Antas onde foi rei e senhor de azul e branco e não foi assobiado, foi aplaudido e no ano seguinte voltaria a marcar um golão do meio-campo na primeira vitória dos axadrezados nas Antas em 1998.

Gomes foi assobiado nas Antas quando saiu, em fim de contrato, para Alvalade, mas porque no final do primeiro Porto-Sporting com ele do lado dos leões quis oferecer a sua camisola, que ninguém pediu em cartazes como hoje se vê, ao "Tribunal" que se enfureceu.

Rui Águas foi assobiado na Luz quando lá chegou pelo FC Porto, mas quando voltou ao Benfica e chegou de novo às Antas como adversário não houve mau ambiente, não houve campanhas na Imprensa, não houve apelos a isto e àquilo e mensagens encomendadas e envenenadas.

Lisboa é diferente, pois é... é assim. Pérfida e mal-educada. Julgando-se sempre o centro do Império, tendo o rei na barriga e sem suportar o engrandecimento de algo que lhe fuja do controlo.

Historicamente tem sido esse o problema. Infelizmente, não é só no futebol.


Tenho prognosticado que Moutinho marcará o primeiro golo pelo FC Porto, para suprema ironia, em Alvalade. E acredito que se tal suceder ele irá conter-se nos festejos, irá respeitar o clube onde se formou e não lhe levaria a mal por isso: ao fim e ao cabo, importa-me que marque pelo FC Porto. Será a suprema bofetada de luva com cor à escolha.


Os talibãs é que morreriam ainda mais de remorso, porque só o ressentimento estúpido não chega para tanto.

6 comentários:

  1. Só uma correcção: tanto Sousa como Jaime Pacheco já tinham regressado ao FCPorto em 1987, a tempo de serem campeões europeus em Viena. Aliás Sousa foi inclusivamente titular (jogando com o nº 9, camisola de Gomes que tinha partido a perna num treino duas semanas antes) e Jaime Pacheco fez parte de um grande "bluff" de Artur Jorge, porque se pôs a circular a ideia de que poderia jogar na final e que estava com uma "fome de bola" monstruosa, dado que também ele tinha tido uma grave lesão e por alturas da final estaria, finalmente, a treinar sem limitações.

    ResponderEliminar
  2. Caro Zé Luis
    Uma pequena correcção o Sousa e o Pacheco tinham voltado às Antas quando somos campeões europeus, em 87!

    ResponderEliminar
  3. Em 27 de Maio de 1987, o Sousa e o Jaime Pacheco já tinham regressado ao FCP. Aliás, o Sousa ate´foi titular, jogou com o n.º 9 (a camisola do Gomes que estava lesionado) e disputou os 90 minutos. Suponho que o J. Pacheco também estava lesionado. Há uma imagem que ficou célebre, quando Alexis Ponet, o árbitro, dá o apito final, vê-se no canto da imagem o Sousa a estender os braços freneticamente e a comemorar a conquista da Taça dos Campeões (eu já vi esse final umas dezenasde vezes).

    ResponderEliminar
  4. Obrigado pelo reparo.

    Vou corrigir. Que estúpido fui. Eu sabia que eles estiveram apenas dois anos em Alvalade, precisamente as duas épocas que mediaram entre as finais de Basileia e de Viena. O que pretendia dizer era que foram para Alvalade para nada ganharem e regressaram ao FC Porto para conhecerem outra final europeia.

    Creio que em Alvalade eles tiveram a infelicidade de conhecerem apenas a final do Jamor do very-light, em 1986.

    ResponderEliminar
  5. Final do very-light: Sábado, 18 de Maio de 1996.

    Sousa e JPacheco, jogaram em Alvalade: 1984/1985 e 1985/1986.

    Cumps.

    ResponderEliminar
  6. Quando o Timofte marcou o golo ao Porto do meio campo, nas Antas e pelo Boavista, foi aplaudido, de pé, por todo o estádio. Não somos apenas menos vingativos, reconhecemos a qualidade e o mérito.
    Também aplaudimos o Jorge Andrade, quando jogou contra o Porto, e foi expulso, pelo Corunha.
    Não tenho dúvidas que o Maniche ou o Pedro Mendes seriam aplaudidos no Dragão.

    ResponderEliminar