19 março 2012

40 anos

Não é uma certeza "100%" absoluta, mas depois de ter confirmado pormenores no excelente Almanaque do FC Porto, praticamente não tenho dúvidas nas minhas anteriores suspeitas de qual foi o meu primeiro jogo nas Antas. À 23ª jornada, a 19 de Março de 1972, no tempo do futebol aos domingos à tarde embora esse dia tenha sido de chuva e céu cinzento escuro, assisti ao FC Porto-V. Guimarães. Faltava-me confirmar a data, o que o livro do Rui Miguel Tovar me fornece e tirar dali também a limpo que foi "esse jogo" da minha estreia, com pouco mais de 10 anos.
As dúvidas que eu tinha prendiam-se com coisas que a distância no tempo, e a juventude de então e pouca informação disponível, contribuía para não ter certezas. Nesse ano, a 29 de Outubro, também o FC Porto perdeu 1-2 em casa com os vimaranenses. Só que no que eu vi primeiro o FC Porto inaugurou o marcador (Flávio) e os minhotos deram a volta na 2ª parte com bis de Jorge Gonçalves. Todos os golos na mesma baliza, a do topo norte que eu vi ao longe, atrás da outra baliza no topo sul. Meses depois, Jorge Gonçalves voltaria a marcar e o Guimarães ganhou 2-1 com Valdemar a amenizar o marcador. Mas a memória que me ficou foi do primeiro jogo e passei a seguir com regularidade o FC Porto só no início da época seguinte, 72-73, marcada também por uma derrota com o Sporting, golo de Yazalde só a empurrar a bola na pequena área à frente dos meus olhos, atrás da baliza do topo sul, numa tarde de sol em Setembro, um 11 de Setembro que também não me fez abalar o gosto pelo azul-e-branco em tempos pouco entusiasmantes para se ser portista. Vi depois Pavão cair fulminado no relvado, a 16/12/1973, frente ao V. Setúbal, numa tarde também cinzenta e de chuva, quando não se interrompia jogos por nada como agora sucedeu na FA Cup...
Apenas me chegaram ecos, e algumas imagens na tv, dos quatro golos de Lemos em Janeiro de 71, ao Benfica. Quando todos passaram a querer ser o Lemos nos jogos de bola de plástico na escola primária. Eram épocas, porém, e foram cinco, em que o Porto não ganhava o 1º jogo do campeonato (1 empate e quatro derrotas), até quebrar o enguiço na estreia que eu vi de Gomes a fazer dois golos à CUF (2-1), em 1974-75.
A minha primeira experiência nas Antas não correu bem, até pela molha, e a época não acabaria sem ouvir o relato de 6-0 do Benfica ao Porto na semifinal da Taça de Portugal, em Abril de 72. Era fácil ser do Benfica, mesmo no Porto e na escola, enquanto em 71-72 passavam três treinadores pelo banco portista, Feliciano o último, uma semana antes da minha estreia, levando o antigo central do Belém (uma das Torres de Belém) e do FC Porto a equipa portista a triunfar na Académica, a 12 de Março em Coimbra. Uma época em que o V. Setúbal ficou em 2º lugar, a 10 pontos do Benfica, o Sporting em 3º e a CUF em 4º, à frente do FC Porto que em 30 jogos perdeu 10 e só ganhou 13, mesmo assim à frente do V. Guimarães em 6º. Era tão fácil ser do Benfica que na época seguinte os encarnados só empataram duas vezes em 30 jornadas, marcando 101 golos e ganhando um jogo de 3-2 ao FC Porto quando a 15 minutos do fim estava 0-2 para os portistas e na Luz. Um dos dois empates foi nas Antas (2-2) e o outro no Atlético (0-0), para o último tricampeonato do Benfica que o Sporting interrompeu (1973-74) como fazia a cada quatro anos.

O FC Porto interromperia o último tri benfiquista mesmo, obtendo o seu bicampeonato em 1978 e 1979.
Contudo, o gosto ficou pelo azul-branco, inabalável. Há coisas que não têm explicação. E com um gosto ainda maior a perdurar ao fim de tanto tempo.
Também à 23ª jornada, mas a 10 de Março de 1974, ainda no tempo da "outra senhora", vi o meu primeiro Porto-Benfica (2-1), decidido por Cubillas que chegara às Antas em finais de Janeiro após uma subscrição de sócios para juntarem 3600 contos à época e resgatarem o genial peruano - dos melhores jogadores e marcadores do México-70 em que o Peru só perdeu com o Brasil nos 1/4 de final do Mundial - do desconhecido e "improvável" Basileia! Vi salvo erro o último golo de Eusébio ao FC Porto, fazendo 1-1 num cabeceamento após pontapé de canto, depois de Abel ter aberto o activo num sprint rumo à baliza sul onde já eu assentava arraiais. Cubillas, seguramente o melhor estrangeiro que passou por Portugal depois talvez de Madjer, marcou em vólei, um pontapé de ressaca ao abrir a 2ª parte, fez há pouco 38 anos, esse um domingo de sol esplendoroso. O despertar do dragão prosseguiria e em 74-75 o FC Porto cumpriu a 1ª volta sem derrotas, ganhando na Luz com um penálti de Cubillas que, a seguir, fez um slalom à Maradona para o FC Porto ganhar no Mar ao Leixões - o descalabro foi depois com três derrotas nas quatro jornadas da viragem do campeonato, uma delas de 0-4 nas Antas com o Belenenses, já era eu um "ferrinho" no topo sul.

