10 agosto 2010

Da primeira vitória de Mourinho a Villas-Boas


Os bacocos cá da paróquia entretêm-se a sugar os significados do que diz Mourinho e a trespassar o que poderá ter dito nas entrelinhas. Só os dementes, invariavelmente derivados dos enlouquecidos pela aura do famoso treinador quando estava e era odiado ao serviço do FC Porto, embarcam em fantasias que permitam sustentar, doentiamente, a antipatia pelos dragões - encíclica religiosamente apregoada em sentidos directos ou indirectos na análise transversal ao fenómeno da bola tuga. Entretanto, como se lhes fizesse bem ao ego, desanuviando a sua pobre cabecinha tão cheia de areia quando o criticavam de dragão ao peito, quem embarca nesta onda pacóvia de mesmice e endeusamento de Mourinho, do que nos rimos ou alarvemente ou com ironia e desprezo desta maioria de invertebrados sempre ziguezagueantes e rastejantes nas coisas da bola, continua a revelar a inelutável pobreza de espírito e incapacidade crítica e de memória.
Alegadamente viram numas declarações de Mourinho sobre Villas-Boas um apoucar das qualidades do novo técnico portista. Admito que possa ter ficado algum malentendido quando Villas-Boas decidiu seguir o seu caminho e abandonar a equipa técnica que Mourinho levou, desde o Dragão, para Chelsea e o Inter de Milão. O próprio Mourinho, a quem ainda não convence esta onda eufórica e de quase unanimidade à sua volta, chegou a dizer estar farto da Imprensa portuguesa, por não lhe querer bem, disse que iam vê-lo à "espera de sangue" (um potencial despedimento em Itália) e disse, também, que lhe era indiferente falar para os media portugueses, reservando para a Imprensa estrangeira as suas "pérolas". Estes são os factos.

A fantasia durou pouco na sua recente entrevista que alguns quiseram ler como marcante ou polémica no Rascord. A verdade é que não disse nada de novo, mais uma vez, aproveitando-se para explorar, comercialmente, a capacidade do Benfica na Champions. Ao dizer que o "Benfica luta pela Champions" tanto pode ser que é candidato na prova máxima europeia, que vai disputar, o que nos faz rir a todos, como impõe o Benfica como candidato, pela Liga portuguesa, a conquistar em 2011-2012 um novo lugar na Champions, como campeão ou como 2º classificado via play-off. A verdade é que Mourinho não explicou, a questão ficou em aberto e abrangente e lá a mesmice nacional achou que Mourinho dava alento às aspirações do treinador do fair-play da treta e dos títulos na Playstation e do presidente bronco da instituição.
Depois percebeu-se um ataque, que seria despropositado se não se lhe colar a dose de inveja que Mourinho, humanamente, tem em corpo, mente e habilidade para carregar, a Villas-Boas, como se este não tivesse lastro para treinar o FC Porto. Ficou no ar a questão de quantos jogos no banco são precisos para alguém treinar o FC Porto. Não bastam já os epítetos da idade e do "comer muita massa", adequados a Jesualdo por exemplo. Não bastam também os clubes onde se treinou, pois Fernando Santos saltou do modesto E. Amadora para "engenheiro do penta" que, com esse rótulo, e só por um título, parece perdurar mais do que os que ganharam dois seguidos, como Robson ou António Oliveira. O próprio Mourinho, helàs, jovem e vindo do modesto Leiria, teve no FC Porto a rampa de lançamento que nem jovens, como Paulo Bento ou estrangeiros como Autuori, nem mais credenciados e respeitados pela antiguidade, de Manuel José a Camacho, tiveram nos clubes rivais, o recreativo e o desportivo, de Lisboa.
Mourinho sabe ser mordaz e é perspicaz, o que lhe vale o domínio dos contactos com a Imprensa em geral. Quanto a atribuir-lhe intenções, tivemos o caso da camisola rasgada e do alegado desejo de ver alguém morrer no Sporting cujo pobre roupeiro teria propagado nos balneários de Alvalade, a que não faltaram os jornalistas do regime para acreditar que sim, tinha dito e tinha rasgado a camisola, como abundaram as primeiras páginas com o castigo a Mourinho pelos factos mas omitiram a sentença de ilibado saída do recurso.
Quiseram atribuir-lhe intenções malévolas no confronto com Villas-Boas e pôs-se a questão de saber quantos jogos teria feito Mourinho antes de chegar ao FC Porto. Não se perguntou quantos fez antes de chegar ao Benfica, o seu primeiro clube em Portugal depois de anos como adjunto de Robson nas Antas e no Barcelona e mais um tirocínio longo com van Gaal no Camp Nou. Não procuro a retaliação a que muitos confrades portistas chegaram de vituperar o que Mourinho disse sobre Villas-Boas nas entrelinhas, nem sei se a Imprensa explorou a carga de jogos na carreira de cada um até chegarem ao FC Porto. O FC Porto, note-se, sempre no topo da discussão, porque é a referência nacional que todos procuram sem excepção e a que não negam quando podem rejeitando outras ofertas. Nem Jesus o negaria três vezes, não fosse o compromisso com Vieira para mudar-se de Braga para a Luz, ao que contam.
Villas-Boas, estranhamente, parecia no centro das preocupações de Mourinho, pela interpretação dada às suas palavras e um desconforto reforçado pela constatação de, afinal, ter feito praticamente os mesmos jogos (30-29) que Mourinho fez antes de trabalhar no FC Porto como técnico principal. Veio ainda a terreiro a questão do clone que o novo treinador do FC Porto diz já ter desmistificado antes de chegar ao Dragão, quando começou a trabalhar na Académica em Novembro passado.
Temos, entretanto, Villas-Boas como vencedor da Supertaça e logo ante o Benfica, o terceiro treinador mais jovem a vencer um troféu, antecedido por um da Académica em 1939 e Oliveira então treinador-jogador no Sporting em 1982. De resto, o treinador portista, sócio de há longos anos, demarcou-se quer do currículo anterior necessário para chegar ao FC Porto, comparado com Mourinho, desvalorizando os números e ridicularizando a questão ao ponto de presumir ser mais do que apenas um jogo de diferença, quer até, como frisou, em termos de carácter. Ele é diferente de Mourinho. Todos somos diferentes uns dos outros e Villas-Boas tem pautado as suas aparições e declarações públicas, no palco mediático, por grande frontalidade, verdade e à-vontade, sem crispação, que parece um sénior!
Villas-Boas ganhou o seu primeiro jogo em Portugal num Académica-Portimonense (2-1) para a Taça de Portugal, a sua estreia. Se a querela pretensamente aberta por Mourinho, como a quiseram explorar incluindo alguns adeptos portistas mais reactivos do que cerebrais e estudiosos, podia estender-se a este ponto, poderemos lembrar que a estreia de Mourinho em Portugal foi uma derrota no Bessa, com um golo de calcanhar logo aos 2' que ditou a derrota do Benfica. Um título de jornal, a decalcar a conversa dos clones muito antes do tempo actual de se falar deles, falava até da sebenta de Mourinho vir de... van Gaal.

