Conformismo com Bruno Alves?

Bruno Alves despediu-se do Porto a dizer que assim todos ficam contentes. Ele, o ex-clube e o novo clube, decerto o pai e o empresário até talvez os adeptos que acumulavam ressentimentos face a um jogador que será das últimas résteas de ADN do Dragão.

Os 22ME são uma boa maquia que nem se diluem em fundos que absorvem as últimas capitações capazes dos clubes. Veja-se os 20ME a pagar por Ramires, subitamente dissolvidos em metade porque 50% do passe do jogador pertence a um fundo que por isso pagou 6 ou 7ME e de repente, sem muito arriscar, tem um lucro de 50% precisamente...

Há quem ache isto normal, na furiosa marcha consumismo do mercado que, neste aspecto, apenas é regulado quando as instituições pensam nas soluções para reduzir as delapidações. Não há muita reflexão sobre isto, mas o facto de a regulamentação inglesa proibir terceiras partes num negócio, no caso os fundos que detêm percentagens dos passes dos jogadores, já é um começo. Por isso o negócio Ramires, mais um mal rendibilizado no Benfica depois do de di Maria, demorou até a questão de uma empresa à margem dos clubes ser resolvida e o jogador passar do Benfica para o Chelsea.

Se os mecanismos em que assenta o mercado devia merecer reflexão, a saída de Bruno Alves mereceria dos adeptos portistas outra atenção para além de agradecerem os seus serviços e desejarem boa sorte. Porque o jogador merece mais do que isso e a fragilidade negocial da SAD fica exposta ao vender um jogador fulcral para o qual não há substituto natural nem em vista para comprar. Como o dinheiro não é tudo, é curioso que ainda não foi exposto o estendal de protestos habituais na bluegosfera e sentido furiosamente noutras vendas. Com Quaresma, Lucho, Lisandro, Cissokho e por aí fora o FC Porto estava numa posição dominante, no campo, e pujante financeiramente, com participações constantes na Champions que até desobrigariam, de alguma forma, de vender jogadores tão valisosos quanto fundamentais na equipa.

Se na era das vacas gordas ainda percebi e aceitava o negócio, pela força do mercado, já agora é menos compreensível. Aliás, na compra de João Moutinho, e como só a antevia como preliminar à venda obrigatória e porventura já negociada de Raul Meireles, admiti que, ainda bem, Bruno Alves poderia ficar. Meireles renderia os 20ME aproximadamente que o FC Porto "gosta" de obter em mais-valias em cada Verão. Mas Meireles fica, para já, e se sair nem deve ser para o Chelsea que se serve de Ramires precisamente. E com Meireles está Moutinho e 11ME gastos de momento sem justificação.

A perda de Bruno Alves não é irreparável, por não haver indiscutíveis em lugar algum, mas o encaixe de 22ME não é tão proveitoso na medida do desfalque defensivo que os jogos de pré-época evidenciaram. Pode-se equilibrar a tesouraria, mas com perda do equilíbrio competitivo e sem um substituto natural à vista para Bruno Alves.

Habituados a comentarem glórias, vitórias e negócios chorudos com a equipa em alta, alguns adeptos contestavam desabridamente e agora não se fazem ouvir da mesma forma num momento com a equipa menos confiante, menos ganhadora e com um "entorno" menos positivo até pelo mutismo da SAD que se fica pelos formais comunicados à CMVM que, inexplicavelmente, em muitas das compras não se consumam sabe-se lá porquê.

Cá estou eu a servir de contraponto a uma tendência de conformismo que não acompanho, da mesma forma que, agora, lamento ainda mais a despedida de Bruno Alves do Porto pelo que escrevi no rescaldo da final do Jamor: onde o jogador teve cartões amarelos imerecidos que levaram à sua expulsão e foi permitido ao Chaves um golo irregular que nem os adeptos portistas quiseram contestar a não ser juntar-se aos comentários alheios, estranhos e imbecis dos que quiseram crucificar como um erro do central e capitão portista.

De repente, lembro-me de Quaresma que também já não era bem visto pelo Dragão, onde é costume pedir gratidão aos jogadores a quem o público afecto acaba a maltratar, partilhando do aconchego dos milhões encaixados com uma palmada nas costas tão cínica quanto o cinismo amiúde atirado à política da SAD que dizem os contestatários equilibra as contas mas desbarata o capital competitivo da equipa.