Mas não tardei a ver um bicampeonato portista em 78 e 79 antecedidos de uma Taça (1977) com final nas Antas (1-0 ao Braga, golo de Gomes, virado para o "3º anel" e eu sempre e sempre no topo sul praticamente com lugar marcado.
O resto é história, 40 anos dela, os maiores delírios na quebra do jejum e uma regularidade a ombrear com os da capital, até suplantá-los com tenacidade, valentia e perda de alguma vergonha no tal trauma de "passar a ponte". Passamos a ganhar. E nada é como dantes, nem as Antas existem em nenhuma das transformações que se viveram aceleradamente no virar da década de 70: a entrada diferente das equipas (visitantes pelo outro lado do campo, no topo norte), o placard (manual) do totobola a encimar o antigo peão que era uma bancada de madeira e tubagem onde depois se ergueu a arquibancada; depois o afundar do campo, acabando a pista de ciclismo e a pista de cinza para atletismo, com o estádio a crescer enquanto já se corria, em 1987, para a Taça dos Campeões em Viena. Não tenho saudades desses tempos, mas ninguém esquece a primeira vez. Mesmo que, felizmente, tenha vivido muitas vezes a primeira vez na Taça dos Campeões, na Taça Intercontinental, na Taça UEFA e na Supertaça da Europa até ver o FC Porto superar o Benfica em títulos, superar o Benfica nos jogos entre ambos e tornar-se o mais forte clube português, com hegemonia no futebol e uma riqueza extensível às principais modalidades.

Por fim, ao cabo deste tempo todo, querem fazer-me crer que a arbitragem, com mais meios, preparação, educação e tecnologia, está melhor. Não me lembro, e rogo pela ajuda, de algum árbitro de outros tempos negar três e quatro penáltis a uma equipa...

9 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=iA2Hlvf0frI

    Para mim, este foi o primeiro jogo que vi nas Antas, com 6 anos.
    Estádio a abarrotar, lembro-me que era para ficar ao colo da pessoa que me levou, mas o dono do cativo ao lado (era daqueles na parte da bancada central coberta) não apareceu nesse jogo e lá tive uma cadeira de sonho só para mim...

    O resto é história e embora me lembre mais pelos resumos guardados em video do que própriamente pelo que vi ao vivo, só sei que assisti a um dos melhores golos de sempre do Bibota (como ele próprio reconheceu algures numa entrevista recente) e um titulo ganho que haveria de valer uma taça dos campeões europeus na época seguinte!

    POr isso e muito mais, nas peladinhas da escola eu "era o Gomes"!

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  2. Nesse jogo, miguel, pedi licença para chegar mais tarde ao trabalho, sim eu trabalhava às vezes ao domingo. ontava ter aquilo resolvido ao intervalo e na hora de me vir embora.

    Nunca tive tantas dificuldades em sair do estádio, dessa vez estava no topo norte porque pensava ser mais fácil desenrascar-me por ali para sair.

    Furei, furei, furei, suei imenso para escapar à impressionante mole humana que se comprimia. Ainda por cima, salvo erro, estava 1-1 ao intervalo e quando já vinha na rua ouvi na rádio que o Covilhã fez 2-1. Demos a volta, por fim, mas aquele foi um título suadinho até ao fim com uma equipa que desceria de divisão mas que nos ganhou 2-0 na serra!

    Decisivo foi ganhar em Setúbal na ronda anterior com um slalom do Futre. Para mais, o benfas perdia em casa com o Sporting (1-2) e o Porto passou para a frente.

    Mas ainda acabámos folgados na tabela, porque o benfas perdeu o último jogo no Bessa.

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  3. Ah, e a Taça dos Campeões de 1987 depois tive oportunidade de pegar nela em exposição nas Antas - tal como tu na foto mais recente.

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  4. FC Porto 8-3 Farense
    Campeonato Nacional da I Divisão 1986/87 | Campeonato | Jornada 14

    13-12-1986
    Este foi o meu primeiro jogo nas Antas...

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  5. Pedro, lembro-me do jogo pela goleada, acho que o Jorge Andrade marcou 3 ou 4 golos, mas não assisti já nem sei porquê, embora estivesse no Porto, talvez numa festa em família...

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  6. Boas

    1 - Ontem 3 jogadores do olhanense levaram cartões e ficam de fora no próximo jogo.

    2 - Os lampiões vão a Olhão

    3- o apitador foi Vasco Santos do Porto

    Abraços

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  7. o meu primeiro jogo nas antas foi um clássico

    84/85 - FCP 4 - Wrexham 3 :(

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  8. Além do Sérgio Conceição, suspenso cirurgicamente 20 dias para não chegar a esse jogo.

    Nada me admira, esta época de total vigarice com a confusão da mudança da Liga para a FPF da arbitragem e da disciplina. Era assim que o poder da capital queria e é assim que têm.

    Os árbitros do Porto, como venho dizendo há muito, só correm para o mesmo lado, o da promoção que se consegue aos olhos da capital.

    Até já temos o vinho Salazar, depois do slogan que dava o vinho de comer a um milhão de portugueses.

    Este é o Portugal profundo. Melhor: Lisboa no topo e o resto no fundo.

    40 anos depois voltamos ou volto a conhecer algo semelhante, mas já há muito pressentia este regresso ao passado.

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  9. Ze Luis, esse golo do Futre lembro-me tão bem, mais uma vez pelas infinitas vez que vi e revi os resumos em cassetes VHS que ainda guardo... o Mlynarczyk lança a bola com o braço até ao meio campo do Setubal onde Futre recolhe e corre todo o meio campo até fazer golo! Incrivel!

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