Ainda deve ser reconhecido aos portistas como o tenho tratado, afectuosamente, como o Nosso Zé. Por sinal, o Nosso Zé da Europa, o título pelo qual ficou famoso José Travassos, dos Cinco Violinos do Sporting depois de ter integrado uma Selecção da Europa num jogo de homenagem nos anos 40, como era então típico.
Eleito o Melhor Treinador do Ano, pela primeira vez instituído tal prémio a nível oficial pela FIFA e o semanário France Football, José Mário Félix não abriu agora uma porta ímpar. Para muitos abriu-a com a emancipação no Chelsea onde foi bicampão inglês. A tripla consagração com o Inter - a despeito de me ter desagradado como nunca o escondi pelo jogo vergonhoso com o Barcelona na Champions e uma quase inevitável ajuda do português Benquerença na 1ª mão em S. Siro, como também não me esqueço - dá-lhe a justa recompensa com este título.
Ouvi a notícia na rádio do carro, apanhei a Antena Um com emissão especial e senti-me pequeninho. O Nosso Zé, para os portistas, aquele que ergueu o FC Porto e com ele ascendeu ao topo europeu, há muito deixou de ser odiado e maltratado. Desde 2004. Quando deixou as Antas - "Presidente, deixe-me ir embora daqui", gritado de forma lancinante a 31/1/2004 no final de um conturbado Sporting-FC Porto -, Mourinho mreceu a admiração do País. Subitamente, ele que era só do FC Porto, passou a ser do País que, antes, não o queria a ver substituir Scolari numa titubeante Selecção Nacional que se preparava, com a indiferença geral, para o fracasso na estreia do Europeu em solo pátrio.
Hoje senti, cada vez mais, que Mourinho é dos Portugueses, mas não do FC Porto. Só Chelsea para aqui, Inter para ali, Real Madrid para acolá. Ah, falava um tal Capristano que foi dirigente do Benfica que apostou num ex-adjunto de van Gaal (e Robson) no Barcelona. Pois, auguravam-lhe um "grande futuro". Um ex-presidente sadino, Fernando Oliveira, evocou quando, por lhe reconhecerem inatas qualidades, logo meteram o jovem Mourinho a treinar os juniores, sem passar pelos escalões etários inferiores. E, de novo, Capristano, tantos elogios, uma maravilha, um percurso e tal, génio assim e um senhor assado, até parece que o percurso de Mourinho no Benfica nasceu e morreu com o 9º e último jogo disputado pelos encarnados, num derbi com o Sporting (3-0).
Vale a pena não gastar tanto latim em elogios e poupar na memória de 3 vitórias apenas em 9 jogos pelo Benfica. Começou com uma derrota no Bessa, 0-1, passou por um empate em casa com uma equipa mediana qualquer e a primeira vitória foi um escândalo de 1-0 contra o Belenenses, graças ao viseense Isidoro Rodrigues, a 15/10/2000. Um jogo vergonhosamente desequilibrado pela arbitragem na esteira do primeiro triunfo a sério de Mourinho, que depois passaria por levar 3-0 no Marítimo antes de dar 3-0 ao Sporting e desentender-se com o Vilavinho que elegeu Toni como o seu treinador.
Para quem deliberadamente esqueceu que Mourinho conquistou a Europa com o FC Porto em 2004, um ano depois da tripla Campeonato+Taça de Portugal+Taça UEFA inédita entre nós, a que se seguiu a Supertaça na época seguinte e novo campeonato e ainda a Champions... convém recordar o percurso que quiseram enfatizar ouvindo meio mundo como se o Nosso Zé tivesse alguma coisa a ver com o insucesso dos outros.
Pareceu, a espaços, que tinha sido com o Benfica que o agora Zé de todo o Portugal tinha, além de estreado na I Liga portuguesa, conquistado o mundo. E, naquele tempo, parece que remontámos à época bíblica em que é preciso algum evangelho para as pessoas acreditarem, o agora adorado Zé da Europa, o Dourinho actual, como foi massacrado pelos invejosos e truculentos de Lisboa que odiando o FC Porto forçaram Mourinho a desejar sair de Portugal.
O resto... é História.
MESSI. É irónico que de tanto insistirem nos seus, legitimamente, os espanhóis tenham perdido tudo, até Messi superou os colegas Xavi e Iniesta que mais justificavam o "World Player of the Year", especialmente Xavi que eu elegeria. Guardiola e del Bosque perderam para Mourinho. Messi foi a surpresa? Ou a confirmação de que, doravante, vai ser mesmo eleito sempre o melhor do mundo e o troféu fica entregue por muitos e muitos anos porque o argentino é mesmo o melhor do mundo em absoluto?