A primeira vitória de Mourinho em Portugal foi num Benfica-Belenenses. E que jogo. Na minha lista, já publicada aqui, dos maiores roubos, o 3º, de arbitragem no campeonato nacional e a um nível de exposição pública garantida para todos os clubes pelas transmissões televisivas aí desde 1990, com benefício escabroso para o Benfica. Foi 1-0, Isidoro Rodrigues, bonacheirão de Viseu, a trucidar o Belenenses em todos os capítulos: negando-lhe um golo (Enke chutou contra um adversário e a bola entrou na sua baliza sem falta), validando um do Benfica (Marchena, de livre indirecto por alegado atraso de bola ao g.r. que na outra área negou ao Belenenses) e umas tantas tropelias (penálti transformado em livre fora da área contra o Benfica) que os estudiosos do "sistema" proclamado à boca cheia fazem por esquecer. Mas foi mesmo assim, a 15/10/2000, tinha o Benfica empatado 2-2 com o Braga na Luz após a derrota no Bessa seguida à demissão de Heynckes.

Ainda de Mourinho li um título que os bacocos, os desmiolados, os pategos acham ser novidade ou notável, elogiando a capacidade de trabalho de Cristiano Ronaldo e em que este treinaria à altura do estatuto de estrela que tem, quando poderia supor-se o contrário. Exactamente o mesmo, quase nas mesmas palavras, e não há muito mais de dois anos, disse de Cristiano Ronaldo, por ocasião do seu "World Player of the Year" em 2008, o treinador Carlos Queiroz que com ele trabalhava no M. United e certificava a validade do trabalho individual do jogador português da moda.
Mas no país da mesmice, da igualdade, do pensamento único, dos lugares-comuns salvo se não for um predestinado a dizê-los, é assim mesmo. Porque a Imprensa do regime e a verdade que querem oficial e exclusiva acha que deve comunicar assim com o povo ignaro que se limita a ler os títulos dos jornais no corre-corre dos telejornais que contam tudo e não informam nada.

2 comentários:

  1. Espero que a competencia e a forma de estar (conferencia de emprensa) de AVB no jogo da supertaça se mantenham, para definitivamente calar os mal-dizentes compulsivos da CS.

    Um abraço

    http://fcportonoticias-dodragao.blogspot.com/

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