Também é irónico que foi em Espanha que Portugal se fiou de que organizaria um Mundial... Vai lá vai...
SNEIJDER. Saber que se fosse pela votação dos jornalistas Sneijder teria ganho é de facto um alívio, pois foram então seleccionadores e capitães de equipa que destronaram o flying dutchman do pódio, inexplicavelmente. Esta sim, foi uma martelada mortal. A Bola (ler no post abaixo) surpreendeu-se por CR7 não estar no pódio, mas esta é à maneira portuguesa do "saca-rolhas"...
É esta sensação de descriminação, de ostracismo que fundamentalmente sinto, uma noção de não pertencer a este Mundo...E não sinto, sinceramente, tendes razão, não faço parte desta oleografia.
ResponderEliminarNa verdade eu estou fora desta história, não pertenço a este quadro, esta moldura não me condiciona. Condicionará muitos, não me condiciona a mim.Estou fora!
Zé Luis,
ResponderEliminarO ridiculo destes prémios acenta, especialmente, em que se misturam conceitos e votos que, como se viu à posteriori, são bem diferentes.
Na velha votaçao do Ballon D´Or de jornalistas, Sneijder e Mourinho tinham ganho "sem espinhas" e Messi nem sequer no top 3 acabava. Foram os votos dos capitães e seleccionadores do 3 Mundo que elegeram o argentino e que aproximaram Del Bosque do nosso Zé, que teria certamente já dois ou três prémios destes se existissem nos dias de Sevilla e Gelsenkirchen. É o técnico mais marcante da década e é também simbólico que inaugure um trofeu que voltará a ganhar, como Guardiola, Ferguson, Wenger e companhia.
Quanto aos jogadores, o problema do conceito repete-se. Os jornalistas pensaram em Sneijder, os capitães em Messi e os seleccionadores em Xavi. Iniesta era sempre segundo nas votações porque em 2010 marcou um golo, e ponto. Pena que os Robben, Schweinsteiger, Forlan, Muller e companhia tenham ficado relegados face ao mediatismo do argentino, endiabrado como sempre, mas de longe um dos vencedores mais injustos dos últimos anos.
E quanto aos espanhóis, começa a ter já uma certa piada. 50 anos, nem Gento, nem Butrageño, nem Guardiola, nem Raul, nem Xavi...e nós com 3 troféus (faltou o do Futre em 87)! Deve doer ao ego!
um abraço
Boas
ResponderEliminarNão sei se o Miguel Guedes ou o sr. Rui Moreira lêm este blog.
Espero que sim.
Depois da mensagem de ontem do oportunista do orelhas a felicitar o Mourinho pelo que ele fez, não só neste ano passado, mas ao longo de uma carreira, deviam confrontá-lo se os campeonatos e taças europeias que ele ganhou no FCP estão incluidos ou foram conseguidos apenas graça à "fruta" e aos "polémicos" jogos com o Beira-Mar e o Estrela da Amadora ?
Um abraço
DD,
ResponderEliminarnão podemos ser ingénuos. Muito menos esquecidos. E, não o sendo, convém ter sempre memmória.
Porquê? Porque ainda há dois anos, no máximo, o jornal dos porcos mafiosos publicou uma crónica de uma estúpida a pôr em causa precisamente o triunfo de 2004 na Champions. Primeiro pelo golo anulado ao M.U. em Old Trafford. Depois, suspeitando de fruta para árbitros na eliminatória com o Lyon.
Isso foi escrito e trouxe aqui a coisa. Os benfiquentos encheram a boca das merdas do costume e, como uma praga, a estória espalhou-se.
O que dizem agora esses vermes vermelhos interessa pouco. É irrelevante que achem Mourinho um dos seus, tendo o currículo que tem e aqui evoquei.
Certo é que, como aqui resumi, as coisas estão neste ponto.
Não é que faça muito mal. A gente ri-se, sentimos o Zé como um dos nossos e deixamos os outros apanhar as canas.
Nunca esquecendo o essencial. E toda a História. Porque só a verdade estraga as estórias que querem contar.
Mesmo assim, sinto que para muitos portistas é preciso repisar sempre os factos para nunca se esquecerem deles. Poucos são os aptos ou hábeis para desarticular as artimanhas que os encornados montam.
O Sneijder merecia estar nos 3 mais e inclusive vencer este prémio por tudo o que fez e ganhou na época passada. Foi tão ou mais preponderante que o "nosso Zé".
ResponderEliminarCom a entrega do prémio ao Messi ( sem este ter feito sequer uma alusão aos companheiros de clube) ou muito me engano ou será o fim da tranquilidade no Barça, e quem vai tirar proveito disso será mais uma vez o "nosso Zé".